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Berlim: Bruno Barreto apresenta história homossexual com Glória Pires

11 fev 2013 - 15h45
(atualizado às 15h46)
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Bruno Barreto apresenta 'Flores Raras' com Miranda Otto em Berlim
Bruno Barreto apresenta 'Flores Raras' com Miranda Otto em Berlim
Foto: Getty Images

Desde o início do Festival de Cinema de Berlim, na quinta-feira (7), a imprensa vem destacando o papel protagonista das mulheres nos filmes participantes das mostras principais. Coincidentemente ou não, o longa Flores Raras (Reaching for the Moon, em inglês), do diretor Bruno Barreto, não foge à regra, apresentando a história de amor entre a escritora norte- americana Elisabeth Bishop (Miranda Otto) e Lota de Macedo Soares (Glória Pires), paisagista e urbanista brasileira no Rio de Janeiro dos anos 1950.

As protagonistas são mulheres que se destacaram profissionalmente na época. Enquanto Bishop ganhou o prêmio Pulitzer em 1956, Lota foi uma das idealizadoras do Parque do Flamengo.  Nesse período, elas mantiveram um relacionamento que durou 15 anos. O reconhecimento, tanto do trabalho como da história de amor das duas, manteve-se tímido, pelo menos até agora.

Apesar da  direção de Bruno Barreto, foi sua mãe, a produtora Lucy Barreto, a grande entusiasta da história. Presente na coletiva de imprensa em Berlim, Lucy orgulhou-se ao contar que conheceu Bishop e Lota nos anos 50 e, desde então, sentiu-se na obrigação de passar adiante sua história que misturava paixão pelas profissões e amor passional uma pela outra.

“Realizar esse filme é um sonho que tenho há 17 anos. No Natal de 1995, li o livro de Carmen Lúcia Oliveira (Flores Raras e Banalíssimas) e disse:  ‘esse filme é meu’. Mas eu não tinha dinheiro para começá-lo. No dia seguinte liguei pra Glória Pires e mandei o livro pra ela, como presente de Natal. Dois dias depois, eu tinha a atriz para viver a Lota. Desde então tento fazer esse filme. Escrevemos vários roteiros, continuei trabalhando nisso e foi assim. Você continua sonhando mesmo que o tempo passe. Você sonha, e é sobre isso que o filme trata”, disse.

O longa, que estréia no dia 24 de maio nos cinemas brasileiros, promete provocar reações diversas entre o público, fato que enche o diretor Bruno Barreto de entusiasmo. Durante as exibições de teste, ocorridas em novembro no Brasil, Barreto contou que a reação do público foi de espanto ao ver Glória Pires em momentos íntimos com uma mulher:

“A audiência ficou muito chocada em ver Glória Pires, a queridinha das novelas e uma das atrizes mais populares do Brasil, realmente beijando uma mulher. Foi uma reação incrível. ‘Não acredito nisso!’, diziam. Vai ser interessante ver o resultado disso. Acho que vai ser bom, será um elemento de atração, por outro lado, muitas pessoas vão ficar chocadas e não vão querer ver Glória beijando outra mulher”, divertiu-se Barreto.

Assim como sua mãe, Barreto já está familiarizado com a história há muitos anos, mas afirmou que teve dificuldades para achar um ângulo para contá-la: “Eu me sentia como a Bishop, só que do outro lado: brasileiro morando em Nova York casado com uma americana. Depois, em 2004, achei o ângulo pelo qual eu queria mostrar a história: a perda. Eu estava passando por um divórcio, de repente isso me influenciou para falar sobre perda”, contou.

A australiana Miranda Otto, presente na coletiva, contou que, ao receber o convite, custou a acreditar que o papel lhe estava sendo oferecido em função da complexidade e importância de Elisabeth Bishop, considerada uma das poetisas de língua inglesa mais importantes do século XX. “Eu recebi um email comum com o convite e fiquei fascinada ao ler o script. No email dizia se eu tinha interesse em participar do filme, que seria rodado no Rio e em Nova York. Ao ler a história dessas mulheres maravilhosas, pensei: esse email não deve ser pra mim. Minha agente deve ter se confundido. Na hora liguei pro Bruno dizendo que eu amei. É raro achar scripts com protagonistas tão inteligentes e apaixonadas pelo que fazem e ainda estando num relacionamento”, contou.

Essa grande influência feminina – desde o “sonho” de Lucy Barreto, a biografia das duas protagonistas e a excelente atuação das atrizes –  garante a beleza e a intensidade de Flores Raras. Barreto conta que, durante as filmagens, ao invés de comandar, deu liberdade para as atrizes nas gravações: “Eu calei a boca e deixei elas trabalharem na hora de gravar, pois elas sabiam muito mais sobre as personagens do que eu. Foi uma grande colaboração, com momentos de discussão, mas foi muito bom, muito excitante. O maior desafio era contar a história de uma maneira acessível sem perder a complexidade. Não foi necessário comprometer as personagens para seduzir o público”.

Flores Raras, que teve um orçamento de US$ 6,5 milhões, participa da mostra Panorama em clima de comemoração. A produtora da família Barreto, LC Barreto, comemora 50 anos de existência. Lucy não hesitou em conter seu orgulho: “nós somos dinossauros, porque ser uma produtora e manter um negócio por 50 anos é algo que não existe mais!”, disse.

Fonte: Especial para Terra
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