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Remake chinês dos irmãos Coen diverte com personagens circenses

29 set 2010 - 11h18
(atualizado às 11h33)
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Carol Almeida
Direto do Rio

O plano se alonga em largas paisagens e as cenas-fotografias bem poderiam ser emolduradas na parede de sua sala. O cinema de Zhang Yimou é virtuoso em transformar a imagem em mensagem narrativa, mas o costuma fazer sempre com personagens de dilemas profundos, amores épicos. Herói e O Clã das Adagas Voadoras são exemplos maior disso. Com A Woman, A Gun and A Noodle Shop, remake do primeiro filme dos irmãos Coen, Gosto de Sangue (1984), o diretor chinês decide fazer uma autoreferência à sua obra e nada mais sublime do que parodiar a si próprio em uma comédia de largas paisagens, fotografias belíssimas e uma piada sem fim sobre o que há de mais clichê na imagem que o Ocidente sempre fez do chinês.

Numa espécie de sátira ao próprio modelo ocidental de contar histórias de ação, o diretor cria um filme com cheiro de pólvora na China do exército de espadas e flechas. Taxação de impostos, exploração do trabalho e polícias corruptas são apenas algumas das referências ao modus operandi capitalista, e a arma de fogo que abre a narrativa é a representação maior disso.

Tudo começa em algum restaurante de noodles no meio de algum deserto chinês. A mulher do título (Ni Yan) recebe a visita de um excêntrico persa (não seriam todos os persas excêntricos?) que está de passagem para vender novos brinquedinhos da moda. Não, não se trata de um iPad, mas sim de uma arma de fogo, artefato ainda inédito para a China desse tempo remoto. Os demais funcionários da loja, incluindo aí o amante da protagonista, ficam pasmos diante da eficiência daquela arma que provoca morte tão rápida e não imaginam que aquele instrumento vai guiar todo o curso da trama em uma série de engraçadas reviravoltas.

As interpretações são todas intencionalmente acima do tom, como se a ideia fosse mesmo criar uma mise en scène circense no filme. Há até aquele "típico" chinês de cartum americano, com dentes enormes e um sorriso sempre aberto e, claro, há o vilão da história, um homem velho, feio e rico, que violenta sua mulher em troca apenas da sensação de poder fazer o que quer. Diante desse teatro do absurdo, surge o personagem mais complexo do filme, um detetive investigativo (Honglei Sun) dos pequenos crimes chineses. Personagem este que, sim, Quentin Tarantino ou Robert Rodriguez bem gostariam de ter criado antes.

O tal detetive quer apenas uma coisa na vida: dinheiro. E para conseguir ficar rico em pouco tempo, ele tem a seu favor aquele raciocínio estratégico de quem sabe identificar os culpados em uma cena do crime. Mas, como a história das comédias do tipo pastelão nos ensina, nem sempre talento é suficiente para o sucesso. É preciso sorte, esse elemento narrativo tão conveniente para quem precisa criar pontos de virada no roteiro.

O resultado dessa combinação de piadas com os filmes de investigações policiais se desdobra em um filme que é não apenas bonito, mas também divertido de se olhar.

Cena de 'A Woman, a Gun and a Noodle Shop'
Cena de 'A Woman, a Gun and a Noodle Shop'
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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