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Documentário sobre fundador do Wikileaks é exibido em Cannes

19 mai 2016 - 16h29
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O jornalista e ativista australiano Julian Assange, fundador do Wikileaks e recluso na Embaixada do Equador em Londres há quatro anos, foi representado no Festival de Cannes nesta quinta-feira por um filme de Laura Poitras, especialista na abordagem de vazamentos de documentos secretos.

O documentário "Risk" acompanha Assange ao longo de vários anos, embora tenha como foco o transcurso do processo contra ele no Reino Unido. A decisão judicial foi entregá-lo à Suécia, o que motivou o jornalista a buscar asilo político na delegação equatoriana.

Recebido com aplausos, o filme aborda a luta de Assange - que aparece como um idealista que tenta mudar o mundo - mais que a personalidade do ativista e os segredos da denúncia por assédio sexual na Suécia.

As poucas referências íntimas a Assange no filme saem de um encontro com a cantora americana Lady Gaga, e que foi gravada por Poitras.

"Não sou uma pessoa normal", diz Assange, para depois confessar que nunca chora e que qualquer coisa que aconteça pode levar "grande parte do mundo" a reagir.

O documentário também mostra algumas cenas cotidianas que humanizam o personagem, como seus problemas para colocar uma lente de contato e as risadas ao assistir um vídeo de um cachorro latindo enquanto dorme.

Mas o fundamental não está no retrato do personagem, e sim em seu combate contra o poder estabelecido, o que fica claro desde a potente primeira cena do filme.

"Risk" começao com uma ligação que Assange e sua colaboradora Sarah Harrison fazem ao Departamento de Estado americano para alertar sobre um vazamento não autorizado de documentos que estavam em poder do Wikileaks.

"Olá, quero falar com Hillary Clinton (à época secretária de Estado americana)", afirma Harrison à telefonista que atende a ligaç

A exibição do filme se tornou um ato de protesto a favor de Assange, já que na ocasião seus colaboradores Jacob Appelbaum e Sarah Harrison aproveitaram a oportunidade para ler uma declaração em sua defesa, além da própria cineasta.

"Apoio firmemente o trabalho do Wikileaks e estou muito preocupada com o que os governos fazem", disse Poitras, sem medo de se posicionar a favor do trabalho de Assange e sua equipe.

Poitras começou a trabalhar neste filme antes inclusive de iniciar "Citizenfour", o documentário sobre o vazamento de informações da NSA por Edward Snowden, trabalho pelo que recebeu o Oscar em 2015.

A cineasta foi também muito crítica em relação ao trabalho dos jornalistas, que se dividem entre os realmente querem informar as pessoas e os que são "meros propagandistas", como acontece, segundo sua opinião, com a maioria dos jornalistas americanos.

Appelbaum e Harrison, que aparecem em "Risk" retratados como os fiéis escudeiros da empresa de Assange, lembraram que o grupo de trabalho sobre a tortura da ONU denunciou a situação vivida pelo cérebro do Wikileaks.

"Julian Assange não viu o sol em quatro anos e o Reino Unido se nega a oferecer tratamento médico", afirmou Harrison, enquanto Appelbaum considerou que não acredita que uma eventual chegada de Hillary Clinton à Casa Branca melhorare a situação do australiano, muito pelo contrário.

Harrison, britânica, e Appelbaum, americano, não pisam em seus países de origem há três anos por medo dos governos, enquanto Poitras suspeita que continue incluída na lista de terroristas elaborada pelos Estados Unidos.

Na metafórica cena final, Assange, que não anda pelas ruas há quase dois mil dias, aparece junto a uma janela aberta tentando aspirar um pouco de ar do exterior.

EFE   
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