Festival de Brasília 2006

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Segunda, 27 de novembro de 2006, 12h46 

Brasília vê esperada contundência em "Baixio das Bestas"

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Baixio das Bestas, o esperado segundo trabalho do pernambucano Cláudio Assis, passou nesta noite de domingo no Festival de Brasília sob a expectativa geral de ser o filme mais contundente da seleção deste ano. Não decepcionou.

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Seu retrato de uma comunidade rural pernambucana, dominada por um avô mercenário que explora sexualmente uma neta de 16 anos, prostitutas maltratadas e jovens de classe média alta de uma violência extrema veio mesmo para incomodar.

Cláudio Assis e seu roteirista habitual, Hilton Lacerda, criam mais uma vez, como no premiado Amarelo Manga, uma visão amarga do Brasil.

Não foi o concorrente mais aclamado pela platéia do festival até agora. Houve aplausos entusiasmados, sim, mas nada que se comparasse à aclamação de Querô, de Carlos Cortez (SP), na quinta-feira, ou mesmo de Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton (MG), no sábado. Uma reação era até de se esperar, pelo choque das imagens às vezes brutais de Baixo das Bestas.

Na noite desta segunda, a última da competição, espera-se um filme bastante diferente. Será exibido o documentário Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá, de Sílvio Tendler. Retrata o trabalho do premiado geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), apresentando suas teses contrárias à globalização. A narração deste documentário é feita pelos atores Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele e Milton Gonçalves.

Na apresentação de seu filme, Cláudio Assis foi bem mais discreto do que o esperado. Primeiramente, não subiu ao palco do Cine Brasília, deixando que a habitual apresentação dos atores e da equipe técnica fosse feita pela produtora do filme, sua mulher, Júlia Moraes (neta do poeta Vinicius de Moraes).

Do grupo, o mais falante foi o ator Matheus Nachtergaele, que disse: "A gente vai nascer com vocês, para vocês, para cima de vocês." Em seguida, puxou um coro do palavrão "m...." da platéia em peso, seguindo uma tradição que vem do teatro, quando isso é feito para dar sorte nas estréias.

Cinco minutos depois, Cláudio Assis finalmente subiu ao palco, não disse nada e beijou um por um os atores e técnicos, quase todos na boca. A quem lhe perguntava, ele dizia que nada tinha a dizer. "Meu filme fala por mim", repetia.

Na história, Maria Auxiliadora (a estreante Mariah Teixeira), de 16 anos, é explorada sexualmente pelo avô (Fernando Teixeira). A menina é objeto de desejo dos homens do lugar. Aliás, ela nunca é mais do que um objeto para os outros, assim como as prostitutas do bordel local (Dira Paes, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes, de O Céu de Suely).

As mulheres, no universo criado aqui, não têm autonomia alguma e ainda são vítimas de brutalidade por parte de jovens integrantes da burguesia local (Matheus Nachtergaele e Caio Blat que, aliás, está no elenco de outro concorrente aqui, Batismo de Sangue).

A fotografia do veterano Walter Carvalho (também co-produtor do filme) é um caso à parte de excelência. Mas no geral Baixio das Bestas não é dado a sutilezas. É áspero e procura atingir o estômago do espectador. A premiação do festival será divulgada na noite de terça-feira.

Curtas
Dos curtas da noite, o que mais se afinou com o espírito de Baixio das Bestas foi Espeto, da diretora gaúcha radicada em São Paulo Sara Silveira. Ela é produtora do concorrente brasileiro a uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro, Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes.

Sara estreou na direção adaptando um conto da atriz Vanessa Goulart (neta de Paulo Goulart e Nicette Bruno). Espeto tem visual e clima surrealistas, contando com humor negro a rivalidade entre dois garçons de uma churrascaria (Cacá Carvalho e Dionísio Neto).

A fotografia do filme é de Carlos Reichenbach, de cujos filmes Sara Silveira é também produtora. O outro curta, Uma questão de tempo, de Catarina Accioly e Gustavo Galvão (DF), este um curta-metragista muito conhecida aqui e cuja empresa tem três curtas selecionados na competição ¿ acompanha a incerteza amorosa de uma jovem fotógrafa (Catarina Accioly) no princípio da primavera.

Reuters
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