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Festival de cinema de Gaza aborda a liberdade com arte

13 mai 2016 - 21h11
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Com o título de "Queremos respirar" e sem o glamour dos grandes eventos cinematográficos do Ocidente, o festival "Red Carpet" de Gaza foi inaugurado neste ano com cerca de 70 produções de todo o mundo que defendem o direito à vida e à liberdade.

Os 40 metros de tapete vermelho que abrem passagem para o Centro Cultural al-Shawa, na capital, são muito mais que um mero corredor para o desfile de estrelas, segundo o organizador do evento, Khalil al-Muzayan.

"Nossa mensagem é contar ao mundo que a população de Gaza quer respirar uma vida verdadeira, respirar liberdade e arte", afirmou o iniciador do projeto, que está na segunda edição e volta a desafiar as dificuldades políticas, religiosas, sociais, econômicas, e até psicológicas, na Faixa de Gaza.

Centenas de pessoas compareceram à inauguração do chamado festival Karama (Dignidade, em árabe), realizado pela primeira vez em 2015 no bairro de Shayaíe, o mais afetado pela guerra que as milícias palestinas e Israel travaram meses antes.

De acordo com al-Muzayan, é preciso dizer ao mundo que "a população de Gaza não gosta de morrer, que ama a vida" e que, apesar da destruição, "encontra um lugar entre os escombros para assistir filmes".

"Nesta edição, o objetivo é mostrar uma cara mais bonita de Gaza e que seu povo gosta de viver", acrescentou sobre o evento que faz parte de uma ampla rede de festivais no mundo árabe para criar conscientização sobre os Direitos Humanos.

Uma das exibições do festival é um documentário sobre o popular cantor palestino Muhamad Asaf, vencedor do concurso "Arab Idol", levado ao cinema pelo diretor palestino-israelense Hany Abu-Assad.

As produções palestinas se alternam nas telas até a segunda-feira com as de vários países árabes e ocidentais, em todos os casos com a abordagem de problemas sociais e políticos como ponto em comum. Também há comédias, mas sempre de um olhar político que lembra o público sobre a realidade que as pessoas buscam esquecer.

"Vim aqui com meus amigos porque é algo diferente. Ajuda o povo a superar e esquecer a horrível e mísera situação que vivemos em Gaza", comentou Suma Kabariti, uma mulher de 24 anos e fã de Asaf.

Na caótica realidade da Faixa de Gaza, controlada pelo movimento islamita Hamas desde 2007 e sob o bloqueio de Israel e mais recentemente do Egito, organizar um festival não é tarefa fácil.

É preciso superar barreiras tão surpreendentes como a de não poder apagar a luz da sala durante a exibição - a fim de evitar qualquer tipo de ato indecoroso para a sharia (lei islâmica) - e a análise de cada cena para cortar as que são problemáticas do ponto de vista social, político ou religioso.

As autoridades também proibiram uma das exibições no porto de pescadores porque a concentração de pessoas nas ruas está proibida.

"A equipe organizadora decidiu realizar este festival para as pessoas simples e marginalizadas de Gaza que foram esquecidas por seus líderes", se queixou al-Muzayan em uma incomum crítica aos governantes.

O colega Said Sweirki reivindicou o "direito a respirar" e "sentir-se livres", e culpou a "divisão interna palestina" - a divergência em 2007 entre os movimentos islamita Hamas e nacionalista Fatah, que governa na Cisjordânia - de ter prejudicado todos os aspectos da vida" na Faixa.

"Nossa mensagem é muito clara. Gaza tem a capacidade de viver em paz, longe da guerra e da miséria", especificou.

Para realçar essa mensagem, serão exibidos até a próxima segunda-feira 12 filmes narrativos, 17 documentários, 30 curtas e sete animações.

Os filmes que atraíram mais interesse estão em cartaz no grande Centro Cultural al-Shawa - com capacidade para 1,5 mil pessoas - e em outros dois teatros.

Os cinemas desapareceram da Faixa de Gaza no final dos anos 80, coincidindo com a explosão da primeira intifada contra a ocupação israelense e a chegada do aparelho de vídeo à região.

No entanto, nos últimos anos, alguns diretores locais como al-Muzayan tentam novamente atrair o público às telonas para que possam fazer algo tão simples no Ocidente, como "desfrutar de um filme".

EFE   
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