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“Apenas Uma Chance” retrata curiosa trajetória de cantor de ópera britânico

23 jul 2014 - 14h11
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Um galês vendedor de celulares, acima do peso e com um dente quebrado, vai ao palco de um show de talentos e logo é desacreditado pelos jurados e a plateia, ainda mais quando diz que irá cantar ópera.

Autor James Corden, do filma "Apenas uma Chance", no tapete vermelho do Festival de Cinema de Toronto. 09/09/2014.
Autor James Corden, do filma "Apenas uma Chance", no tapete vermelho do Festival de Cinema de Toronto. 09/09/2014.
Foto: Jon Blacker / Reuters

Mas, ao começar sua apresentação, cantando “Nessun Dorma”, a famosa ária da ópera “Turandot”, de Giacomo Puccini, o candidato surpreende a todos e se torna não só o principal personagem daquele episódio de estreia do reality show musical como o grande vencedor da primeira edição da competição.

A surpresa e a admiração que Paul Potts causou no “Britain’s Got Talent” (2007) se repetiriam dois anos depois, no mesmo programa, com Susan Boyle, outro fenômeno que espantaria e encantaria todo o mundo.

Histórias de superação têm o incrível poder de atrair a atenção de todos e não apenas reality shows, mas também obras de ficção e reportagens jornalísticas fazem uso desse artifício para comover até o mais frio coração humano.

O criador e jurado da atração, Simon Cowell, uma espécie de “Midas” do gênero, logo enxergou que o potencial da difícil trajetória do primeiro ganhador do show extrapolava a TV e poderia render um filme e, por isso, produziu “Apenas Uma Chance” (2013). Vale lembrar que Susan Boyle também deve ganhar sua própria cinebiografia em breve.

O longa-metragem de David Frankel, porém, reserva só seus minutos finais para a famosa apresentação do calouro no “Britain’s Got Talent”. E se a obra carece de um final mais arrebatador, ganha muito ao não focar na parte mais conhecida da vida de seu retratado – um dos vídeos da estreia de Potts no programa tem mais de 125 milhões de visualizações – a fim de destacar a história pregressa dele.

Logo no início, o protagonista diz, em voz off, que sua vida tem muito drama, comédia e música, assim como uma ópera, gênero do qual sempre foi fã, para alegria da mãe (Julie Waters) e desagrado de seu pai (Colm Meaney).

Justin Zackham, que havia pesado a mão no script de “Antes de Partir” (2007) e fracassado à frente do recente “O Casamento do Ano” (2013), consegue se sair melhor no roteiro desta cinebiografia, apresentando Paul (James Corden) como um garoto que sempre sofreu bullying dos colegas, algo personificado mais na figura do valentão Matthew (Trystan Gravelle).

Seguem-se, então, uma série de desventuras no caminho do jovem aspirante a cantor lírico, como doenças e acidentes; mas seu desafio mais recorrente é superar sua própria falta de autoestima.

Mesmo usando e abusando de clichês e estereótipos para contar a trajetória de Potts, inegavelmente, o filme consegue ser, ao final, um bom entretenimento para grande parte do público, mesmo para os leigos em ópera.

Se o segmento da viagem de Paul à Itália para aprender canto lírico, com a fotografia de cartão-postal de Florian Ballhaus e até a presença de Luciano Pavarotti (Stanley Townsend), é o mais fraco, é porque o resto do longa, passado na pequena cidade de Port Talbot, no País de Gales, mostra uma relação muito sincera do vendedor e aspirante a cantor com aqueles que o cercam: seus pais, seu chefe e amigo (Mackenzie Crook) e a mulher por quem é apaixonado (Alexandra Roach).

Frankel, que dirigiu os sucessos “O Diabo Veste Prada” (2006) e “Marley & Eu” (2008), trilha estes passos já conhecidos até pelo espectador iniciante no mundo do cinema – e da ficção em geral – com uma graça que encanta a plateia, na maioria das vezes.

Mas o elenco que ele tem em mãos é o principal responsável por esse êxito. James Corden, que se destacou na sitcom da BBC “Gavin & Stacey” (2007-2010) e ganhou um Tony, em 2012, por sua performance na peça “One Man, Two Guvnors”, equilibra bem a comicidade e os dramas de seu personagem, construindo com docilidade a figura de Paul.

O ator que está despontando para o cinema – ele estrela o ainda inédito “Mesmo Se Nada Der Certo” e o esperado musical que subverte vários contos infantis, “Into The Woods” (2014) – forma uma ótima dupla com Alexandra Roach, conhecida por interpretar Margaret Thatcher mais jovem em “A Dama de Ferro” (2011), que dá vida à sua amada Julz.

Desde o curioso primeiro encontro dos namorados virtuais, a química dos dois intérpretes é visível, sustentando a relação de amor e cumplicidade entre seus personagens ao longo da produção.

Julie Waters e Colm Meaney também contribuem muito como os pais do protagonista. Mackenzie Crooke chama a atenção ao dar profundidade ao seu amalucado Braddon, que, a princípio, teria que ser apenas um alívio cômico do longa.

Em tempo: nos créditos finais, o público pode ouvir “Sweeter Than Fiction”, da cantora country pop Taylor Swift, que foi indicada ao Globo de Ouro deste ano por Melhor Canção Original.

No entanto, o que mais desperta os ouvidos dos espectadores nesta trilha sonora são os trechos de óperas, além da própria ária de Puccini, e músicas clássicas, como a “Aída”, de Giuseppe Verdi e “Con Te Partirò”, de Andrea Bocelli, junto com hits de décadas passadas, a exemplo de “Come On Eileen”, do Dexy's Midnight Runners, e “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley.

(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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