32ª Mostra Internacional de SP

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32ª Mostra Internacional de SP

Sexta, 17 de outubro de 2008, 22h11 Atualizada às 22h20

Diretor de 'Terra Vermelha' quer brasileiros na luta pelos caiowás

Orlando Margarido
Direto de São Paulo

O Terra já havia conversado com Marco Bechis no último Festival de Veneza, onde Terra Vermelha concorreu na competição oficial sob o nome original de Birdwatchers.

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Na ocasião, a expectativa do cineasta nascido no Chile e criado na Itália era pela leitura dos europeus - entenda-se a imprensa de vários países e o público restrito que tem acesso à mostra - quanto à história atual dos índios guaranis-caiowás que tentam reaver suas terras no Mato Grosso do Sul.

A recepção da crítica, especialmente a européia, foi boa, mas mesmo assim a fita saiu de Veneza sem prêmios. Agora, sentado numa sala de entrevistas da 32ª Mostra Internacional de Cinema, cuja abertura oficial aconteceu na quinta-feira com o filme, Bechis espera sensibilizar a platéia brasileira para a questão.

Otimista, acredita que o problema enfrentado pela tribo é conhecido pelos espectadores daqui. A ponto de ter retirado das cópias brasileiras o texto que ao final explica a situação dos índios. "Acho que esse é um acerto de contas que tem de ser feito entre os brasileiros", diz. "Um europeu não pode ir chegando e mostrando o que precisaria ser feito; agora, se vocês não sabem o que se passa lá deveriam prestar mais atenção, estudar".

O cineasta concedeu entrevista rodeado por cinco representantes cayowás, todos presentes no elenco do filme, no qual interpretam a si mesmos. Na história, com roteiro de Bechis em parceria com o paulistano Luiz Bolognesi, um grupo da tribo decide se instalar em suas antigas terras quando alguns integrantes aparecem mortos.

Não são mortes naturais. Um dos aspectos verídicos da trama, de base ficcional, é o suicídio constante de jovens cayowás, dimensão explorada pelo filme quase em tom sobrenatural e sem procurar dar justificativas. "Uma das muitas possibilidades é a falta de perspectivas para os nossos garotos e garotas", diz o índio Ambrósio. "Mas já houve caso que também poderia ser pela negativa de uma jovem a um pedido de casamento; não há uma explicação única", emenda Bechis.

Mas o confronto fundamental na fita se dá na questão das terras dos índios que passaram às mãos de um fazendeiro (Leonardo Medeiros) e sua plantação de soja ou cana-de-açúcar. Sem um lugar para se estabelecer e reviver sua cultura um tanto desgastada, eles convivem nos limites entre a propriedade agora privada, os assentamentos que não lhes servem e a estrada, onde muitas vezes ficam à mercê de bicos, como os oferecidos por um comerciante oportunista (Matheus Nachtergaele).

Com elenco brasileiro e italiano, a fita ganha valor mesmo é com a presença dos índios, num entrosamento raro de ser visto na tela. Bechis trabalhou com eles no registro naturalista, mas pediu-lhes para atuar com poucas palavras e muito silêncio. Para tanto exibiu aos protagonistas Era uma Vez no Oeste, de Sérgio Leone, e Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, como exemplo da importância dos silêncios. De Bolognesi, Bechis ganhou uma cópia de Iracema ¿ Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodansky (pai de Laís Bodansky, mulher do roteirista) e se encantou. "É um dos melhores filmes brasileiros que já vi".

Quanto à provável injustiça de Veneza de não reconhecer Terra Vermelha, Bechis parece conformado. "Quando se tem um júri com cabeças tão diversas como aquele não é possível saber o que se passou", diz. "Mas fico feliz se o meu filme servir para um esclarecimento, um aviso, pois os descobridores europeus não costumavam dizer que não existia ninguém no continente sul-americano quando eles chegaram?".

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