PUBLICIDADE

Síndrome de Down ganha visão cômica e livre de tabus em 'Colegas'

14 ago 2012 - 15h21
(atualizado em 1/10/2014 às 20h29)
Compartilhar
Exibir comentários

A síndrome de Down ganhou uma abordagem diferente na quarta noite do 40º Festival de Cinema de Gramado, com a exibição de Colegas, de Marcelo Galvão. Exibido com o recurso de audiodescrição - que beneficia portadores de deficiências visuais -, o filme usou muitas referências cinematográficas para criar um clima de fantasia. O road movie, que narra as aventuras de três amigos deficientes que decidem fugir de um instituto interno, se liberta de tabus ao retratar os personagens.

Juliana Didone concorre ao Kikito pelo filme 'Colegas'
Juliana Didone concorre ao Kikito pelo filme 'Colegas'
Foto: Alex Palarea / AgNews

Stallone, Aninha e Márcio trabalham na videoteca da instituição em que vivem e são aficionados por cinema. Inspirados pelo filme Thelma & Louise, eles decidem roubar o carro do jardineiro e lançarem-se à busca de seus sonhos: ver o mar, casar e voar. A narração de Lima Duarte firma a atmosfera de fantasia do enredo, algo como mais um recurso para justificar cenas cômicas que extrapolam a realidade.

O humor, no caso, é elemento fundamental que concede leveza à abordagem da deficiência. Ariel Goldenberg (Stallone) e Breno Viola (Márcio) protagonizam cenas despretensiosas e hilárias. Aninha (Rita Pokk), por sua vez, é meiga e reage com uma naturalidade igualmente cômica às intervenções nonsense de seus colegas.

Outro destaque é a dupla de policiais que persegue os amigos. Com um estilo escrachado que lembra o dos norte-americanos adoradores de rosquinhas, os personagens de Rui Unas e Deto Montenegro não conseguem sucesso em nada que fazem. O primeiro é um português bigodudo que, em uma das mãos, tem apenas o dedo do meio - o que o faz se identificar com os outros "deficientes", como destaca ele. O segundo é um aspirante a galã que não tira seus óculos estilo aviador e tem TOC em ajeitar um topete que cuida com afinco.

Além do conversível vermelho com o qual os amigos percorrem bonitas paisagens entre Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina - que são realçadas pela cores intensas da cuidadosa fotografia -, outros aparatos vintage aparecem na trama. Aparelhos eletrônicos antigos e um show do Raul Seixas, contrapostos por noticiários e referências atuais - como a fala de filmes como Tropa de Elite e MIB: Homens de Preto - dão a sensação de que o filme é atemporal.

A paixão de Stallone, Márcio e Aninha pelo cinema inspiram todo o percurso do trio. Eles, que chegam a assaltar lugares como lojas de conveniência, mercados e restaurantes, usam máscaras e revivem cenas de filmes. São citadas produções como A Vida é Bela, Pulp Fiction, Cidade de Deus, Psicose, E o Vento Levou, 8 1/2,, entre outras.

"A ideia é mostrar um filme gostoso, divertido. A partir do momento que vocês esquecem que eles têm Down, estamos fazendo uma inclusão", observou o diretor, que fez questão de incluir a sexualidade entre os personagens. Além das constantes cantadas de Márcio em mulheres que cruzam seu caminho, Stallone e Aninha, que são casados na vida real, protagonizam uma cena de sexo, livre de preconceitos e assistencialismo.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade