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Cripta diz que pixador não pode ser pago para pixar a rua

25 out 2009 - 11h22
(atualizado em 8/8/2018 às 09h46)
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Djan Ivson Silva, de 25 anos, mais conhecido como Cripta, começou na rua acompanhando um grupo de pixadores da Pompéia, zona oeste da cidade. Ali, ele já filmava seus roles. Isso começou quando, em 2004, Djan arrumou uma câmera e iniciou seu próprio acervo.

"Cheguei a fazer uma exibição de um dos meus filmes em uma casa noturna em Osasco e a coisa foi andando, continuei gravando. E isso serviu de motivação pra eu continuar no pixo, senão teria parado antes", revelou. De 2006 para cá, Djan já lançou nove vídeos e aproximadamente 70% das cenas de PIXO, filme assinado por João Wainer e Roberto Oliveira, vieram de seu acervo.

O resultado desta parceria pixador-fotógrafo-produtor são estas cenas impressionantes de um filme intrigante, revelador e, quiçá, pioneiro em apontar a pixação como arte contemporânea. Mas isso o tempo -e cada um de nós- irá dizer.

Qual foi sua reação quando soube do convite para ir até Paris?

Primeiro de frustração, pois era impossível eu ir pra lá por causa de um 121, um processo judicial de condenação de vandalismo. Lamentei muito, porque quando fui tentar tirar o passaporte vi que tinha 96 horas de trabalho comunitário para cumprir. Mas aí, comecei a luta, fui orientado por um advogado, cumpri essa pena em 10 dias, paguei multa, fui inocentado em outra audiência e no outro dia embarquei para Paris. Tudo muito rápido, só caiu a ficha quando estava dentro do avião.

Para você, pixação é arte?

Sem dúvida que sim. Mas vai além, porque o pixador além de ser um artista protestante, faz isso sem pretensão financeira e coloca a vida dele em risco por um simples rabisco.

Você, que nunca tinha viajado de avião e nem saído do País, como se sentiu em Paris, sendo aclamado na Fundação Cartier?

Eu estava muito feliz. Na verdade, eu estava preparado para isso, sabia que se um dia, se eu pudesse representar a pixação de São Paulo em algum lugar do mundo eu ia representar mesmo e dar conta do recado.

O que leva os jovens a começarem a pixar? Com qual idade isso acontece?

Eu comecei aos 12 anos, em 1996. Com a falta de laser nas periferias de SP, a pixação acaba sendo uma espécie de esporte, de entretenimento, o pixador passa a ser reconhecido, é um jeito de se auto-afirmar na quebrada. É isso que leva o meleque a pixar, tá ligado?

Eu chutaria que tem mais de 5 mil pixadores ativos em SP. Pelo Orkut tem comunidade com mais de 10 mil membros, mas ativos devem ser uns 5 mil. Agora, quem "arregaça" e faz a diferença mesmo na cidade é um grupo menor, uns 100 caras se muito.

A pixação é um movimento exclusivo da periferia?

Pode ter um ou outro grupo de classe média, mas não chega a ter playboy na pixação. Cê não vai achar pixador de Alphaville, dos Jardins, não vai ter. Hoje a pixação ganhou outras proporções, disputa de gangue, treta de favela, tem um ou outro que você escuta falar que é mais boy e tal, mas é muito raro mesmo.

Qual futuro você vê para a pixação?

Espero que ela sirva como instrumento de revolução, resgatando as raízes da pixação, que surgiu na época da ditadura. Acho que ela deve reivindicar o que não ta legal na quebrada, tem que colocar o sistema contra a parede mesmo. E a idéia de auto-afirmação não se perde, porque o pixador assina depois, coloca aqui a marca dele também.

Você filma suas saídas para pixar há quanto tempo?

Em 2001 foi lançado um vídeo (Pixadores em Ação), um esquema bem informal, fitas VHS que eram vendidas no centro. Esse vídeo foi febre entre os pixadores, esgotou rapidinho. Aí, uns amigos começaram a filmar entre eles e eu participei das gravações. Na mesma época eu estava saindo mais para pixar, e em 2004 eu comecei esse projeto, consegui uma câmera e dei continuidade. Fiz um lançamento numa casa noturna em Osasco e a coisa foi andando, deu no que deu.

Se a essência do pixo está na trangressão, faz sentido ser convidado a pixar uma galeria?

Sem dúvida, a transgressão e a auto-promoção são os principais para um pixador. No caso específico daquela exposição, a proposta era uma releitura da arte de rua, então fazia sentido eu estar ali. Se o pixador é convidado para fazer uma parede de galeria pela fama dele que ele conquistou na rua, é super valido! Sou contra um artista plástico ou grafiteiro se apropriar da estética do pixo na sua arte. Isso eu sou contra. Da mesma forma não faz sentido um pixador de galeria que não tem experiência de rua.

Mas o pixador ser pago para pixar, faz sentido?

Depende do local, se for pra decorar uma casa de madame, acho super válido, sim. Mas só se for dentro de um local fechado. O que eu não toparia era ser pago pra pixar na rua. Ai não dá, porque a rua é o local de legitimação do pixador. E foi aí que o grafite errou. Enquanto o grafite estava em galerias, ou nos apartamentos, tudo bem. Mas quando começaram a pintar na rua mediante autorização... Se a gente perder isso acabou! Se o cara ta pintando na rua pra ganhar dinheiro acabou! Morreu o espírito marginal.

Fonte: Especial para Terra
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