Festival de Brasília 2006

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Quinta, 23 de novembro de 2006, 13h57 

Juventude em risco é tema de filmes concorrentes em Brasília

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O primeiro filme da competição oficial do Festival de Brasília do Cinema, Jardim Ângela, de Evaldo Mocarzel, exibido na noite desta quarta-feira, deu a palavra a jovens da periferia mais carente de São Paulo, com um assustador retrato da falta de perspectivas de uma geração.

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Nesta quinta, outro concorrente paulista, Querô, de Carlos Cortez, também se aproxima do universo de uma juventude sob risco de violência, numa adaptação do livro do dramaturgo Plínio Marcos.

Jardim Ângela acompanha os alunos de uma oficina de cinema no bairro da periferia de São Paulo, realizada um ano atrás pela Kinoforum. Enquanto aprendem o manejo de uma câmera digital e preparam filmes que falam de seu cotidiano, revela-se o quanto a miséria e a violência são partes inseparáveis de sua vida.

O personagem mais impressionante desse grupo é Washington Silva. Garoto de 18 anos, exibe no corpo as marcas de suas passagens pelo tráfico e pela prisão. Seu corpo cheio de cicatrizes, que ele mostra diante da câmera para contar sua história, não deixa dúvidas de que sua vida não é igual à de um adolescente qualquer.

Falante, articulado, ele exibe uma desinibição assustadora quando relata assaltos e outros crimes em que se envolveu. Outro garoto da mesma oficina se anima a contar como desistiu de participar de um sequestro num dia em que chovia muito.

A banalização da violência no horizonte desses jovens que, em geral, não têm 20 anos é o que mais salta aos olhos aqui. Jardim Ângela não é o tipo de filme feito para embalar o sono dos justos. Não há como sentir-se bem depois de compartilhar de algumas destas conversas, porque resta delas a inquietante sensação de que essa juventude, a continuar assim, não tem saída.

O contraponto está em outros jovens do grupo, que ensaiam soluções alternativas. Duas garotas debatem com os meninos que já se envolveram no crime - e eles juram que isso é passado, mas sua situação de risco é evidente. Para estas moças, porém, estar no crime é uma questão de escolha, porque acham possível estudar, mesmo que admitam que na escola haja oferta indiscriminada de drogas e vejam todo o tempo pessoas caírem em situações de dependência química e alcoolismo.

A oficina de cinema mesmo é uma dessas portas que se abrem para todos eles, por mais estreita que seja. Para a maioria dos alunos, fazer seus filmes é uma chance de mostrar que em seu bairro não há só miséria e problemas.

Mesmo imperfeito, o documentário transpira este sentimento de urgência. E obriga a olhar para uma realidade que quase sempre só se vê nas ruas em situações de conflito. Por isso mesmo, deve gerar polêmica.

O concorrente desta quinta conta a história de um adolescente (Maxwell Nascimento, ator estreante de 16 anos) que vive sozinho na região portuária de Santos. Decidido a manter sua independência, ele ensaia sua rebelião individual contra os reformatórios, o tráfico de drogas e uma polícia corrupta.

No elenco, Aílton Graça, Ângela Leal, Milhem Cortaz e Maria Luísa Mendonça.

Aplausos para os curtas
Os dois curtas da noite mereceram aplausos entusiasmados, embora se tratasse de duas propostas bastante diferentes.

O primeiro, o poético Noite de Sexta, Manhã de Sábado, de Kleber Mendonça Filho (PE), encena em preto e branco um romance à distância, pelo celular, entre uma jovem que está em Kiev (Bohdana Smirnova) e um rapaz que está em Recife (Pedro Sotero).

Numa linguagem mais convencional, o segundo, o documentário Hibakusha ¿ Herdeiros Atômicos no Brasil, de Maurício Kinoshita (SP), reúne depoimentos de sobreviventes das explosões de Hiroshima e Nagasaki, ao final da 2ª Guerra Mundial, e que reconstruíram suas vidas no Brasil.

Alguns deles reclamam que, pelo fato de terem emigrado, não tiveram direito a compensações financeiras que beneficiaram os sobreviventes que ficaram no Japão.

Reuters
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