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Fernanda Torres e Luiz Fernando falam sobre 'Os Normais 2'

28 ago 2009 - 13h09
(atualizado às 14h02)
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No meio da entrevista com uma mesa de jornalistas, Luiz Fernando Guimarães esclarece: "Aliás, a todos vocês, meu nome é com 'z'." A observação do ator vem seguida de uma consideração bem-humorada de sua amiga e colega de cena, Fernanda Torres: "It's Liza with a Z, not Lisa with an S", brinca a atriz, em uma referência à música de Liza Minelli. O ambiente não poderia ser mais informal. Afinal de contas, trata-se de falar sobre a volta do título que rendeu a esse casal boas piadas e um reconhecimento de público tão grande que fez a Imagem Filmes apostar em cerca de 400 cópias de Os Normais 2 que chegam nesta sexta-feira (28) às salas brasileiras. Número recorde para o cinema nacional desde a chamada retomada.

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Fernanda e Luiz Fernando são Vani e Rui, personagens que, no ápice de suas respectivas normalidades, conseguiram arrancar cúmplices risadas na série de TV exibida de 2001 a 2003, na Globo, e depois no filme baseado na série, exibido em 2003. O casal que, na verdade, nunca foi casado e sim noivo, está de volta. E os atores falam agora sobre toda a expectativa gerada por esse retorno e, claro, pelas citadas 400 cópias espalhadas pelo cinema brasileiro.

Entre brincadeiras e algumas ponderações, eles conversam com o Terra sobre cinema nacional, a maturação de Vani e Rui, Ivete Sangalo (sim, Ivete Sangalo) e opiniões não muito consensuais quanto a uma particular cena do filme.

Existe um cenário hoje no cinema nacional que consegue dialogar tanto com os filmes independentes, quanto produções de bilheteria recorde e também filmes que fazem parceria entre a sólida produção de TV e o cinema. No relacionamento entre cinema nacional e público, quanto mais elementos estiverem no relacionamento, melhor?

Fernanda Torres - O Brasil é um país tão grande, tão complexo que, quanto mais cinema, melhor. Um não tira o espaço do outro, pelo contrário, acho que tudo junto é o mercado de cinema para o público brasileiro. No Brasil, houve essa divisão entre a TV e o cinema. A TV é como se fosse de direita e o cinema de esquerda. Uma época foi assim. Era um apartheid. O cinema era a arte pura e a TV era o comércio. E uma das coisas ruins é que esses dois veículos não se conversavam. Acho extremamente bem-vinda essa parceria entre TV e cinema e acho que isso não vai comer o lugar do cinema independente. Pelo contrário, acho que você vai formando público para o cinema. Você aumenta a pressão...

Luiz Fernando Guimarães - Veículo, né? Você abre o veículo.

Fernanda Torres - Exatamente, porque se não entra a comédia brasileira, entra a comédia americana. Melhor que aqui isso se firme como indústria. Melhor pra todo mundo.

O número de cópias dos Normais 2 é algo equivalente a um lançamento de Harry Potter. Qual a expectativa de vocês em relação a isso?

Luiz Fernando Guimarães - Eu não sei o que isso significa, pra te falar a verdade.

Fernanda Torres - Significa muita coisa.

Luiz Fernando Guimarães - Eu sei que significa muita coisa, mas não tenho muito a dimensão disso.

Fernanda Torres - Por exemplo, A Mulher Invisível, do meu irmão (o diretor Cláudio Torres), ou mesmo Se Eu Fosse Você fizeram muito mais na bilheteria que muito Homem Aranha. Isso é impressionante. Isso abre uma perspectiva de melhores produções, de se investir mais no cinema.

Luiz Fernando Guimarães - Pelo que eu vejo, aonde vou tem a gente. No aeroporto, hoje parece que nós fomos eleitos pra presidente. Fiquei impressionado com a quantidade de propaganda, realmente há uma expectativa muito grande.

Fernanda Torres ¿ Mas é isso que significa 400 cópias.

