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Drama carcerário francês é bem recebido pela crítica em Cannes

16 mai 2009 - 12h44
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Um filme que se dá dentro de uma penitenciária francesa com suas regras e condutas muito peculiares sobre a ascensão penosa de um jovem árabe teve a receptividade mais calorosa da imprensa de Cannes até agora. Un Prophète, "um profeta" em tradução direta do francês, também recebeu elogios explícitos de vários jornalistas durante a coletiva de imprensa nesta manhã.

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O diretor Jacques Audiard não é dos representantes mais fortes do cinema da França no Brasil. Seu trabalho mais recente, De Tanto Bater, Meu Coração Parou, foi lançado num circuito de arte pequeno. Outra referência, Um Herói Muito Discreto, é de longínqua memória, realizado em 1996.

Mas este drama apresentado hoje seria facilmente identificado pela platéia brasileira como de realidade muito próxima, pois tem ligação com o universo de Carandiru. Há quem tenha lembrado também o tom de Tropa de Elite, mas neste caso já seria sair um tanto do script. E mesmo o filme de Hector Babenco sobre a famigerada cadeia paulistana promove outro tipo de leitura desse universo.

A trama acompanha a chegada à prisão do árabe Malik (o estreante Tahar Rahim, em boa atuação), jovem um tanto ingênuo para aquele mundo de velhas raposas, e seu engajamento pouco a pouco com uma quadrilha de corsegos que comanda o lugar. A turma é chefiada por um dos mais antigos prisioneiros (Niels Arestrup). O primeiro teste do recém-chegado é assassinar um possível delator. A partir daí, Malik entrará no jogo de interesses e traições que garante sua sobrevivência e tomará gosto pelo poder.

Esta palavra, poder, define muito do filme para o diretor Audiard. Mas também, lembra ele, há questões como identidade sendo tratada ali. Questão realçada pela escolha da Córsega, a ilha do Mediterrâneo administrada pela França, mas de idioma peculiar - de forte ascendência italiana - e que é foco de reações pela independência. Também foi ali que nasceu Napoleão.

"Foi uma escolha aleatória (dos corsegos), mas que convinha pelos traços culturais de forte representação desse povo, assim como os árabes e os muçulmanos que estão no filme", disse o diretor.

A idéia original da fita surgiu para ele na forma de um roteiro pronto de Abdel Raouf Dafri. "Eu me interessei no mesmo momento; para mim essa prisão é uma metáfora do que está fora dela, ou seja, toda a sociedade em geral". São duas horas e meia de filme e a história se sustenta sem os habituais clichês que costumam aparecer nos filmes do gênero de penitenciária.

Seria desde já uma produção digna de uma premiação importante, como um prêmio de júri ou de direção. Mas seu mérito pode ser ofuscado pelo fato da Palma de Ouro do ano passado ter similaridades como o profeta de Audiard. Além de francês, Entre os Muros também se fixa dentro de um universo particular, no caso a escola com seus outros duelos naturais, e toca na ferida das instituições francesas.

Diretor Jacques Audiard conversa com a imprensa em Cannes
Diretor Jacques Audiard conversa com a imprensa em Cannes
Foto: Reuters
Fonte: Especial para Terra
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