Festival do Rio: Live Cinema une duas pontas da história

A mostra Live Cinema foi um dos eventos mais originais do Festival Rio 2008. Trata-se de uma sessão de cinema interativo, onde os diretores são também uma espécie de VJs. Os filmes são separados por cena e a ordem de exibição dessas cenas é montada na hora.

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A sessão estava marcada para a meia-noite desta sexta, no Estação Botafogo, mas houve um certo atraso, especialmente entre o curta e o longa, de modo que a sessão só terminou às 2h50. Mas quem esperou foi premiado com uma experiência interessante.

Aparentemente é uma sessão de cinema normal, com filme projetado na tela. Mas ao lado da tela, está o diretor com uma TV de plasma touch-screen, onde se vê uma imagem redonda com ícones de todas as cenas. Ele escolhe uma delas, toca na tela da TV e a cena surge, imensa na tela do cinema. O diretor pode mudar a ordem das cenas, pode mudar o sentido da história, e dispõe de vários finais diferentes. "Eu já filmei pensando nesse tipo de uso, esse filme não vai ser lançado em DVD. Ele só existe como possibilidade de montagem ao vivo", explica o diretor Bruno Vianna, diretor de Ressaca, filme exibido ontem. "No fundo é como o teatro, cada sessão nunca é a mesma".

Segundo Bruno, ele dispõe ao todo de 120 cenas diferentes, que formam várias possibilidades de começos, meios e fins. De certa forma, lembra o romance O Jogo de Amarelinha, do escritor argentino Julio Cortázar, cujos capítulos podem ser lidos numa ordem aleatória "Ao todo, tenho três horas de imagem, mas eu só uso cerca de 90 minutos", explica ele. A sessão é muito interativa.

"Vou montando de acordo com a reação da platéia. Se sinto que eles gostaram de determinada piada, vou indo por aquele rumo. Mas posso mudar tudo".

Bruno conta que não ficou com medo de subir ao palco para fazer a montagem para uma sala lotada. "Como eu já estava preocupado antes, tratei logo de ensaiar bastante. Mas mesmo que errasse, daria para consertar, pois a mudança na ordem das cenas faz parte do jogo".

A trilha sonora é feita ao vivo, pelo grupo Estúdio ARPX, que vai acompanhando as cenas e mudando a trilha conforme o diretor recria a trama. Não deixa de ser curioso que um programa tão altamente tecnológico uma duas pontas da história do cinema. No tempo do cinema mudo, havia músicos ao vivo no cinema, fazendo a trilha sonora ao vivo.