Luiz Fernando Guimarães - O que sei é que a garotada que possivelmente está saindo de casa agora, e que não foi ver o primeiro Os Normais...Cara, essa garotada vai querer ver. Acho que esse filme vai encaixar muito bem. Mas essa realidade assim de 400 cópias... Bem, fui criado vendo chanchada. Minha realização é conseguir fazer um filme de comédia assim, ainda que eu não seja um ator de cinema. Me sinto bastante realizado em ver os filmes do Oscarito e Grande Othelo.

Fernanda Torres - O Homem do Sputinik...

Luiz Fernando Guimarães - O Homem do Sputinik... eu era fã. É uma realização estar fazendo esse tipo de filme, com esse sabor, esse humor.

Sobra algum espaço para improviso de vocês no filme?

Luiz Fernando Guimarães - A Fernanda falou muito bem na coisa física. A Vani e o Rui têm uma coisa física que é nossa. Mas tem hora que o texto é muito preciso e não vale a pena criar. Um ponto é um ponto e reticências são reticências. E quando o Alexandre (Machado, roteirista) quer dar essa chance, ele coloca ali entre parênteses "Fernanda, Luiz, resolvam isso aqui."

Fernanda Torres - E tem o improviso da mise en scène, quer ver um exemplo? Na cena com a Drica, o que estava escrito no texto é que a Vani voltava do banheiro e matava a Drica de cócegas. E a gente achou que "pô, mas a Vani acabou de estar danada da vida, ela está com ciúmes." E aí quando a gente voltou veio a ideia de bater na prima. Isso é o improviso.

Luiz Fernando Guimarães - Outro dia eu falei com você: Qual é a personagem que se atirava pela janela?

Fernanda Torres - Era a Cláudia Raia.

Luiz Fernando Guimarães - Mas ela se atirava por que? De depressão? Da banheira? A gente não pode matar uma personagem assim.

Havia essa cena?

Luiz Fernando Guimarães - Tinha. O Alexandre é louco (risos). Ele joga os personagens assim. Isso não pode, uma pessoa morta, calma aí.

Na leitura do roteiro, vocês têm um diálogo aberto com os roteiristas?

Fernanda Torres - Isso sim, mas a gente não tem, por exemplo, interferência no todo do filme depois.

Até porque há cenas em que vocês não estão.

Fernanda Torres - Exato, há uma figuração que é marcada independente da gente.

Luiz Fernando Guimarães - Mas o que a gente pode discutir em relação à nossa cena, a gente discute. Porque é na boa também. O primeiro (filme) teve mais discussões, ele estava mais incompleto. Este já veio prontinho. Nós fizemos uma leitura, né Nanda? E falamos do elenco possível.

Fernanda Torres - Isso a gente meio que escolheu junto.

Em que melhorou e em que piorou o relacionamento entre Rui e Vani?

Luiz Fernando Guimarães - Com o tempo, houve amadurecimento de ambos os personagens. Acho que a Vani ficou mais maluca, acho que nesse filme ela está bem mais maluca. O Rui está bem mais travado. Estou falando isso pelo que vejo, o resultado do filme. Porque enquanto a Vani está pirando lá, o Rui está sentado conversando com a Cláudia Raia, tentando do jeito Shrek dele chegar na mulher. Acho que a característica da Vani nesse filme ficou mais marcante. Ficou mais consistente. Ela é realmente maluca. Acho que a Vani simboliza o universo feminino mesmo e o Rui simboliza o masculino.

Fernanda Torres - O Rui é bovino né? E a Vani é zzzzzzzz, uma mosca.

Luiz Fernando Guimarães - Isso, ela fuça, e quem fuça quer resposta né?

Fernanda Torres - E quando voltamos a filmar e nos falaram que eles estava há 13 anos juntos, eu falei: "Como assim 13? Quem fez essa contagem?" E aí me olhei com aquele cordãozinho de pérola dizendo "nós estamos noivos", achei eles mais velhos. Achei diferente e acho esse filme menos ingênuo que o outro. E isso não é nem uma qualidade nem um defeito, acho ele mais hard core que o outro.

