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Diretor de 'Ander' cita preferências e fala sobre homofobia

2 out 2009 - 08h41
(atualizado às 08h51)
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Um silêncio ruidoso se impõe no convívio entre Ander, a mãe e a irmã, que moram juntos numa propriedade localizada numa região rural do País Basco. Os três parecem ter se acomodado na rotina diária. Até que Ander sofre um acidente e José, imigrante peruano, chega para ajudar no trabalho fazendo cair por terra uma estabilidade apenas aparente.

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"Os silêncios constituem a comunicação dos personagens. Os moradores do campo não costumam falar sobre seus sentimentos. Seguem os modelos heterossexual e patriarcal. Talvez por isto tendam a ser mais fechados, conservadores. Eles mudam em ritmo mais lento que a maioria dos habitantes das cidades", observa o diretor Roberto Castón, em entrevista ao Jornal do Brasil, sobre seu primeiro longa-metragem, Ander, em cartaz na Mostra Gay do Festival do Rio.

Laboratório no campo

Formado em filologia e estudos hispânicos na Universidade de Compostela e em direção no Centro de Estudos Cinematográficos, na Catalunha, Castón nunca residiu no campo, mas foi, de alguma maneira, influenciado pelo convívio com os avós, que viveram em povoados. Antes do início das filmagens de Ander, fez um laboratório no interior ao lado dos atores Joxean Bengoetxea, que interpreta o personagem-título, e Christian Esquivel, que faz José.

"Passamos um tempo trabalhando no campo, como os personagens. Os atores também ensaiaram o que aconteceria antes e depois das cenas através de improvisações", conta Castón, que exibiu o filme nos festivais de Berlim e de Montreal.

Em Ander, o cineasta registra uma fase de mudanças na vida de seu protagonista, que vai, aos poucos, perdendo a família biológica e construindo outra, substituta, formada por aqueles com quem mais se identifica. À medida que se envolve com José, Ander é confrontado com um processo de desestruturação. Roberto Castón, porém, surpreende com sua aposta num desfecho otimista.

"Queria um final esperançoso, que apontasse para os novos modelos familiares existentes no mundo de hoje, mesmo correndo o risco de soar um pouco menos real para alguns", confirma o diretor.

Diretor do Festival de Cinema LGBT de Bilbao, Castón evita rotular Ander de filme gay e assume enfrentar problemas de distribuição na Espanha, país onde nasceu, em 1973:

"Estou conseguindo repercussão mais fora do que dentro da Espanha. Nem eu e nem os atores somos exatamente famosos. E produções com temática gay só costumam fazer sucesso se filiadas ao registro da comédia. Diretores como Eloy de la Iglesia e Ventura Pons são exceções."

Roberto Castón menciona filmes como Ocaña ¿ Retrato Intermitente (1978), de Pons, documentário sobre o pintor andaluz José Pérez Ocaña (1947-1983), que enfrentou preconceitos arraigados em prol do direito de se expressar livremente. E não deixa de citar Pedro Almodóvar, cineasta representado no Festival do Rio por Abraços Partidos.

"Almodóvar é um mundo à parte. Fez muito pelo cinema espanhol. Foi um dos primeiros a colocar personagens homossexuais e transexuais em seus filmes, tratando-os sempre com dignidade", reconhece Castón. "Hoje em dia ainda existe muita homofobia. A diferença é que a discriminação está mais oculta".

Cena de 'Ander'
Cena de 'Ander'
Foto: Divulgação
Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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