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Premiação foi corajosa, mas também cuidadosa

24 mai 2009 - 18h05
(atualizado às 18h06)
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"Nós não tentamos acomodar nada, não é para isso que um júri existe", respondeu Isabelle Huppert, a presidente do júri do 62º Festival de Cannes, encerrado agora há pouco na entrevista coletiva que segue a premiação. Huppert havia sido questionada se o colegiado de diretores, atores e um escritor procurou distribuir prêmios de forma equânime entre os filmes de qualidade presentes na competição. "Havia uma intenção clara de premiar os que tinha maior qualidade, isso sim, mas havia muito mais bons filmes do que premiamos; afinal, demos prêmios para somente nove dos vinte competidores".

» Veja as fotos dos premiados em Cannes

A questão vem a calhar porque há realmente uma coincidência entre os prognósticos e preferências dos formadores de opinião presentes em Cannes e as decisões do júri. Isso se mostra, especialmente, na Palma de Ouro para o filme de Michael Haneke, Das Weisse Band, o Grand Prix para Un Phophète, do francês Jacques Audiard, e em termos para os prêmios de interpretação, Charlotte Gainsbourg, de Anticristo e Christoph Waltz, de Bastardos Inglórios. Esses nomes eram cogitados, mas não favoritos. Mas a idéia de que o júri tenha sido cuidadoso na distribuição de prêmios, visando contemplar o mérito dos filmes preferidos, não cola para a outra metade da premiação.

E foi nesse recorte que o júri mostrou sua personalidade e coragem de apostar no menos esperado, no polêmico e na originalidade. Apenas assim entende-se o prêmio de melhor diretor para o filipino Brillante Mendoza, que no ano passado apresentou aqui Serbis, e agora sai devidamente recompensando pela estranheza provocativa de Kinatay. É o tipo de produção para amar ou odiar e não deixa de ser curioso que sua cena de resistência - a violenta morte de uma prostituta por esquartejamento - pode constranger ainda mais às mulheres, maioria no júri deste ano.

Parece ter sido, portanto, uma espécie de compensação reconhecer filmes que tenham grande destaque feminino, a exemplo de Fish Tank, de Andrea Arnold, Prêmio do Júri, que foi dividido com Thirst, a novela surreal de vampiros do coreano Park Chan-Wook, que conta com uma vingativa jovem que se sobrepõe ao protagonista.

Apesar de reparos que poderiam ser feitos à premiação aqui e ali, o fato é que o júri transformou em reconhecimento muito da qualidade que os críticos apontaram durante o festival. Cannes, mais uma vez, deu exemplo de conduzir bem os dois planos fundamentais de um festival que pretende ser referência do cinema no mundo: reconfirmar a qualidade do que assim se mantém sem deixar de apontar o novo.

Júri supreende ao dar prêmio de melhor diretor para Brillante Mendoza
Júri supreende ao dar prêmio de melhor diretor para Brillante Mendoza
Foto: AFP
Fonte: Especial para Terra
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