Festival do Rio 2008

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Festival do Rio 2008

Domingo, 5 de outubro de 2008, 20h07 Atualizada às 20h10

Documentário discute a crítica de cinema e seus efeitos

Marcelo Lyra
Direto do Rio

O Cine Palácio, um dos maiores cinemas do Rio de Janeiro (e que será fechado logo após o Festival do Rio) viveu uma sessão interessante neste sábado. Foi exibido o documentário Crítico, do diretor e crítico de cinema Kléber Mendonça Filho, que discute a questão da crítica de cinema, sua influência junto ao público e as reações dos diretores quando são criticados.

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Cerca de 70% da sala estava ocupada, o que é muito significativo não apenas em se tratando de um documentário com um tema tão específico, mas também porque o cinema tem 800 lugares.

Kléber Mendonça é dono de um currículo que lhe dá credenciais para discutir o assunto. Como cineasta, teve curtas-metragens exibidos em vários festivais internacionais, incluindo Cannes e um deles, Vinil Verde, foi premiado em quase todos os festivais brasileiros que disputou.

Como crítico de cinema, Kléber viaja constantemente para festivais do mundo todo, e nos intervalos de seu trabalho, aproveitou para colher boa parte dos depoimentos de personalidades internacionais, como Gus Van Sant, Tom Twyker, Aki Kaurismaki, Carlos Saura e muitos críticos internacionais de quase todas as publicações importantes no mundo. Dos brasileiros, Walter Salles e Fernando Meirelles, entre outros, e diversos críticos de cinema brasileiros.

Crítico aborda vários aspectos da questão. Faz uma colocação importante: toda crítica é uma autobiografia. Ou seja, quando um crítico escreve sobre um filme, ele está, inconscientemente, falando de si mesmo.

Qualquer pessoa reage a um filme à partir da sua formação cultural, moral e psicológica. Como nenhuma pessoa é igual, as opiniões dos críticos raramente são coincidentes e, muitas vezes podem ser opostas. É por isso que um crítico pode odiar aquele filme que você adorou.

A questão das cotações, como as estrelinhas ou famoso bonequinho do jornal O Globo, foi muito discutida. Não é raro que, depois de uma sessão para a imprensa (que pode ocorrer semanas antes da estréia), distribuidores de filmes procurem o crítico para saber qual a posição que irão colocar o bonequinho. O medo é justificável. "Um bonequinho dormindo influi muito na quantidade de público que vai ver o filme", afirma Jean-Thomas Bernardini, diretor da distribuidora Imovision.

Sobre essa questão, vale um aparte curioso: também sou crítico de cinema e fui entrevistado pelo diretor. Deixei claro minha aversão a essa possibilidade e acho absurdo que outros colegas aceitem isso. No filme há até um que parece se orgulhar.

Faz parte do trabalho do crítico uma ou mais pessoas não assistir a um filme em função de uma crítica. Mas detestaria ser responsável pela redução do número de cópias antes mesmo do lançamento. Quem deve decidir isso é o público, não uma única pessoa, e é importante que o filme tenha ao menos a primeira semana de exibição, para ser testado.

A boa crítica é a que estabelece um diálogo com o filme, não aquela que simplesmente descarta ou elogia. "De uma certa forma, o crítico deve tirar o filme para dançar, dialogar com ele", afirma o crítico e também cineasta Eduardo Valente, editor da Revista Cinética, uma das mais interessantes publicações eletrônicas voltadas para o cinema.

Mas a principal constatação, após assistir ao documentário de Kléber Mendonça é que o público não deve confiar totalmente num crítico. Se o filme é de um diretor com algum talento, aborda um assunto que tenha seu interesse, vá e veja, independentemente da crítica. E depois, releia a crítica, para tirar suas conclusões.

Redação Terra

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