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Depardieu diz ter se tornado ator porque não queria trabalhar, mas viver

22 mai 2015 - 13h17
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"Fui ser ator porque não queria trabalhar, preferia viver", afirmou Gérard Depardieu nesta sexta-feira em Cannes, natural e direto como costuma ser, mas mais comedido do que em outras ocasiões e sem levantar polêmicas políticas.

Depardieu apresentou nesta sexta-feira, junto com Isabelle Huppert, o filme "Valley of Love", de Guillaume Nicloux, na competição oficial de Cannes, que representa o reencontro de duas estrelas francesas 35 anos depois do filme "Loulou" de Maurice Pialat.

O ator monopolizou a entrevista coletiva, e reconheceu abertamente que o melhor de seu trabalho é que permiti-lo aproveitar a vida.

"Além disso, se na filmagem há um bar, nos alimentam e cuidam de nós, é tudo perfeito", disse Depardieu, que garantiu que "não se deve subestimar o ofício de um ator, pois permite trabalhar menos e viver mais".

"É vulgar, mas é a verdade", afirmou o ator, de 66 anos, que possui mais de 200 trabalhos em mais de 45 anos de carreira.

É a mesma profissão do personagem que interpreta em "Valley of Love", um ator que se reencontra com sua ex-esposa anos depois da separação, o último pedido do filho deles em um bilhete antes de se suicidar.

O longa se passa no americano Vale da Morte, na Califórnia, local que é "o elemento desencadeante da história", explicou o diretor.

E se desde o primeiro momento contou com Huppert para o personagem feminino, a primeira opção para o masculino era Ryan O'Neal, mas finalmente se encontrou com Depardieu, que deu ao personagem uma volumosa ternura que contrasta com a frieza da mulher.

"Li o roteiro e fiquei maravilhado com o pequeno toque fantástico e de tudo o que podia transmitir, a forma de recuperar um vazio de 30 anos" na relação entre duas pessoas, explicou Depardieu.

Além disso, este projeto o permitiu se reencontrar com Huppert. "Estar quatro semanas juntos me encantou", disse o ator, que garantiu que por trás das câmaras deram o abraço que seus personagens não dão no filme.

Na realidade, explicou Huppert sobre seus personagens, "era como se estivessem se encontrando pela primeira vez, voltam a passar por todas as etapas de uma nova relação".

As semelhanças não param por aí. Nessa história os atores utilizaram seus nomes reais, e Depardieu interpreta um ator que perdeu um filho, como aconteceu com ele e seu filho Guillaume, morto aos 37 anos.

"Podia imaginar muito bem a situação, mas não se deve buscar em si mesmo" para interpretar um papel, assinalou o ator, que disse não ter sido uma história especialmente dolorosa.

Depardieu falou da morte de seu filho com a mesma naturalidade de quando disse ter "tendências banais e não o gosto de um cinéfilo", sobre os filmes que gosta de assistir.

"Vejo principalmente séries, adoro séries. E adoro atores como Bruce Willis, que a princípio não me agradava nada, mas todos seus filmes, cheios de efeitos especiais e com personagens me encantam", disse, com bom humor.

Repetidamente perguntado sobre sua opinião sobre a Rússia - em 2013 recebeu a cidadania russa após deixar a França e se instalar na Bélgica - e a Ucrânia, Depardieu reconheceu que gosta muito Vladimir Putin, mas que não tem uma visão pública do que ocorre nesses países.

"Adoro a Ucrânia e sei que se a Crimeia fosse americana a situação seria diferente", disse antes de ressaltar que viajou muito para o país quando era presidente Viktor Yushchenko, sobre quem destacou que "nunca quis o poder".

Ele considera "muito difícil de julgar" a situação da Ucrânia, da mesma forma que a da Rússia.

"Não tenho a pretensão nem de conhecer nem de ser o porta-voz de ninguém. Não gosto de guerras, dos conflitos e mortes que provocam, mas também não dos conflitos sobre os quais ninguém fala e que em um momento ou em outro vão explodir", afirmou.

EFE   
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