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Adaptação da obra de Jorge Amado, "O Duelo" traz atuação inédita de José Wilker

18 mar 2015 - 16h23
(atualizado às 16h24)
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O grande chamariz de "O Duelo" (2015) é o fato de o trabalho mais recente do cineasta Marcos Jorge trazer uma das últimas atuações de José Wilker. O ator, falecido em abril de 2014, teve uma extensa e memorável carreira na televisão e no cinema, com mais de 50 filmes.

José Wilker em cena do filme "O Duelo".
José Wilker em cena do filme "O Duelo".
Foto: Divulgação 18 / Reuters

Além deste, ainda restam os lançamentos de dois longas que contam com a participação dele: “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (2011), exibido no Festival do Rio de 2011 e ainda inédito em circuito comercial, e a animação “Nautilus” (2014), que teve a sua estreia adiada no ano passado, sem previsão de nova data.

Além de Wilker ser o coprotagonista junto ao português Joaquim de Almeida --tentando diminuir o seu sotaque ao máximo--, é a sua entrada que dá fôlego a esta adaptação de Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado.

O romance foi publicado originalmente em 1961, com o nome “A Completa Verdade Sobre As Discutidas Aventuras Do Comandante Vasco Moscoso De Aragão, Capitão De Longo Curso”, dentro do volume “Os Velhos Marinheiros” (junto com a novela “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”). E, como o título completo entrega, a trama gira em torno da dúvida sobre a veracidade do personagem principal.

O primeiro ato mostra a chegada de Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida) à vila de Periperi, não apresentada aqui como a estância do litoral baiano, em plena década de 1920, como no livro, e sim um lugarejo de uma região não especificada, em um passado indefinido, mas que guarda semelhanças com o presente.

Foi uma opção do diretor para diminuir a “baianidade” de Amado e tornar sua obra mais universal e atemporal. No entanto, mantém-se o encanto dos habitantes do local pelas histórias do recém-chegado, que se identifica como um capitão de longo curso.

As aventuras dele fascinam a todos, gerando ciúme, inveja e desconfiança no cidadão que antes era o mais célebre de Periperi, o doutor Chico Pacheco (José Wilker), quando este retorna ao lugar.

Logo, ele o investiga e conta ao povo o que diz ter descoberto sobre o tal comandante, o que, consequentemente, detona de vez o duelo oral entre esses dois famosos tipos locais. Por isso, a entrada de Wilker, esbanjando ironia em seu personagem, põe fogo em uma trama que parecia até então muito morna.

Por outro lado, o foco nos dois gera certo ofuscamento do resto do elenco, especialmente o feminino, que aparece mais durante as narrativas da vida pregressa de Vasco.

Tainá Müller é Dorothy, a grande paixão de Aragãozinho, em três versões diferentes, dependendo da narração, tal como ocorre com Claudia Raia e a sua Carol, fazendo delas participações especiais. A exceção é Patrícia Pillar como Clotilde, o novo interesse romântico dele, que se destaca mais no segmento final, quando as habilidades do comandante são colocadas à prova.

A produção tem como mérito inovar em gênero e tecnologia, já que aposta na fantasia, mais escassa no realismo que domina o cinema nacional, e investe nos efeitos especiais --são mais de 160 cenas com utilização de CG.

O uso desse recurso nem sempre é bem trabalhado, como em uma elipse temporal, com a mudança rápida entre dia e noite, na qual a iluminação sobre Dorothy permanece como a de uma luz do luar a todo o momento. Entretanto, especialmente durante as narrações, a troca e fusão de cenários para demonstrar a vivência dos ouvintes das histórias são interessantes e bem executadas.

Contudo, para aquele espectador que gostou do trabalho anterior de Marcos Jorge no longa “Estômago” (2007), o resultado fica aquém do esperado. Certamente, são projetos muito diferentes.

Neste, a produtora e a distribuidora já dispunham de um roteiro do norte-americano Frank Pierson (1925-2012), que tem no currículo os roteiros de “Um Dia de Cão” (1975) e “Acima de Qualquer Suspeita” (1990).

Não se tratando exatamente de um trabalho autoral --Jorge deve lançar um ainda este ano, chamado “Mundo Cão”, que conta com Lázaro Ramos e Adriana Esteves no elenco--, a direção dele acaba se tornando burocrática em alguns momentos.

Mesmo assim, o filme consegue contextualizar a discussão sobre a questão do mito e da verdade, além da ficcionalização da própria vida, tão frequente em tempos de redes sociais virtuais.

(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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