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Em filme, Tainá Müller vive mulher que apanha do marido e prostituta

4 mai 2012 - 13h11
(atualizado às 14h18)
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André Naddeo
Direto do Rio de Janeiro

Prestes a completar 30 anos, Tainá Müller está a léguas de distância de sua personagem Paula, em Insensato Coração, pela qual ficou bastante marcada não só por ser mimada, mas por atestar todas as falcatruas do pai, o banqueiro Cortez (Herson Capri).

A atriz esbanja maturidade e vive o auge de sua carreira: já finalizou as gravações de sua primeira comédia, E aí, Comeu?, estrelará até o final do ano As Fantásticas Aventuras de um Capitão, adaptação do livro Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado, e vai entrar na novela das sete Cheias de Charme. Será sua terceira novela, além de dois curtas e outros sete longa-metragens que já tem no currículo.

"Hoje sou muito feliz. Minha profissão é a coisa mais importante que eu tenho, fora as pessoas que eu amo. Eu poderia ter ficado na minha cidade, com minha família, e eu fui abdicando de tudo por essa escolha", explica a gaúcha, natural de Porto Alegre. "Cada vez mais na pós-modernidade as escolhas vão ficando cada vez mais difíceis e presentes na vida das pessoas, porque as possibilidades são inúmeras", complementa, quase que filosoficamente.

Neste bate-papo exclusivo com a reportagem do Terra, no set de filmagem de As Fantásticas Aventuras de um Capitão, Tainá fala sobre sua personagem na próxima novela global e também no longa do diretor Marcos Jorge, que pela primeira vez em sua trajetória não terá falas. Será pura e simplesmente narrada. Seu único texto é um monólogo ao final da trama.

"Pegando para mim esse monólogo, eu vejo muito mais como que escolhas você faz na vida mesmo. Porque, ao mesmo tempo, somos humanos, estamos sempre entre o céu e a terra. Então, você tem a possibilidade do sonho para ir aos lugares onde a sua consciência pode te projetar, para as ilusões que você forma, para os desejos e motivações que vão levar você para um lugar que você nem sabe", disse.

Terra - Como esse papel em As Fantásticas Aventuras de um Capitão veio parar no seu colo?

Tainá Müller - A Cibele, produtora do elenco, me chamou para um teste, e o texto era exatamente o monólogo que eu gravei ontem. Aí eu fiz esse teste, foram dois, na verdade, e eu passei. E o que me instigou nessa personagem é a duplicidade. Foi a primeira coisa que me chamou a atenção. São duas personagens numa só. É uma mulher que aparece num primeiro momento angustiada com um casamento errado, um marido que a agride, e ela num navio em situação de prisão. E ela encontra no (capitão) Vasco (vivido pelo ator português Joaquim de Almeida) o amor e um jeito de fugir daquela situação. E na outra situação, ela é uma prostituta de cabaré. Então ela é uma dama da sociedade, e depois uma prostituta, uma outra situação de vida, uma outra força, então para mim isso foi muito legal. E ao mesmo tempo uma personagem que não fala! Ela só fala no final, num monólogo, ela é narrada o tempo todo. Eu nunca fiz nada assim.

Terra - Nada de falas?
Müller - Nada, eu só tenho um monólogo no final, sobre a verdade, um texto grande, mas durante o filme eu sou toda narrada.

Terra - Qual é a relação do monólogo com a verdade?
Müller - Eu acho que a questão da verdade é muito ampla. A gente pode falar de uma verdade existencial, sobre o que é real mesmo. É muito difícil a gente ler essas camadas. O que é ilusão? Num plano maior, o que é a verdade sobre a existência em si, que é uma questão eterna, que a arte, a ciência e a religião tentam explicar e chega a vários lugares, mas a nenhum consenso. Num plano geral é isso.

Pegando para mim esse monólogo, eu vejo muito mais como que escolhas você faz na vida mesmo. Porque, ao mesmo tempo, somos humanos, estamos sempre entre o céu e a terra. Então, você tem a possibilidade do sonho para os lugares onde a sua consciência pode te projetar, para as ilusões que você forma, para os desejos e motivações que vão levar você para um lugar que você nem sabe.

Terra - E como foi essa experiência?
Müller - Foi um desafio, porque você tem que passar a emoção toda com o corpo, com a expressão, o olhar. Foi um exercício muito bacana. Eu gosto como atriz de trabalhar o corpo, eu sempre gostei de dança. Mas ao mesmo tempo eu vim de um exercício de muito apoio no texto, então eu gosto de texto também. Comecei muito mais pelo corpo, e depois fui aprofundando no texto (na carreira), e aí chega um filme que não tem texto! Foi um grande desafio.

Terra - Você fez faculdade de jornalismo, mas sempre quis trabalhar com cinema?
Müller - Sétimo longa metragem, e dois curtas. Minha história é mais relacionada ao cinema do que à TV. Vou lançar logo mais o E aí, Comeu?, que é uma comédia, minha primeira, aliás. Fiz o Tropa de Elite, vários filmes, então eu me sinto muito ambientada num set de cinema, porque antes de ser atriz eu fiz jornalismo.

E não tinha faculdade de cinema no sul (é de Porto Alegre), quem absorvia essa parte da academia de cinema, era o jornalismo. E você podia escolher no final para que área você seguiria, e eu escolhi cinema. Então, com 17 anos eu fui assistente de direção na Casa de Cinema. Eu sempre quis trabalhar com cinema. Eu só não sabia onde! Mas eu já trabalhei como assistente de direção, assistente de montagem, trabalhei com produção, e fiz até trabalho como continuísta.

Terra - Tem saudade dessa época?
Müller - Foi uma época muito importante, que me ensinou muito, entendeu. Até para chegar a ser atriz sem esse vislumbre que a profissão pode trazer, sabe? Eu já servi água para ator, eu sei como é estar do outro lado, já produzi, e hoje eu entendo as necessidades do ator também. Sei como funciona tudo. Mas saudades, não, porque eu não era feliz. Eu sempre senti uma vontade de expressão maior do que aquilo.

Hoje sou muito feliz. Minha profissão, não vou dizer que é tudo o que eu tenho, porque tenho pessoas muito especiais na minha vida, mas é a coisa mais importante, fora as pessoas que eu amo. Eu poderia ter ficado na minha cidade, com minha família, e eu fui abdicando de tudo por essa escolha. A escolha do ator é quase "monastérica". Porque compromete muito sua vida pessoal, seu emocional. Cada personagem é uma entrega, é um mergulho, você tem que entrar, e depois sair. Mexe muito.

Terra - Tem contato com as amigas do sul? Ou sua escolha mudou isso?
Müller - Do sul eu já saí há 7 anos, então são poucas as amigas que eu ainda tenho por lá e quando vou as encontro, visito e ligo. Mas hoje eu vivo entre Rio e São Paulo. Não moro nem mais em São Paulo e nem mais no Rio. É realmente bem dividido. Claro que no meio disso tudo, você enfrenta uma certa solidão, mas você aprende a lidar com ela. Hoje eu tenho grandes amigos no Rio, e em São Paulo, mas acaba sendo uma vida mais desgarrada. Eu gosto disso. Criando várias raízes, eu sempre quis isso, escolher uma carreira sem rotina.

Terra - Dá para fazer uma comparação do monólogo da verdade, com a sua própria trajetória?
Müller - Exatamente. Acho que não é uma coisa só minha, né, é de todo mundo. Cada vez mais na pós-modernidade as escolhas vão ficando cada vez mais difíceis e presentes na vida das pessoas, porque as possibilidades são inúmeras. Na geração dos meus avós, as escolhas não eram tantas, era tudo muito óbvio para uma mulher: ela cresceria, ela teria uma profissão, sei lá, como professora, casamento, e teria os filhos. E tentaria ser feliz ali. Hoje uma mulher pode ser presidente da Petrobras, da República, pode ser uma dona de casa, pode estar aqui fazendo um filme, desgarrada de suas raízes!

Eu posso largar tudo e virar garçonete em Paris seu eu quiser, sei lá, entendeu? Que escolha tomar? Quando o Jorge Amado escreveu esse texto, ele ainda não sabia o significado que este texto teria hoje, talvez, mas ficou super contemporâneo. No monólogo eu falo: onde é que está a verdade? Está na pequenez do dia a dia, nas futricas, na chatice até, ou ela está no sonho que nos é dado a sonhar para fugir de nossa triste condição? É muito complexo.

Terra - Você chegou a alguma conclusão, pessoalmente falando?
Müller - Não, e eu acho que no monólogo eu tentei fazer de uma forma que instigasse o público a sua própria conclusão. Em nenhum momento eu defendi um ou outro. Num primeiro momento, o sonho é mais tentador, mais bonito, que a gente colore com as cores que a gente quiser, e a vida, não. Ao mesmo tempo, ninguém vive só um sonho, a realidade é muito presente. É o dilema humano, né, é o nosso desafio, não adianta.

Terra - E poder trabalhar ao lado de atriz renomadas como a Claudia Raia e a própria Patrícia Pillar, como foi?

Incrível. Foram pessoas que é até engraçado pensar como estão presentes no nosso imaginário. Antes mesmo de eu saber que um dia eu seria atriz elas já estavam trabalhando. Acontece tudo de uma forma bastante natural para mim hoje.

Terra - E rapidamente.
Müller - Sim! Tenho muito carinho por estar com pessoas que são referência. Gosto muito de ouvir o que elas têm a dizer.

Terra - Saindo do cinema, para a TV: quer dizer que você vai entrar na novela Cheias de Charme?
Müller - Sim! Vou ser uma galerista. Neste momento (brincando), estou em Berlim, não estou aqui, vivendo toda aquela efervescência cultural e artística, estudando artes. E eu venho para cá, sou irmã da Lígia (advogada vivida pela atriz Malu Galli), sou daquela família. E decido voltar para o Brasil. E eu vou administrar uma loja-galeria, vou descobrir um grande talento.

Vou contracenar bastante com a Malu Galli, com o Miguel Roncatto, que será meu sobrinho. Eu vou ser bem sincera: o capítulo eles só entregam até o 18, e eu entro no 38, então eu nem tenho ainda. E nem posso dizer. Não sei muito ainda o que que vai ser. Tenho certeza que vai ser bem legal.

Tainá Müller vai entrar no elenco de 'Cheias de Charme'
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Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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