PUBLICIDADE

Cannes aposta na força do cinema autoral

9 mai 2009 - 12h57
(atualizado às 13h01)
Compartilhar

A atração da abertura oficial do 62º Festival de Cannes, que acontecerá nesta quarta-feira (13/5), mais parece uma simpática "blague" dos organizadores, uma palavra em francês com o sentido de uma brincadeira, uma piada de certo tom mordaz e irônico. Só assim se entende a escolha de Up, que no Brasil estréia em setembro como Up - Altas Aventuras, a nova animação da parceria Disney/Pixar, realizada em 3D e a primeira no gênero a abrir uma edição da maratona francesa. É diversão pura a história de um vendedor de balões de mais de 70 anos que realiza o sonho de voar para as florestas da América do Sul atado a milhares de balões. Ele só não sabe que tem um inesperado passageiro.

Mas no dia seguinte, Cannes volta a vestir o figurino sério e dá a largada à corrida pela Palma de Ouro, com uma seleção que há muito não se via na Croisette, o endereço oficial da mostra. Fazendo jus à intenção de tornar essa edição a mais prestigiada dos últimos tempos, o presidente Gilles Jacob e seus colaboradores reuniram um raro conjunto de realizadores autorais - entenda-se: aqueles detentores de um estilo próprio, ainda que de sucesso comercial - e destacados da cinematografia mundial. A começar por Pedro Almodóvar (Los Abrazos Rotos) e seguindo com Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios), Lars Von Trier (Anticristo), Ang Lee (Taking Woodstock), Tsai Ming-liang (Face), Alain Resnais (Les Herbes Folles), Ken Loach (Looking for Eric), Michael Haneke (The White Ribbon), Jane Campion (Bright Star) e Marco Bellocchio (Vincere).

O Brasil não participa da competição principal, mas conta com representantes nas sessões paralelas Un Certain Regard (com o filme de Heitor Dhalia, À Deriva), da Cinéfondation, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica, nestas três últimas o País participa com curtas-metragens, além de uma sessão especial do longa-metragem de estréia de Eduardo Valente, Do Meu Lugar.

A competição não fica só entre os diretores de maior reconhecimento. Há ainda a fatia de nomes menos incensados ou que já conquistaram o respeito do público cinéfilo e dos críticos, a exemplo de Brillante Mendoza, que no ano passado trouxe das Filipinas o polêmico Serbis e volta agora a Cannes com Kinatay. Também de Elia Suleiman, diretor israelense do premiado Intervenção Divina, que leva ao Festival de 2009 The Time That Remains.

A presença oriental, sempre forte nos três principais festivais do mundo (Cannes, Berlim e Veneza), tem à frente o diretor chinês banido de seu país Lou Ye. Em 2006, ele desafiou as autoridades de China ao inscrever o censurado Summer Palace em Cannes. Desta vez quebra a barreira ao mostrar Spring Fever. O time ainda tem o sul-coreano Park Chan-Wook, conhecido por Lady Vingança e Old Boy, que vem com Thrist e Johnny To, de Hong Kong, representado por Vengeance. Todos esses filmes serão julgados por um grupo capitaneado pela atriz francesa Isabelle Huppert, a preferida de Claude Chabrol, além de nomes como o cineasta turco Nuri Bilge Ceylan e as também atrizes Asia Argento e Robin Wright Penn.

Nada mal para uma edição com bela representação feminina e que tem como símbolo em seu cartaz uma cena de A Aventura, do mestre Michelangelo Antonioni, na qual uma mulher de costas abre uma janela para uma vista idílica. Parece sugerir que há muito para se ver além da visão mais imediata, princípio confirmado pela programação do festival. Não por acaso, o filme de Antonioni será exibido na seleção de clássicos restaurados sob a curadoria do cineasta Martin Scorsese.

Entre as jóias programadas está Os Sapatinhos Vermelhos (1948), dirigido pela dupla Michael Powell e Emeric Pressburger, um dos melhores filmes sobre balé já feitos, e dois filmes que homenageiam o centenário de nascimento de Joseph Losey, morto em 1984, Estranho Acidente (1967) e Don Giovanni (1979). Há ainda curiosidades como o documentário do também crítico Antoine de Baecque sobre os cinqüenta anos da apresentação em Cannes de Os Incompreendidos, de François Truffaut, um dos marcos de nascimento da Nouvelle Vague.

Enfim, tanto na seleção principal, como no programa especial, Cannes este ano é dos autores do início ao fim. Mesmo a tradicional Lição de Cinema, em que um cineasta conversa sobre sua criação, foi cuidadosamente pensada neste âmbito com o convite aos irmãos belga Jean-Pierre e Luc Dardenne (O Silêncio de Lorna).

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade