Oito Mulheres, de François Ozon, é uma espécie de cruzamento de Agatha Christie com um manual de como chocar a burguesia.
O resultado é uma história divertida e cheia de suspense, na qual oito mulheres lindamente fotografadas e vestidas à perfeição se vêem presas numa casa de campo com um cadáver e muito rancor, paixão e desconfiança.
Ozon enxertou todos os segredos de família deliciosamente pervertidos dos quais conseguiu se lembrar na estrutura básica de uma peça (de Robert Thomas) escrita nos anos 1960 e ambientada na década anterior.
Com um elenco formado por grandes atrizes francesas de diferentes gerações - belas, mas que sabem ser impiedosas -, os números musicais tanto páram a história quando a impelem para diante e, para completar, não falta melodrama intercalado por um humor oculto que irrompe de vez em quando, como o vislumbre de um sutiã realçador debaixo do hábito de uma freira.
Na companhia de sua filha mais velha, Suzon (Virginie Ledoyen), Gaby (Catherine Deneuve) chega à casa de campo isolada onde vive com seu marido, Marcel, e a filha de 16 anos do casal, Catherine (Ludivine Sagnier).
Suzon foi passar o Natal em casa, e Catherine devora livros policiais e de suspense. A fiel empregada, Madame Chanel, (Firmine Richard) vive no terreno da casa, assim como a arrumadeira contratada recentemente, Louise (Emmanuelle Beart), que faz uma interpretação bastante ampla do termo "prestar serviços".
Os negócios de Marcel não andam bem ultimamente, mas ele continua a sustentar o patinho feio que é a irmã solteirona de sua mulher, Augustine (Isabelle Huppert), e sua sogra, Mamy (Danielle Darrieux), presa a uma cadeira de rodas.
Quando Louise leva o café da manhã para Marcel, descobre que ele foi assassinado. Alguém cortou o fio telefônico, o único carro não dá partida, a neve se acumula lá fora e o portão principal está trancado sem chave, de modo que é impossível chamar a polícia. E o(a) assassino(a) só pode estar na própria casa.
Trinta minutos depois do início do filme, a irmã libertina de Marcel, Pierrette (Fanny Ardant), também chega à casa, caminhando no meio da neve. Há mais motivos para o crime do que álibis, e o clima vai ficando tão pesado e cortante quanto o punhal enfiado nas costas de Marcel.