Passaram-se sete anos desde que Dominic Sena fez Kalifornia. O filme foi feito para virar objeto de culto. Não virou, apesar das presenças de David Duchovny, Juliette Lewis e Brad Pitt (no papel do serial killer). Agora, Sena está de volta com 60 Segundos, o remake de um filme dos anos 70 que fez a cabeça de todos os adolescentes fissurados em velocidade da época - "Gone in 60 Seconds", de (e com) H. B. Halicki. Desta vez não há a mais remota possibilidade de que o filme vá virar cult.
Mas não há como negar que o roteiro, como o do outro filme de Sena, se preocupa em estabelecer relações de causa e efeito, tentando dar substância humana aos personagens. Não consegue, é claro. Tudo é fake - clichezão. Mas lá estão a rivalidade entre os irmãos e a forma como será superada no desfecho, a figura do policial que persegue o ladrão e, no final ambos chegarão a uma relação de interdependência, o casal que retoma o fogo da paixão, etc.,etc. Cage ocupa o centro da ação e a verdade é que está menos insuportável do que nos outros filmes de grande espetáculo que vem protagonizando depois que ganhou o Oscar por Despedida em Las Vegas.
Outro oscarizado, Robert Duvall (de A Força do Carinho), não tem dificuldade para dar certa humanidade ao seu personagem de amigo leal e é a melhor figura do elenco. Para Duvall, é um retorno ao universo dos carros e da alta velocidade pois ele também foi o segundo de Tom Cruise em Dias de Trovão, de Tony Scott. E há Angelina Jolie. O espectador consciente poderia muito bem recorrer ao Procon, tentando processar a produtora Buena Vista, por propaganda enganosa. Vende Angelina Jolie como estrela, mas a vencedora do Oscar (por Garota, Interrompida) é mera coadjuvante. Qual é a surpresa? 60 Segundos inscreve-se na linha dos filmes de machos, que exaltam, aqui por meio de carros, o universo masculino, onde a mulher costuma ser acessório ou ornamento. Cage gosta de dizer que, como herói de ação, é diferente, mais sério e responsável. Não é, e 60 Segundos é outra prova disso. .