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Com "O artista e sua modelo", Fernando Trueba homenageia o cinema francês

2 ago 2013 - 11h10
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O diretor espanhol Fernando Trueba, cujo filme "O artista e sua modelo", já exibido no Festival do Rio, estreia este fim de semana nos Estados Unidos, diz que prefere deixar seu trabalho falar por si mesmo.

O cineasta, de 58 anos, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1994 por "Belle Époque", declarou que o "O artista e sua modelo" era uma dívida que tinha consigo e com o cinema francês.

"Eu sempre fui muito afrancesado, eu devo muito a língua francesa, ao cinema francês. Leio muito em francês e sempre pensei em fazer um filme francês, entre aspas", disse à AFP.

Filmado na França e em francês, apresenta Jean Rochefort no papel de um velho escultor que reencontra a sua inspiração em uma jovem modelo espanhola (Aida Folch).

"O artista e a modelo", embora seja uma reflexão sobre a arte e o processo de criação, não é, de acordo com seu autor, um trabalho estritamente autobiográfico.

No entanto, "também tem muito de mim e as pessoas que me conhecem dizem que me veem por trás desse personagem", confessou.

De acordo com Trueba, o personagem principal é baseado em seu irmão, o escultor Máximo Trueba, que morreu em 1996, aos 42 anos, em um acidente de carro.

O filme deve a Máximo "uma dívida mais secreta e mais profunda", afirmou o cineasta, cujo filme "Chico & Rita" foi indicado em 2011 ao Oscar de melhor filme de animação.

"Meu irmão não era um homem de palavras. Era um homem de trabalho. Não gostava de falar e não gostava nem mesmo de dar nome a suas esculturas. Grande parte de suas esculturas foram intituladas" com 'Sem título", contou.

"Ele acreditava no trabalho com as próprias mãos, em seu estúdio, em esculpir em pedra, modelar a argila, mas não acreditava em toda a literatura que normalmente acompanha as artes plásticas, no blá-blá-blá. E isso, essa atitude, essa relação que teve com a arte, como o trabalho físico, foi muito importante para mim no filme".

Com uma filmografia eclética que navega entre a ficção, música e animação (o documentário "Calle 54" fala sobre os ícones do jazz latino e "Chico & Rita" é uma homenagem ao bolero cubano), Trueba compartilha com seu falecido irmão uma visão semelhante da criação artística.

O cineasta espanhol diz que, apesar da sofisticação do mundo de hoje, a arte não mudou muito desde a Vênus de Willendorf dos tempos pré-históricos, nem a relação física entre o homem e a matéria com a qual este interpreta a natureza.

O diretor também assegura que não pretende descobrir a si mesmo, mas sim suas histórias.

"Quando faço um filme, não olho para mim. Na verdade, eu tento não focar em mim mesmo. Nunca conheci um psicanalista ou um psiquiatra, talvez me faça falta ou me faria bem. Mas eu sou uma pessoa que olha mais para fora do que dentro", disse ele.

"Então, quando eu estou fazendo um filme, não procuro descobrir coisas sobre mim, mas procuro descobrir coisas sobre os personagens e a história que eu quero contar", acrescentou.

"Apesar de todos os que que contam histórias, seja através do cinema ou da literatura, acabam deixando um pouco de si, experiências, sentimentos, ideias, sensações", admitiu.

"Eu não tenho muito interesse em mim", continuou, "exceto em viver o melhor possível e tanto quanto possível. Mas não (necessito) me conhecer melhor. Conheço-me muito bem."

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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