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Cineasta suíça exibe 'Mamãe Foi ao Salão'

6 out 2009 - 14h14
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Léa Pool registra um processo de desestabilização familiar em Mamãe Foi ao Salão (2008), atração da mostra Panorama do Cinema Mundial do Festival do Rio, a partir da perspectiva da adolescente Elise, que, após testemunhar a partida da mãe, durante a década de 60, protagoniza mudanças na relação com o pai e os irmãos. Mesmo quando não busca correspondências literais com fatos de sua vida, a diretora afirma que não há como se ausentar completamente das histórias que conta, como deixou claro em entrevista.

"Costumo inserir elementos autobiográficos em alguns dos meus trabalhos, o que aconteceu principalmente em Emporte-moi", identifica a cineasta, referindo-se a seu filme de 1999, que voltava-se para o tumultuado processo de crescimento de uma jovem. "Através de meus filmes, falo sobre meus pais e a herança judaica".

Nascida na Suíça, mas radicada no Canadá desde a década de 70, Léa Pool não externa afinidade artística com uma pátria.

"Acho que meus filmes são diferentes da maioria feita no Canadá porque tenho influência europeia. Na verdade, são sempre estrangeiros. Não me incomodo em misturar sotaques", diz Léa, que adotou uma menina chinesa.

Ao longo do tempo, a diretora viajou com frequência para Israel, com o intuito de visitar parentes.

"Fui a primeira vez quando tinha 16 anos. Tento voltar. Pena que é longe. E agora meus tios morreram. Tenho primos, mas não sou tão próxima deles. De qualquer forma, há duas ou três pessoas que adoraria ver por lá", ressalta.

Não por acaso, as personagens femininas costumam ganhar lugar de destaque em suas produções.

"Conheço mais esse universo. E tenho a impressão de que há mais produções sobre o mundo masculino. É só pensarmos em gêneros como ação e western", discorre Léa, que assinou filmes como Assunto de Meninas (2001), sobre ritos de passagem de três adolescentes num internato.

Com poucos diálogos

No início de sua carreira, Marguerite Duras (1914-1996) exerceu influência determinante.

"Ela praticou um cinema poético, sem uma curvatura dramática convencional. Aos poucos, comecei a perceber qual seria meu jeito de filmar", explica a cineasta, que estreou no terreno do longa com La Femme de L'hôtel (1984).

Ao mesmo tempo em que segue na contramão das convenções, a diretora constatou que teria que negociar para conseguir financiamento para seus projetos pessoais.

"Continuo gostando de filmes sem muitos diálogos, que não se limitam a contar uma história. Mas é difícil achar um distribuidor. Não dá para ser completamente livre. Como dependo do investimento de outros, me deparo com pedidos de inclusão de um ator famoso ou de inserção de uma determinada música. Mas os obstáculos me estimulam a ser criativa".

A cineasta já trabalhou com atores famosos e não se arrependeu. Foi o caso de William Hurt, em A Borboleta Azul (2004), filme centrado no desejo de um garoto de 10 anos, com câncer cerebral, de encontrar uma borboleta.

"Disseram que Hurt era difícil, mas não tive problemas", reitera.

No momento, Léa Pool está envolvida com a finalização de Une Belle Mort, versão cinematográfica do livro de Gil Courtemanche.

"O pai sofre do mal de Parkinson e não quer mais viver. A família se divide. Como proporcionar a um parente a melhor maneira de terminar sua vida? O que você faria se estivesse na mesma situação? Não forneço respostas", garante.

Mamãe foi ao Salão
Mamãe foi ao Salão
Foto: Divulgação
Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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