"Devemos julgar com nossas almas", diz presidente do júri
Se depender das declarações dos jurados da competição oficial, este ano Cannes elegerá o vencedor da Palma de Ouro pautado pela emoção. A maioria dos oito nomes capitaneados pela atriz Isabelle Huppert, presidente do júri, fez referência de alguma forma a sentimentos pessoais de ligação com o cinema, com seu olhar sobre a arte e a responsabilidade de julgar.
» Acompanhe o blog do diretor no festival
"Não acredito que o ato de escolher um melhor filme seja um ato somente racional, que tem que ser baseado em fatores apenas de qualidade do próprio filme", iniciou Huppert, no encontro com a imprensa na manhã desta quarta-feira. "Temos que ouvir a alma, julgar com nossas almas".
Isabelle, a musa de Claude Chabrol e conhecida por seu temperamento forte e humor difícil, estava tranquila e atenciosa com os jornalistas.Sua opinião foi compartilhada em seguida pelos demais jurados, quase como numa condição pré-estabelecida, o que tornou a entrevista um tanto aborrecida e sem indicações mais precisas sobre um método de trabalho ou parâmetro das escolhas.
A atriz indiana Sharmila Tagore disse que essa grande responsabilidade deve implicar em honestidade e dedicação por parte dos jurados e que não necessariamente num consenso de primeiro momento. "Acredito muito nos sentimentos imediatos ao ver um filme e isso terá que ser muito bem pensado por todos na hora da decisão".
James Gray, o diretor que competiu em Cannes no ano passado com Amantes (Two Lovers), lembrou de suas experiências anteriores em júris. "Certa vez vi vinte filmes em dez dias, experiência que repetirei agora, só que com dez anos a mais; isso traz uma carga emotiva e de maturidade muito forte".
Seu colega, o turco Nuri Bilge Ceylan, prêmio de melhor direção em Cannes 2008 por Três Macacos, comentou o ator de julgar um companheiro e seu trabalho. "Eu gosto de que gostem dos meus filmes, claro, mas agora vou ter que mudar de posição e pretendo fazer isso mais com meu coração do que com o cérebro".
O caráter eminentemente europeu e asiático da competição levou a uma pergunta sobre a opinião expressada no ano passado pelo então presidente do júri, o ator Sean Penn. Ele disse acreditar que Europa e Estados Unidos deveriam se aproximar mais e derrubar as últimas barreiras nos três principais festivais do mundo, que são europeus.
O que a francesa Isabelle pensa da idéia? "É uma opinião a que ele tem direito, claro, mas acho que um festival deve ter ambições mais humanísticas e se definir pelo cinema que apresenta e não por países e seus mercados". A mulher de Penn, a atriz Robin Wright Penn, estava ao lado de Huppert.
No coro feminino do júri, ainda há a atriz italiana Asia Argento e a japonesa Shu Qi, o que levou à inevitável pergunta sobre a supremacia feminina - contando com a presidente - e um possível reflexo dessa condição na escolha da "palmarés", as Palmas do festival.
"Para mim não há essa situação do feminino versus o masculino, nem ao escrever um livro, nem ao se realizar um filme; ambos têm o mesmo prazer ao ver e fazer um filme", disse Huppert, que é a primeira mulher a presidir o júri desde a também atriz Liv Ullman em 2001. Huppert também se referia ao escritor inglês Hanif Kureishi, outro membro do júri, assim como o diretor sul-coreano Chang-dong Lee. Numa última questão, Huppert ainda respondeu à opinião do presidente do festival Gilles Jacob, identificada em sua autobiografia recém-publicada, que julgar também é uma questão de diplomacia. "Acho que não é uma palavra atraente quando se trata de festivais, não estamos tratando no mundo dos negócios", apontou. "Prefiro expressões como conflito de opiniões e palavras como reações e contrastes".
'Ele me aterrorizava, mas viu todas as peças que eu fiz': A complicada relação de Daniel Radcliffe e Alan Rickman em Harry Potter
Astro de 'Uma Ideia de Você' impressiona com semelhanças com Harry Styles: 'Incorporou até a fala'
