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Diretora de 'Revelando S. Salgado': "eu não estava 100% confortável"

13 ago 2013 - 15h40
(atualizado às 15h48)
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<p>Diretora do longa, Betse de Paula (de blusa preta) participou de debate no Festival de Gramado</p>
Diretora do longa, Betse de Paula (de blusa preta) participou de debate no Festival de Gramado
Foto: Edison Vara/PressPhoto / Divulgação

Para o primeiro documentário já produzido sobre a vida de Sebastião Salgado, talvez o que o público esperasse fosse um posicionamento e um foco maior a respeito dos polêmicos trabalhos do fotógrafo, responsável por trazer à tona a ambiguidade entre miséria e beleza. Mas não é esse o foco de Revelando Sebastião Salgado, único longa do gênero entre os concorrentes da seleção de filmes nacionais da 41ª edição do Festival de Gramado, realizada nesta semana, na região serrana do Rio Grande do Sul.

"Eu não estava 100% confortável para criar polêmica. Até porque, se fizesse isso, ele podia se levantar do nada e falar, 'acabou o tempo'", admitiu a diretora do longa, Betse de Paula, em debate com jornalistas realizado na cidade gaúcha, no início da tarde desta quarta-feira (13).

O temor tinha motivo de ser. Salgado não é uma pessoa de fácil acesso. Seus projetos, como o realizado em Serra Pelada (PA) sobre o difícil cotidiano dos garimpeiros na região, são frutos de meses de dedicação, no quais não só observa, como convive diariamente com seus objetos de estudo, dormindo onde eles dormem, se alimentando do que comem.

Cena do filme 'Revelando Sebastião Salgado'
Cena do filme 'Revelando Sebastião Salgado'
Foto: Divulgação

De fato, a mãe de Betse e também produtora do longa, Vera de Paula, vinha desde a década de 1990 tentando viabilizar a produção do documentário. Isso só foi possível agora, cerca de 20 anos depois, quando, após algumas tentativas, Salgado enfim concordou em abrir as portas de sua casa em Paris para rodar a produção. Ainda assim, o tempo foi escasso: cerca de uma hora por dia ao longo de três dias.

Todo esse tempo dedicado à profissão acaba sendo o foco principal do projeto, uma co-produção da Rio Filme com o Canal Brasil. "Meu objetivo não era polemizar, era mostrar o cara que quase virou doutor em economia e que resolveu dedicar seu tempo para fotografar a humanidade. Era fazer um perfil, mostrar a forma como ele trabalha, enfim, fazer o primeiro documentário brasileiro sobre Sebastião Salgado", disse a diretora.

Além de Betse e Vera, estiveram presentes no debate, mediado pelo jornalista Carlos Eduardo Lourenço Jorge, o diretor de fotografia do longa, Jacques Chuiche, e a editora de som, Virginia Flores.

"Descobrimos várias coisas sobre ele. Eu não sabia, por exemplo, que o Tião passava meses morando com índios para fotografá-los. E o conheço há anos", enfatizou Betse, citando a característica como uma das mais fascinantes de Salgado, cujo trabalho, majoritariamente produzido em preto e branco, ganhou destaque em 1986, com o registro de povos indígenas em Outras Américas (Companhia das Letras).

"Realmente o que mais me atraiu nele foi essa relação que ele tem com os fotografados. Ele vai ficando íntimo, então o fotografado se permite tirar a foto. Ele dá a foto de presente."

Apesar de considerado um dos destaques do Festival de Gramado até o momento, Revelando Sebastião Salgado, assim como outras produções do evento, ainda não tem previsão para chegar aos cinemas. Na verdade, é bem provável que isso sequer ocorra, devido às dificuldades dos cineastas do País em emplacar produções nacionais de menor apelo comercial.

"Quando fazemos cinema no Brasil, a gente é o homem bomba, o homem de frente, aquele que está lá para se explodir. Não temos espaço. O cinema brasileiro tem, talvez, 20% do espaço nas salas, e isso é muito difícil. Claro, eu adoraria lançá-lo, mas tem que ter dinheiro", lamentou Betse. "Se rolar, show."

Fonte: Terra
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