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Darren Aronofsky aposta mais na ecologia do que na Bíblia para filmar "Noé"

2 abr 2014 - 19h41
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ao deixar fora da arca diversas pessoas inocentes. Se a inocência era a justificativa da própria existência da arca como proteção contra a fúria de Deus, como explicar o abandono de tantos à própria sorte, se ali dentro há espaço?

O aspecto mais problemático está na forma abrupta como Noé passa de ecovegeteraniano pacifista a fundamentalista furioso. Isto porque repentinamente ele mostra-se obcecado com a ideia de que Deus quer mesmo exterminar a humanidade. Na sua visão, os membros de sua família serão os últimos humanos na face da Terra, que ficará entregue aos animais e às plantas. Por isso, ele ameaça tornar-se assassino da própria descendência quando descobre que Ila (Emma Watson), namorada de seu filho Sem, está grávida - o que ele entende que contraria o plano de Deus, por permitir a continuidade da espécie.

O descontrole de Noé neste ponto é tanto que há momentos em que quase se pode simpatizar um pouco com o vilão Tubalcaim (Ray Winstone), um líder guerreiro, descendente do assassino Caim, que entrou escondido na arca. Pelo menos ele defende o livre-arbítrio humano, ainda que absoluto, diante dos misteriosos desígnios divinos, que podem não passar de uma expressão pura e simples das forças da natureza.

Mas é claro que toda esta fábula neo-mística/ecológica, dirige-se contra os instintos assassinos de Tubalcaim, que representa uma humanidade predatória, em última análise, até contra si mesma. Resta esperar que Noé recupere o juízo. Afinal, dele depende todo o resto da história da humanidade.

Decididamente, "Noé" não é para menores. Há violência, antropofagia e sugestão de incesto. Por isso, a censura de 14 anos.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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