Diretor de Hong Kong traz ação coreografada e humor a Cannes
Uma co-produção entre França e Hong Kong exibida neste domingo na competição, Vengeance (vingança, em francês) conta com alguns atrativos para agradar especificamente à platéia francesa. O mais evidente é a presença como protagonista do astro da música francesa Johnny Hallyday. Outro veio à baila durante a entrevista com os jornalistas. Lembrou-se a semelhança do universo, tanto temático como de estilo, do filme do diretor Johnnie To com o trabalho do cineasta francês Jean-Pierre Melville (1917-1973), mais conhecido por O Samurai, filme que provavelmente foi muito lembrado nesse caso.
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"Concordo com a influência", disse Johnnie To, realizador baseado em Hong Kong. "Gosto muito de Melville, seu estilo noir, 'cool', além de seu romantismo; foi o que tentei trazer também ao meu filme".
Johnnie To é uma espécie de John Woo, seu colega mais famoso de Hong Kong, só que mais leve e brincalhão. Ele utiliza a mesma violência coreografada de Woo, com tiroteios e massacres, mas se abre aqui e ali para momentos de humor dos personagens. "Acredito que esse ingrediente cômico se comunica com a platéia tanto como a ação, que usada a exaustão pode afastar a atenção do espectador do que é importante, a história".
Como aponta o título, há aqui uma idéia de vingança. Ela acompanha o personagem de Hallyday, de nome Costello, um chef dono de restaurante francês que chega a Macau quando a família de sua filha ali radicada é morta por assassinos de aluguel.
Costello jura justiça e contrata também três matadores para a missão. Um fato peculiar é que ele está perdendo a memória, devido a uma bala alojada na cabeça, e por isso fotografa e escreve o nome nas imagens tanto de seus companheiros na empreitada como dos inimigos.
Fala-se pouco no filme, apenas o necessário para a conversa entre os novos parceiros. Além da ação estilizada, o mais importante para o cineasta foi unir esses homens de diferentes culturas - o francês Costello e os matadores chineses - pelo hábito da comida. "Eu sou um amante da boa cozinha, por isso fiz do personagem principal um chef; os personagens estão sempre comendo porque esse é um hábito emotivo que une as pessoas, mesmo quando elas são de diferentes nações".
Pouco conhecido no Brasil, Johnnie To teve lançado no país Eleição - Submundo do Poder, de 2005, com poucas cópias. A reação apenas morna na sessão de imprensa demonstrou que Vengeance não deve abalar as apostas do festival, que até agora reconheceu Un Prophète como o melhor filme, e talvez não por coincidência, uma fita também devotada à influência de Melville.