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Cine PE: Juliana Alves diz que País ainda esconde preconceito

4 mai 2011 - 14h30
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Filha de uma professora e psicóloga e de um pai sociólogo, Juliana Alves carrega nela uma aguçada consciência individual e coletiva. Atriz do talentoso elenco do filme Vamos Fazer um Brinde, o longa de ficção que esteve na noite desta terça-feira (3) na mostra competitiva do Cine PE, ela foi a primeira que, na coletiva de imprensa sobre o filme com elenco majoritariamente negro, desabafou: "Meu sonho é que um dia essa questão não seja levantada, que ela não seja relevante". A "questão" a que Juliana diz respeito é a discussão sobre o posicionamento do negro como um ser coletivo em um filme sobre um grupo de amigos de classe média que poderia, de fato, ter qualquer cor.

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Em conversa exclusiva com o Terra, a atriz global que recentemente se despediu da novela Ti-Ti-Ti, conversou sobre a construção de personagens do filme de Sabrina Rosa e Cavi Borges e, claro, explicou seu posicionamento como ser político diante de tantas questões sobre a presença ou ausência de elementos negros em um filme que não pretende levantar a questão racial e cujo argumento se sustenta naquela velha ideia de um encontro entre amigos num dia em que problemas pessoais se desdobram entre um brinde e outro de Réveillon.

Juliana explica que o processo de construção de cada uma das amigas em cena, além do amigo gay, foi todo criado depois de muitas conversas com Sabrina e acredita que cada ator contribuiu com suas próprias experiências de vida para a criação do papel. "A Roberta Rodrigues (a Fabíola da novela Insensato Coração), por exemplo, nunca passou por isso (ser agredida fisicamente por um homem) na vida dela, mas ela tem referências presentes disso, então todo mundo termina contribuindo."

Esses problemas e questões pessoais que vão, aos poucos, estourando no filme, reflete segundo Juliana esse estado de aparente bem-estar coletivo, criado para proteger o convívio social. "Quando você passa por uma circunstância na vida, aquilo não está estampado nas suas relações com o outro. Elas estão presentes, mas são muitas vezes veladas pela necessidade da convivência harmônica entre as pessoas. O filme mostra isso, pessoas que querem ser felizes naquele dia de Réveillon, mas que diante de suas questões pessoais, que estão veladas, precisam ser resolvidas, nem que a resolução seja feita internamente."

Quanto a todo o debate que se levantou durante a coletiva sobre a possível criação de um cinema negro de classe média, Juliana se mostra bastante ponderada quanto ao processo evolutivo da tolerância ao outro no Brasil.

"A prova de que estamos muito atrasados nessa questão e de que o racismo existe no Brasil é justamente toda essa discussão ainda existir. Hoje em dia, muito mais do que 15 anos atrás, as pessoas têm vergonha e se sentem fora do senso comum quando se vêem intolerantes. Vemos menos pessoas exaltando e enchendo a boca ao serem intolerantes, porque hoje o racismo é crime, porque a sociedade está mais flexível em relação aos homossexuais. Exemplo é que quando Bolsonaro (o deputado federal Jair Bolsonaro) foi falar o que ele pensa, recebeu uma resposta à altura da opinião pública. Acho que agora está muito claro que não é legal ser intolerante, mas por outro lado acho que as pessoas não resolveram isso internamente ainda. O Brasil ainda é um país que vela e esconde debaixo do tapete todas essas questões."

Sobre próximos projetos, Juliana diz apenas que está lendo o roteiro de um filme, mas que nada está certo ainda. Por enquanto, quer apenas aproveitar esse que é seu primeiro longa no cinema e, claro, curtir o aniversário de 29 anos que fez nesta terça-feira, dia de exibição do filme.

A repórter viajou a convite da organização do festival

A atriz está no longa de ficção Vamos Fazer um Brinde
A atriz está no longa de ficção Vamos Fazer um Brinde
Foto: Andrea Rego Barros / Divulgação
Fonte: Terra
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