30ª Mostra Internacional de SP

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Sábado, 21 de outubro de 2006, 10h00 

Mostra: diretor de Madame Satã fala sobre novo filme

Danilo Lima
Divulgação

Personagens de O Céu de Suely são baseados em pessoas reais
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Karim Aïnouz fez sucesso nos cinemas em 2002, quando lançou o polêmico Madame Satã no circuito nacional. Com posição de destaque no cinema brasileiro, a cobrança ficou ainda maior para o diretor, que lança O Céu de Suely na Mostra Internacional de São Paulo este ano.

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O filme já tinha estreado no Festival de Veneza em setembro e ganhou o prêmio principal do Festival do Rio. A trama mostra a trajetória de uma mulher que sai de São Paulo com o filho e volta para a cidade natal, no interior do Ceará, onde busca "libertar" seus desejos.

Apaixonado, o diretor fala de sua obra e explica a escolha do tema. "É uma coisa circular de alguém que encontra um lugar novo, o que é muito atual. É um fenômeno muito mais contemporâneo do que o cara que vai embora e nunca volta."

Confira a entrevista exclusiva com o diretor:

Com o sucesso de Madame Satã, naturalmente nasceu uma cobrança em torno de O Céu de Suely. Você pensou nesta "responsabilidade" de não decepcionar seu público ao filmar?
Não, eu esqueci completamente de Madame Satã com O Céu de Suely. Eu não prestei atenção porque eu ia fazer um filme inteiro baseado nisso. Eu quis ter liberdade, como diretor não dá para ficar em um mesmo assunto. São filmes diferentes.

Há quanto tempo o filme está pronto e quantos dias duraram as filmagens?
O filme está pronto há pouquíssimo tempo. A estréia mundial de O Céu de Suely foi no Festival de Veneza no dia 3 de setembro. Nós finalizamos o material apenas no dia 25 de agosto, o que nos deixou um pouco assustados. Foi como 'Nem conhecemos este filme. Como ele vai estrear?'. (risos)

Ao contrário de alguns filmes do gênero, a protagonista de O Céu de Suely busca um caminho oposto para a própria libertação. Ela vai da capital para o Ceará, em um lugar menos povoado e com poucas opções. Essa diferença na 'estrutura' do roteiro é proposital? Tem algum significado específico?
Sim, tem algumas coisas que eu posso ressaltar. Eu fiz um filme no interior há uns anos e tinha um personagem que era baseado em um cara que foi e voltou. E mais interessante ainda, tinha um outro cara que foi para São Paulo, voltou para o interior, foi, voltou, foi, voltou. É uma coisa circular de alguém que encontra um lugar novo, o que é muito atual. É um fenômeno muito mais contemporâneo do que o cara que vai embora e nunca volta. É uma coisa bonita, muito triste, mas poeticamente bonito.

Então este filme foi baseado em personagens reais?
Sim, completamente. Foram personagens reais, histórias reais e elementos reais. Eu tentei fazer cenas que não eram ensaiadas e eu usei muito essa 'brincadeira' de se alimentar da realidade. Até nos nomes dos atores eu fiz questão de passar essa mensagem.

Como os atores reagiram ao saber que seus personagens teriam os mesmos nomes da vida real?
Eu acho que eles ficaram um pouco assustados porque indiretamente isso é um seqüestro. É como se eu falasse que existem coisas pessoais que me interessavam em cada um deles. Inicialmente, eles ficaram abalados. Isso aconteceu porque é remanescente do meu desejo de pensar em um personagem como uma coisa não idealizada, algo mais próximo da realidade.

Com toda essa nostalgia do interior, você aproveitou para colocar experiências pessoais no seu filme?
Claro que eu coloco, o tempo inteiro. Isso sempre me dá prazer, mas eu tomo cuidado para não virar uma coisa autobiográfica. Eu acho que no cinema, quando ele não é encomendado ou industrial, sempre existe essa atitude de transpor as próprias vivências. Pensando bem, até no cinema de Hollywood existe isso. Um Missão Impossível 3 deve ter coisas que interessam ao diretor.

Diante de tanta espera, qual a sua expectativa para o filme quando ele estrear no circuito comercial?
Eu queria que o filme fosse uma brisa que passasse pelas pessoas. Algo como uma viagem que emociona. Quando você vai pra sala de cinema e sonha um pouco. O Céu de Suely é um passeio de carrossel. Claro, que a gente sempre tem aquela expectativa que ele vire um sucesso e fique na boca das pessoas, mas acho que ele combina mais com as salas pequenas, com o circuito alternativo de cinema.

Você já participou de vários festivais nacionais e internacionais. Com a mudança de países e espectadores, mudam as impressões?
Mudam sim, de acordo com a nacionalidade. Eu acho que no Festival de Veneza, por exemplo, existe a fascinação pela cultura latina. As próprias perguntas que se faziam tinham relação com a diferença feminina, os direitos das mulheres, pelo fato delas serem muito corajosas nos filmes. Já no Festival de Toronto, as perguntas eram mais analíticas, eles queriam saber como é o Brasil, o que se faz. Eles conhecem menos e isso é natural.

Tanto O Céu de Suely quanto Madame Satã falam, diretamente, do sentimento de libertação. Por que essa motivação em torno do tema?
Eu acho que é um desejo meu de passar isso pra tela. São personagens que assumem a felicidade, têm um desejo em comum. Acho que a melhor palavra para defini-los é libertário. Como: 'Eu sou assim. Se você não gosta do jeito que eu sou é um problema'.

Na época de Madame Satã, houve um rumor de que as pessoas de Cannes abandonaram o cinema pelas fortes cenas de sexo. Isso aconteceu ou foi apenas lenda?
Aconteceu sim, foi meio louco (Risos). O mais curioso é que foi na exibição dos jornalistas. Eu não estava, é muito incomum diretor ir na exibição da imprensa, mas foi realmente engraçado. As pessoas tiveram um mal-estar depois das cenas e saíram. Na minha opinião, isso é necessário, você tocar, causar uma reação.

Redação Terra