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Sangue, mulheres e mutilação: 'Machete' é mais do mesmo de Rodriguez

3 out 2010 - 12h50
(atualizado às 16h53)
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Carol Almeida
Direto do Rio

Diretores de cinema que têm assinatura registrada em cartório e na maneira (estética e ética) de contar suas histórias têm nesse reconhecimento de obra autoral o seu ponto mais forte e, simultaneamente, o mais fraco. Afinal de contas, um cineasta cujo trabalho é facilmente identificável pode sempre ser comparado a ele mesmo, para o bem e para o mal. Robert Rodriguez faz parte dessa categoria de diretor e, seu mais novo filme (na direção dividida com Ethan Maniquis), Machete, cuja primeira sessão no Brasil aconteceu no Festival do Rio, sofre com aquilo que vamos chamar de "mais do mesmo". O que não necessariamente é ruim.

Dos créditos iniciais à última cena, há uma sensação constante de déjà vu e, embora o filme traga boas piadas e uma leitura bastante ácida sobre a relação extremista entre americanos e imigrantes mexicanos, Machete apenas reedita algumas das melhores sacadas da filmografia de Rodriguez. Portanto, se você é fã do diretor e não espera nada além daquelas sequências bizarras - mas nem por isso menos hilárias - de sangue-ketchup jorrando para todo lado, mulheres de largos decotes e mortes sem piedade, então o novo trabalho de Rodriguez é satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta.

Em cena, Danny Trejo, o "muso" do diretor. Aliás, Trejo, assim como Jeff Fahey, reprisa aqui os papel que surgiu como participação especial em Planeta Terror (2007). O ator de largas tatuagens e um corpo do tamanho do armário onde você guarda suas roupas entra em cena no papel do personagem-título, um policial mexicano que, logo de cara, se vê traído pelo próprio sistema e assiste à sua mulher tendo sua cabeça cortada por ninguém menos que Steven Seagal, ou melhor, Torrez, o rei de uma rede de narcotráfico que mantém contato direto com americanos envolvidos no lucrativo mercado das drogas.

Desse prefácio de sua história, pulamos alguns anos para ver que, claro, Machete (apelido do sujeito graças à sua habilidade com o facão homônimo) sobreviveu à destruição de sua família e está vagando em terras americanas em um momento particularmente complicado para a população mexicana. Com uma política de imigração cada vez menos tolerante, os "chicos" e "cabróns" precisam sobreviver na clandestinidade, sendo cada vez mais hostilizados por ideias como a do senador de extrema direita John McLaughlin, vivido por um sempre excelente Robert De Niro.

Para não estragar a surpresa, na verdade não tão difícil assim de se deduzir, melhor deixar o núcleo masculino do filme de lado e comentar sobre as personagens femininas do filme. Jessica Alba, Michelle Rodriguez e a atriz que costuma interpretar ela mesma, Lindsay Lohan.

Jessica Alba vive uma agente da polícia de imigração americana que acredita na lei acima de tudo e, apesar de suas origens chicanas, a moça é vista como uma traidora entre os seus. Seu primeiro contato com Machete, no entanto, será o ponto de virada da personagem. Michelle Rodriguez faz o mesmo papel de sempre: a da mulher durona e meio masculina que sabe manejar uma metralhadora melhor do que muito marmanjo. Sua personagem, aliás, é uma divertida referência a Che Guevara.

Quanto à Lindsay Lohan, bem, a moça-problema faz seu mais recente - e cada vez mais escasso - trabalho no cinema como uma jovem egocêntrica que usa a internet para autopromover sua beleza, não tem qualquer noção de perigo e cujo relacionamento com o pai é, no mínimo, perturbador. Qualquer semelhança com a vida real da atriz não é mera coincidência. É piada mesmo. Fica a dúvida se a própria Lindsay entende isso.

Com esses personagens já tão redondinhos para o pastiche, Rodriguez abre mão do inédito e decalca seu próprio trabalho com cenas e tramas que, sim, são grotescamente inteligentes, mas não nos informam nada de novo que possa se passar na cabeça do diretor. O tema Estados Unidos versus México também não é exatamente fresco em sua obra e as inúmeras referências ao cinema dos grandes matadores - a começar pela participação de Seagal no filme - estão mais uma vez lá, polvilhadas em quase todas as cenas.

Sim, não deixa de ser esperto e engraçado, mas a impressão final é que, para Rodriguez, bastou dar um "reload" na página e o filme ficou pronto.

Danny Trejo e Jessica Alba em cena da 'Machete'
Danny Trejo e Jessica Alba em cena da 'Machete'
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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