Diretora diz que 'Bright Star' é história de amor
Bright Star, o quarto filme da competição oficial exibido nesta manhã em Cannes, relata os três anos em que o jovem poeta inglês John Keats teve um romance com Fanny, garota de gênio e decidida, nas primeiras décadas do século XIX. Muito do drama história parte das cartas de amor escritas por Keats a ela, uma das razões que fez a diretora Jane Campion definir seu filme mais para um romance do que uma cinebiografia sobre a vida e o talento poético do personagem.
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"É antes uma história de amor do que uma biografia filmada de Keats", disse ela no encontro com a imprensa nesta manhã. Adicione-se a palavra triste a esse romance, malfadado pela morte precoce do poeta em 1821, aos 25 anos, por tuberculose.
O filme foi recebido de forma branda pelos jornalistas. É uma produção clássica, no sentido da abordagem da realizadora sobre seu material, mas que ganha um diferencial no olhar intimista sobre os personagens principais e na concepção que valoriza os diálogos, item importante num drama de época inglês.
O filme cresce ainda na atuação dos protagonistas, Ben Wishaw (Não Estou Lá) como Keats, e Abbie Cornish (Um Bom Ano), com presença e carisma. Também no elenco de apoio, com Paul Schneider no papel de Brown, também poeta e melhor amigo de Keats, e Kerry Fox, que vive a mãe de Fanny.
Campion, Palma de Ouro em Cannes por O Piano em 1993, contou que se fascinou pela figura de Keats por suas várias qualidades como escritor, filósofo e o envolvimento com a medicina. "Era alguém de muita autoconfiança, sabia que estava no caminho certo. Apesar disso, seu nome e poesia são ignorados por muitas gerações".
A prova foi dada logo em seguida quando os dois protagonistas, ambos nascidos no início da década de 80, comentaram sua pouca familiaridade com a obra de Keats, da qual uma das poesias dá título ao filme. Mesmo em sua época, Keats não fez sucesso com suas poucas publicações, e só mais tarde viria a ser reconhecido como um dos maiores poetas românticos da literatura.
Devido a esse distanciamento entre gerações, Campion acredita que a conexão com a platéia atual deva se dar pelo universo do romance e não tanto pelo literário. "É por isso que dou mais atenção ás cartas de amor do que aos poemas propriamente ditos, e quando eles aparecem são na voz do próprio poeta e na forma de uma declaração de amor a Fanny".
Inevitável num festival que tem uma presidente e mais quatro mulheres no júri, uma questão foi levantada sobre o ato de fazer cinema pelas mulheres. Campion é conhecida por defender uma causa feminina ¿ ela repele a expressão feminista - no cinema, sempre constatada também na representação maior de um personagem feminino em seus filmes, como acontece em Bright Star. "Mulheres não tem muito espaço para se expressar e ficam esperando que alguém faça isso por elas; só que somos metade do planeta e espero que cada vez mais tenhamos diretoras com essa ambição de se fazer ouvir."