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Diretor debate papel da mídia com 'O Abraço Corporativo'

29 out 2009 - 12h48
(atualizado às 13h02)
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O novo projeto do jornalista e agora cineasta Ricardo Kauffman estreia nesta quarta-feira (28) no cinema: O Abraço Corporativo, que entra na programação da 33ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

» 'O Abraço Corporativo' questiona verdade jornalística"

» Confira a programação da mostra"

O filme tem como personagem central Ary Itnem, um consultor de Recursos Humanos e membro da Confraria Britânica do Abraço Corporativo, entidade cujo único registro na internet está vinculado ao próprio Ary Itnem e que foi inspirado na campanha Free Hugs, criada por Juan Mann (www.freehugscampaign.org). Porém, não é sobre Ary, Recursos Humanos ou abraços gratuitos que o filme fala. Para Kauffman, a discussão central é observar como discursos clichês são vendidos pela mídia como notícia e tomam dimensões gigantes uma vez que são divulgadas pela imprensa.

Entre a projeção que Ary Itnem vai rapidamente ganhando, por vários e distintos meios de comunicação, são intercaladas entrevistas com jornalistas e personalidades que tentam opinar sobre o modus operandi da mídia, seus critérios, filtros e avaliações do que é notícia e do que é verdade. Entre os entrevistados, nomes como Juca Kfouri, Eugênio Bucci, Contardo Calligaris e o ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo.

Confira abaixo uma entrevista com Kauffman que, como jornalista, já passou por meios como os jornais Gazeta Mercantil, Diário do Grande ABC e a rádio Jovem Pan. No cinema, Kauffman ajudou, entre outros trabalhos, na pesquisa de roteiro para o longa Chega de Saudade (2008), de Laís Bodanzki. A lembrar que, durante a Mostra, o documentário ainda será exibido nos dias 29, 1º e 3 de novembro.

De onde veio a ideia de fazer O Abraço Corporativo?

Tudo começou depois de algumas conversas com amigos. Estávamos discutindo sobre como a mídia abriu demais espaço para absolutamente tudo, mesmo que sejam coisas muito clichês, vazias de ideia. Gosto de documentário que se lança para retratar alguma sem saber onde aquilo vai dar e a proposta inicial do filme era acompanhar alguém que tivesse um discurso pouco ou nada consistente, e que tivesse disponibilidade pra fazer qualquer coisa para aparecer na imprensa. E ver também se a imprensa daria espaço para essa pessoa. Até que achei esse consultor de Recursos Humanos que não tinha cliente nenhum, mas era um cara simpático, disposto a fazer qualquer coisa pata aparecer. E ele ocupou um espaço significativo da mídia.

O que você queria provar com esse filme, qual a intenção?

O que queria era discutir porque que hoje a mídia publica histórias inconsistentes. A ideia era ir para campo e conferir uma coisa que eu apenas intuía. O filme não tem a capacidade de ser um projeto científico, de pesquisa quantitativa ou qualitativa. O objetivo era apenas constatar se de fato a mídia publica coisas inconsistentes e se isso tem importância ou não para as pessoas. Recentemente tivemos o caso de um pai que simulou o risco que seu filho corria dentro de um balão, tudo para ganhar projeção. E outras notícias que não são notícias volta e meia aparecem. Para discutir isso, o documentário exibe 10 entrevistas com jornalistas que conversam sobre essa inconsistência dos assuntos.

Você conseguiu chegar a alguma constatação?

Acho que antigamente havia mais filtros. É claro que também saiam histórias inconsistentes, mas hoje a mídia lança um olhar para a coisa já assumindo que ela não está muito interessada em saber se é verdade ou não. Fica embutido uma crítica aí que os próprios jornalistas se fazem: a de que queríamos sim contar histórias consistentes, mas que elas são irrelevantes diante desse modelo econômico.

E de que maneira você conheceu Ary Itnem?

Bem, na verdade, existe um momento no filme em que se revela como foi esse encontro e não quero estragar a surpresa. Mas o fato é que, antes de Ary Itnem aparecer na imprensa, ele nunca havia dado uma palestra sequer. O filme acompanha a divulgação dele como esse consultor de Recursos Humanos. Foram produzidos releases sobre o representante no Brasil da Cbac (Confraria Britânica do Abraço Corporativo) e no release já se dizia que ele estava chegando ao Brasil naquele momento e que ainda não tinha cliente.

E o que ele vendia como produto?

Ele pregava essa ideia de que o abraço reduz estresse, ajuda a comunicação interna das empresas, esse tipo de coisa. Quando a história do "free hugs" (Campanha dos Abraços Grátis, que começou em 2004, com Juan Mann), começou a pegar, Ary produziu um vídeo institucional que virou um hit nacional no You Tube. E então várias pautas, não necessariamente sobre Recursos Humanos, começavam a chamar o Ary para ser personagem em várias matérias. Esse volume de espaço que ele ganhou na mídia é impressionante e eu estava procurando um personagem que fosse assim.

A ideia do seu documentário lembra um pouco um outro filme que está sendo lançado este ano, o Starsuckers, de Chris Atkins, em que ele faz uma crítica à indústria de fofoca e prova que notícias falsas e inconsistentes são publicadas por grandes meios de comunicação.

Pois é, me falaram desse filme, ainda não pude saber mais sobre ele, mas acho que o nosso questionamento é semelhante.

Existem documentários ou documentaristas que te inspiraram?

Gostei muito do resultado de Super Size Me. Acho que, assim como o Morgan Spurlock, sou um jornalista que começou um documentário de posse de uma ideia e um objeto claro. O Super Size Me também é um pouco precário do ponto de vista técnico e essa é uma coisa incrível que a tecnologia nos permite hoje. Porque agora você pode fazer um filme sem praticamente ter dinheiro.

E quanto a Michael Moore, você reconhece o trabalho dele de documentarista?

Os filmes do Michael Moore são uma outra referência parcial para meu trabalho, porque também se trata de um jornalista que faz filmes sobre ideias em que ele acredita. O problema é que ele força um constrangimento em seus filmes e não me identifico com isso.

Quando O Abraço Corporativo estreia no circuito comercial dos cinemas?

Ainda não sei, existe uma distribuidora que tem interesse, mas nada foi fechado. Por enquanto, o filme será exibido em festivais. Aliás, ele acaba de ser selecionado para o Festival de Viña del Mar, no Chile, que acontece em novembro.

Qual seu próximo projeto?

Bem, por enquanto, estou bem focado no lançamento de O Abraço Corporativo. Ainda não tenho uma mínima consistência de meu próximo projeto pra falar alguma coisa sobre ele.

Ary Itnem em cena de 'O Abraço Corporativo'
Ary Itnem em cena de 'O Abraço Corporativo'
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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