O veterano diretor francês Claude Chabrol, de 77 anos, une-se pela sétima vez com a atriz Isabelle Huppert para realizar A Comédia do Poder.
O filme, que concorreu no Festival de Berlim 2006, conta a história de uma juíza no comando da investigação de um escândalo financeiro, que envolve uma grande companhia e alguns funcionários do alto escalão do governo.
A história inspira-se em fatos reais, ocorridos na França nos anos 1990, tendo de um lado a poderosa empresa petrolífera Elf Aquitaine e, do outro, a juíza Eva Joly. Eva é a inspiração para a protagonista do filme, a juíza Jeanne Charmant-Killman (Huppert).
Figurinha miúda mas de energia exemplar, Jeanne leva a sério seu papel. Conduz interrogatórios com muito rigor e não hesita em mandar prender, algemar e colocar em uma cela comum o poderoso presidente da empresa implicada, Humeau (François Berléand).
O sucesso profissional da juíza ganha as páginas dos jornais, tornando-a queridinha da mídia e celebridade instantânea. Um feito que ela, vinda de uma família humilde, saboreia como a última etapa de sua ascensão social, que começou no casamento com Philippe (Robin Renucci) - herdeiro de um laboratório que deu a Jeanne o sobrenome pomposo. Um marido que agora se ressente do segundo plano que ocupa na vida da mulher.
A irresistível ascensão de Jeanne incomoda alguns figurões, que reclamam com os superiores da incansável juíza. Eles decidem colocar no caminho dela uma assistente - outra juíza (Maryline Canto) -, contando que a rivalidade entre as duas diminua um pouco o ímpeto de Jeanne.
Quando o recurso se mostra ineficaz, porque foi percebido a tempo, o jogo fica mais pesado e assustador para Jeanne.
Em A Comédia do Poder, Chabrol faz um exercício profundo sobre a ambiguidade, o cinismo e a fragilidade da vida. Contando com o talento de Isabelle Huppert, o diretor cria com ela uma heroína sólida.
Através de pequenas vaidades, como as luvinhas e a bolsa vermelhas, e as saborosas conversas que mantém na cozinha com seu sobrinho quarentão (Thomas Chabrol), diretor e atriz mostram o outro lado do coração de Jeanne, que é dura, mas não insensível.