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Festival de Brasília termina com caos e consagração de três filmes

1 dez 2010 - 13h11
(atualizado às 13h22)
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Orlando Margarido
Direto de Brasília

Com o caos instalado pela divulgação dos premiados por um site de notícias antes do anúncio oficial na cerimônia de encerramento, nesta segunda-feira (29), o 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro entra para a história como aquela edição que se auto-sabotou.

Tudo parecia correr para um fecho adequado a uma seleção ousada, com frescor na curadoria, que optou por novos realizadores, alguns mesmo estreantes. Mas justamente o momento de conclusão dessa tese, a premiação, acabou ofuscado por um acontecimento sem dúvida grave, mas que em nada contribuiu para a proposta fundamental dessas ocasiões, que é o debate e a reflexão sobre o cinema.

Melhor que as decisões do júri oficial, ainda que com alguns exageros e distorções, permitam uma discussão sobre a qualidade do painel exibido em seis dias de competição.

Nesse período, três filmes saltaram à vista de forma unânime para o jovem público habitual do Cine Brasília e a imprensa especializada presente. Foram, no mínimo, dignos de uma reflexão e não por acaso colheram os principais Candangos, o troféu brasiliense.

Embora apenas com um prêmio representativo, Amor?, de João Jardim, foi saudado com a estatueta do júri popular, ou seja, a plateia votante, o que demonstra o diálogo do filme com o espectador a partir de atores famosos em interpretações de verdadeiros sobre a violência entre casais.

Num contraponto interessante para se avaliar, Transeuntes, de Eryk Rocha, foi o preferido da crítica e levou ainda melhor som e ator, o que não é pouco, considerando que Fernando Bezerra é a alma desse filme sobre um solitário aposentado.

Louve-se a coerência do júri em evitar nesse bloco a divisão inconsequente de prêmios, apostando nas principais categorias em O Céu Sobre os Ombros. O trabalho do diretor Sérgio Borges sobre três anônimos de Belo Horizonte em seu cotidiano, num registro que embaralha realidade e ficção, venceu as indicações de direção, filme, prêmio especial do júri para o ótimo elenco, roteiro e montagem.

As restrições começam com a batelada de prêmios a Os Residentes, que se no varejo possam até se justificar pela qualidade das categorias, no atacado acabam por concluir um mérito que no todo o filme não possui.

O longa-metragem do mineiro Tiago Mata Machado depende, como no caso do seu conterrâneo Sérgio Borges, da atuação, e nesse sentido não chega a ser um erro reconhecer Melissa Dullius como melhor atriz. Pelo contrário, a jovem faz por merecer. Mas a questão começa a se complicar com a designação também para atriz coadjuvante de Simone Sales de Alcântara. Mais uma vez, nada contra seu desempenho. Apenas haveria mais sentido em privilegiar outra grande interpretação, essa sim reconhecida amplamente por público e crítica, de Everlyn Barbin, transexual que revela seu dia a dia em O Céu Sobre os Ombros.

A opção em juntar os três não atores do filme sob o amplo termo Prêmio Especial do Júri soou menos contudente. Da mesma forma são as demais premiações de fotografia e trilha sonora, também defensáveis, embora no caso do fotógrafo Aloysio Raulino sugira mais uma homenagem a passagem em Brasília desse talentoso e renomado profissional do que o trabalho em particular.

São demonstrações de certa fraqueza do júri numa aposta definidora, realçada pela lembrança do longa A Alegria, que pouco entusiasmou por aqui, merecendo apenas os troféus de ator coadjuvante e direção de arte.

Se a confusão da noite desta segunda e esses pequenos solavancos da lista final de premiados deixaram a empolgação do festival cair em seu momento derradeiro, ao menos uma instigante proposta sobreviveu, ao se mesclar esse novo e imperfeito jovem cinema com produções veteranas e novamente cultuada.

Foram nomes como Carlos Reichenbach, que abriu o evento com seu irreverente Lilian M - Relatório Confidencial, Glauber Rocha, cujo Leão de Sete Cabeças foi exibido em bela cópia restaurada ainda revelando seu poder de contestação política, e, por fim, Ruy Guerra, representado por outro clássico político, Os Deuses e os Mortos, que demonstrou interessante diálogo entre esses dois últimos realizadores, líderes do Cinema Novo.

O longa 'O Céu Sobre seus Ombros' foi o grande vencedor do festival
O longa 'O Céu Sobre seus Ombros' foi o grande vencedor do festival
Foto: Divulgação
Fonte: Redação Terra
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