Primeira sessão de 'Garapa' é recebida com silêncio respeitoso
Terminou a pouco em Berlim a primeira sessão de Garapa, documentário que o diretor José Padilha realizou antes de Tropa de Elite, Urso de Ouro no ano passado, mas lançado apenas agora. O filme, integrante da seção não competitiva Panorama, foi recebido com um silêncio que poderia significar indiferença, mas também respeito. Um espectador, durante a rápida conversa com Padilha que se seguiu à exibição, talvez tenha sintetizado a receptividade. "Esse silêncio ao final do filme é o maior aplauso que você nunca ouvirá".
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É possível imaginar o impacto que o tema e as cenas do documentário geram sobre uma platéia européia como a que estava presente. Garapa é sobre a fome e suas vítimas no nordeste brasileiro, representado por três famílias cearenses, duas delas em vilarejos pobres no sertão e outra nos arredores de Fortaleza. O título diz respeito à mistura de água e açúcar dada às crianças que não dispõem mais do que comer. As perguntas abordaram, principalmente, a situação social daqueles personagens e os projetos de assistência do governo, em especial o programa Fome Zero.
Padilha fez um resumo dos números que acompanham a fome e a miséria no Brasil e disse que seu filme não pretende apontar uma solução para o problema. "Eu não tenho uma resposta ideal do que deve ser feito para acabar com a fome ali, não é esse o dever do realizador e meu cinema não tem essa intenção".
Um dos momentos talvez mais polêmicos, ou melhor, que começa a gerar polêmica, diz respeito à interferência do cineasta durante a filmagem. Entre as freqüentes perguntas que faz aos personagens, Padilha dá um medicamento para um dos entrevistados que sofre de dor de dente. Indagado da razão da atitude, ele assumiu que pode ter ultrapassado a função de um cineasta. "Naquelas circunstâncias, não poderia simplesmente me omitir, eu tinha que ajudar; quando se está ali, vendo aquela situação, é difícil não querer fazer alguma coisa".
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