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Exclusivo: Diretor fala das ideias por trás de 'Lixo Extraordinário'

19 jan 2011 - 12h31
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Não espere deste documentário que ele passe a mão na sua cabeça e o redima de seus pecados cotidianos. Lixo Extraordinário é um filme que joga sal em feridas que costumamos ignorar em nome da saúde de nossa consciência limpa. Um dos 15 filmes pré-selecionados para concorrer ao Oscar na categoria Melhor Documentário, essa co-produção Brasil/Inglaterra estreia neste fim de semana no Brasil e tem como foco o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz no maior aterro sanitário da América Latina, o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Na base do relato, a construção coletiva de telas gigantes com os trabalhadores desse colossal lixão. Conversamos com um dos três diretores do filme, João Jardim, que nos deu informações sobre os bastidores desse longa (confira crítica do filme no link abaixo).

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Diretor de filmes Janela da Alma (2001) e Pro Dia Nascer Feliz (2006), Jardim explicou que o processo de criação do filme partiu, de fato, de uma ideia do produtor. Colecionador de arte contemporânea, Angus Aynsley teve que achar três diretores para se dividir atrás das câmeras. Jardim foi o segundo a assumir o filme.

"O Angus é um colecionador de arte que queria produzir cinema e já tinha feito um curta com um artista plástico, o Andy Goldsmith. E enfim, ele é um cara um cara rico e o Vik Muniz estava fazendo um "portrait" do filho dele com geleia. E foi aí que ele começou a pensar em um filme sobre o Vik", explica Jardim.

Daí por diante, Lixo Extraordinário passou a ser um trabalho em andamento, sem data para terminar. "Angus contratou a Lucy (Walker) pra ser a diretora. Isso foi em 2006 ou início de 2007. Sei que eles foram conversando e o Vik sugeriu essa ideia de fazer no Brasil com os catadores de lixo, porque ele já tinha feito uns quadros de sucata e porque ele queria trabalhar nesse universo de ver como a arte poderia influenciar a vida de pessoas que nunca lidaram com isso. Essa foi a premissa inicial do filme. E todo aquele princípio do filme é realmente o princípio do planejamento do filme, eles pesquisando onde e como poderia ser feito."

Os cerca de 20 minutos iniciais do filme, portanto, dão conta desse processo de prefácio do filme em si, registro raro que somente com uma produção que, graças ao financiamento de Aynsley, não precisou passar por aprovações de leis de incentivo para começar suas filmagens. João Jardim entrou logo depois desse processo."Quando o filme chegou pra mim eles tinham filmado a gênese, que é o planejamento e a descoberta de Jardim Gramacho. E aí tive toda essa parte de imaginar como filmar Gramacho, como se aproximar do lixo, que câmera usar. Tive que pensar um novo filme que ia até o momento em que o Vik ia vender em Londres o quadro criado em Gramacho, e voltar pro Brasil com o dinheiro arrecadado que seria então utilizado por aquelas pessoas. Mas quando começaram a montar o filme e viram que aquilo estava rendendo, eles decidiram continuar filmando mais e aí tivemos mais uma etapa. Nesse momento a Karen (Harley), que já era editora do filme, assumiu como diretora e continuou sozinha."

Sobre a montagem do longa, o diretor brasileiro deixa claro que juntar as peças era certamente o maior desafio do projeto: "Existem três aspectos da arte: um é o processo de criação, dois é o dinheiro que ela envolve e três é o trabalho criativo em si, que neste caso é pegar pessoas que vivem catando lixo e colocar elas em um ambiente em que elas estão transformando lixo em arte. Então tínhamos essas três coisas para colocar dentro do filme e, além disso, tínhamos o protagonista, Vik Muniz, que não é nenhuma dessas três coisas. O processo de trabalhar na ilha de edição era fazer com que o espectador pudesse passear por esses quatro universos."

O problema é que, com o final das filmagens, o produtor, de olho no público estrangeiro, achou a montagem final com uma abordagem "brasileira demais", segundo Jardim e foi aí que essa documentário-lego, construído no encaixe de várias peças com cores distintas, voltou para as mãos de Lucy Walker, que deu a edição final e conseguiu, entre outras coisas, colocar Moby na trilha sonora que fecha a história.

Jardim explica que, de sua parte, havia uma preocupação particularmente pessoal quanto ao acompanhamento da relação entre Vik e os catadores de lixo que o ajudam a criar sua obra. "Na minha parte do filme, o que tentei foi fazer com que as pessoas se relacionassem com aquele lixo como se ele fosse o lixo da casa delas. É como se você estivesse vendo o filme e falasse: 'aqui tem o meu lixo, eu estou dentro disso também'. Era uma coisa meio pessoal minha fazer com que o público tomasse consciência sobre a questão do lixo.

E, acredite, consciência é algo que, depois deste filme, vai pesar na hora que você decidir jogar seu lixo fora.

João Jardim, um dos diretores de 'Lixo Extraordinário'
João Jardim, um dos diretores de 'Lixo Extraordinário'
Foto: Divulgação
Fonte: Redação Terra
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