Os filmes sobre violência são quase um gênero no cinema brasileiro contemporâneo. Gênero que rendeu ao menos dois títulos marcantes: Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007). 400 Contra 1 - Uma História do Crime Organizado, do diretor Caco Souza, que estreia nesta sexta-feira (6), poderia facilmente se inserir entre estes "clássicos". Afinal, conta o surgimento da organização criminosa Comando Vermelho, nos anos 70, em plena ditadura militar, no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e mostra como a convivência entre presos políticos e comuns deu no que vemos hoje em dia: bandidos treinados e bem aparelhados a desafiar o poder público.
» Veja mais fotos do filme
» vc repórter: mande fotos e notícias
O mentor da trupe é William da Silva Lima (Daniel de Oliveira, no ar atualmente como o Agnello da novela Passione), assaltante de bancos que numa temporada na Ilha Grande passa a reinvindicar, para ele e para seus companheiros, por regalias iguais às dos presos políticos. O filme se baseia no relato autobiográfico homônimo escrito pelo próprio William.
História semelhante foi contada pela diretora Lúcia Murat no sensível e pouco visto Quase Dois Irmãos (2004). O ponto de vista, no entanto, era o dos militantes de esquerda, que compartilhavam seus ensinamentos de guerrilha com os outros detentos, e a abordagem oscilava entre o drama político e o social. 400 Contra 1 enfoca o lado dos bandidos, que envergando estilosos ternos e óculos escuros assaltavam bancos para garantir o próprio sustento e dos companheiros, além de deixarem uma quantia para a "caixinha" da organização.
Tal enredo é narrado com uma linguagem pop que não dispensa a trilha sonora sacolejante de soul e funk, montagem acelerada e inúmeros flashbacks em meio a alguns banhos de sangue. Tudo para tornar o produto atraente aos olhos do público que hoje em dia lota os multiplexes. Mas os vaivéns no tempo também dificultam o entendimento da trama pelo espectador, que lá pelas tantas já não sabe em que ano está correndo determinada ação.
Os atores (Daniela Escobar, Fabrício Boliveira, Branca Messina e até a cantora Negra Li, numa pequena participação) defendem seus personagens com empenho, mas o mesmo cuidado dedicado à parte visual não se aplica ao roteiro. Os tipos são unidimensionais, sem qualquer motivação para agirem daquela forma, e os diálogos não melhoram em nada a situação.
O esforço em se fazer um policial à brasileira é louvável e compreensível num mercado que ainda produz escassos sucessos de bilheteria e tenta se firmar como indústria, mas parece um desperdício resumir uma trama tão complexa e necessária em apenas alguns tiroteios e mortes em ritmo de videoclipe.