Luiz Fernando Guimarães - E tem uma coisa que a gente falou muito nesses últimos dias. Como é que dois personagens passam a noite inteira procurando uma terceira pessoa quando eles são uma ótima companhia um pro outro?

Fernanda Torres - E engraçado é que ela não tem ciúme dele.

Luiz Fernando Guimarães - É uma coisa doida né? E eles passam a noite num karaokê, num sábado? Os dois saindo num sábado? Isso é coisa de colega né? Não sei qual foi a discussão em casa pra chegar ali.

Vocês sempre souberam que iam voltar a interpretar esses personagens?

Luiz Fernando Guimarães - A gente já sabia, mas a Nanda ficou grávida, tínhamos um outro roteiro de filme. E quando ela voltou o Alexandre (Machado) achou que aquele roteiro já estava muito distanciado.

Fernanda Torres - Ah é? Tinha outro roteiro?

Luiz Fernando Guimarães - Tinha.

Fernanda Torres - Eu sou a última na cadeia alimentar (risos). É que demorou um tempo. Quando acabou Os Normais, a gente fez o filme e pra coroar aquilo era preciso dar um tempo. Fui fazer A Casa dos Budas Ditosos, Casa de Areia, o Luiz Fernando foi fazer O Super Sincero, Minha Nada Mole Vida e aí depois que todo mundo deu uma matada nas "traições" como eu chamo, aí começou a se falar de outro filme. Demorou um tempo até isso virar real e se escrever. Mas aí eu engravidei e demorou mais um ano.

Luiz Fernando Guimarães - Eu tenho impressão que o roteiro não era exatamente esse, porque aí depois ele falou: "vamos aproximar mais do programa, acho que o programa está muito longe". Tanto é que ele fala hoje: "esse é mais parente do programa do que o primeiro filme."

Vocês acham que seria legal mesmo voltar à fazer a série?

Luiz Fernando Guimarães - Eu também não sei dizer. Porque a gente só pode ter uma ideia quando tivermos uns 10 textos prontos, porque não sei como seria. Mas não vejo como uma coisa ruim não. Acho que quando a Fernanda fala que (a história) se esgotou naquela época, é porque nós vínhamos de três anos. Mas acho que o assunto tem fôlego. Mas não sei se conseguiríamos chegar a um formato de novo. Ou a um novo filme. Achei a coisa do filme ótima, deu uma viciada.

Fernanda Torres - É, eu não sei também. Mas eu sou o fim da cadeia alimentar, então podem decidir por mim.

Quando surgiram as conversas de voltar à série?

Luiz Fernando Guimarães - Soube dela pelo Eduardo (Figueira, produtor da série), que falou "Ah, vem cá, o que você acha de no ano que vem fazer uma coisinha pequena?" É sempre uma "coisinha pequena" pra não assustar. Mas aí temos que sentar pra conversar. Tem que colocar na prática isso.

Fernanda Torres - É, acho que seria uma temporada de 12, não?

Luiz Fernando Guimarães - Não sei. Voltaríamos ao cinema? Ainda não tenho ideia.

Vocês estão com outro projeto em cinema agora?

Fernanda Torres - Eu pretendo filmar A Casa dos Budas Ditosos, mas é meio que filmar a peça, não é um cinemão clássico.

Luiz Fernando Guimarães - Eu não tenho nada.

Se Vani e Rui fossem topar um ménage à trois com um político e uma celebridade nacional, quem seriam?

Luiz Fernando Guimarães - Não, político acho que o Rui não rolaria. Acho que teria que ser uma pessoa tesuda, assim uma Luana (Piovani) da vida, tinha que ser também um tipo pra Vani gostar.

Fernanda Torres - A Ivete né, mas ela ta grávida.

Luiz Fernando Guimarães - Ah, a Ivete podia ser.

Fernanda Torres - No Carnaval da Bahia.

Luiz Fernando Guimarães - Ivete ia ser uma boa. E a gente podia pegar a Ivete no trio!

Fernanda Torres - No trio!!!

Luiz Fernando Guimarães - E aí eles iam ficar lá embaixo: "vamos esperar a Ivete aqui". Porque ela vai lá embaixo uma hora! Isso é bem eles. Vani e Rui são dois pegadores e aí pegar a Ivete na escadinha do trio...

Fernanda Torres - Eles podiam estar na turma da pipoca!

Luiz Fernando Guimarães 0 Gente, se Alexandre (Machado) tivesse aqui agora ele ia ficar louco...

Fernanda Torres - Daí eles compram o abadá.

Luiz Fernando Guimarães - Isso, o abadá, pra poder chegar perto. E soltavam uma graninha pra convencer o cara de liberar a gente na hora que ela descesse. Pra encontrar no corredor e já beijar ali.

Fernanda Torres - Cara, ia ser ótimo no Carnaval da Bahia.

Vocês assistiram ao filme pela primeira em que momento?

Fernanda Torres - Semana passada.

Luiz Fernando Guimarães - Eu já assisti três vezes. Cada vez tive uma reação diferente.

Há uma cena especial que vocês gostem muito?

Luiz Fernando Guimarães - Eu gosto muito de duas cenas. Gosto do final, porque sempre gosto de um final romântico, acho belíssimo. E gosto da cena da Fernanda doida. Acho aquela cena maravilhosa e ela faz de um jeito... até a forma de falar, ela fala gaguejando, mas não é sofrida. Poderia ser uma cena sofrida, é um pulo. Porque é uma pessoa muito doida querendo uma...

Fernanda Torres - Iluminação.

Luiz Fernando Guimarães - Você fez o olho dela agora. E a outra cena é com o Daniel (Dantas). Aquele constrangimento de você não estar lembrando o nome do cara. Eu olho a minha cara e digo: "pô, ta na cara que eu não conheço ele". São as duas cenas que eu realmente rio como público.

Vocês acham que falta a graça do cotidiano no humor da TV brasileira?

Luiz Fernando Guimarães - Acho que tem o humor radialista na televisão, que conserva aquela coisa "faça humor, não faça guerra", que é a do Zorra Total, por exemplo. Tem atores maravilhosos ali, tem coisas boas, outras nem tanto. Tem o Casseta & Planeta, que faz o tipo de humor que deu continuidade ao TV Pirata. Tem A Grande Família, que é uma comédia de situação. Acho que há um humor bem diversificado. Acho que o nosso humor gerou coisas novas, coisas que ninguém falava. A calcinha pendurada, coisas que tinham muito importância no dia-a-dia.

O filme tem uma mudança de tom em relação à série com algumas abordagens mais populares. Qual a opinião de vocês quanto a essa mudança?

Fernanda Torres - Acho esse filme menos inocente.

Luiz Fernando Guimarães - Você já me falou isso, mas não sei, não consigo identificar direito. Ele tem menos a coisa do cotidiano e mais a coisa do casal. Mas quando você fala de um público mais popular...

As gags e cenas que são mais absurdas ou até mesmo um pouco escatológica como aquela do hospital, com a bengala... de um humor mais radialista.

Luiz Fernando Guimarães - Entendo o que você está falando. É um humor da direção. É como a Nanda estava falando, nós temos um humor dentro da nossa situação. É um filme que o diretor optou em abrir para esse grande público. Queria identificar a cena qual era.

Fernanda Torres - Ah, essa é muito...

Luiz Fernando Guimarães - Não é uma cena que eu ache graça. Não é o meu humor, mas está lá. Agora, o filme é do diretor e o (José) Alvarenga aposta realmente nisso. Ele acha bacana, ele ri. Então é isso. Também nem posso falar, ele é um ótimo diretor e diz que fez essas cenas pros filhos. Sério, porque eu pergunto: pra quem você fez essa cena? E ele diz "pros meus filhos".

Fernanda Torres - Até porque ela (a cena) insiste.

Luiz Fernando Guimarães - Isso, ela se estende, então ela deixa de ser uma piada. A piada tem que terminar aqui. Bem, essa da bengala, acho que nós todos concordamos...

Rui, Vani e uma suspeita preguiça
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Foto: Davi Almeida / Divulgação
Fonte: Redação Terra
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