Há uma ironia muito grande no título de A Alegria, segundo longa da dupla Felipe Bragança e Marina Meliande (mas primeiro a chegar ao circuito comercial). Se é proposital ou não, tanto faz. A verdade é que este é um filme sobre o tédio, sobre as coisas que as pessoas - especialmente os jovens - são capazes de inventar quando têm tempo de sobra e procuram romper a rotina.
Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2010, A Alegria é um filme sobre jovens, mas há dúvidas se é para jovens. Os protagonistas parecem viver num mundo à parte - ou talvez tenham vindo de outro, o que é uma explicação bastante plausível ao final da trama.
Eles estão muito mais próximos dos emos sofredores sem causa de Os famosos e os duendes da morte, do que do viés naturalista de As melhores coisas do mundo, Antes que o mundo acabe e até Desenrola.
A oposição entre os jovens retratados nos dois grupos de filmes é nítida. No segundo, é uma juventude de carne e osso, que vemos na porta da escola, no shopping, na praia. Já no primeiro caso, os diretores (Bragança e Marina, de A Alegria; e Esmir Filho, de Os Famosos...) miram numa idealização de um grupo que foge do convencional.
Curiosamente, esses dois filmes têm uma proposta estética mais ousada do que outros três - mas isso também não quer dizer que sejam bem-sucedidos.
Criar personagens que pouco ou nada se assemelhem a pessoas de verdade, a priori, não seria um problema, pelo contrário. Mas, em ambos os longas, as figuras não encontram a densidade necessária para extrapolar sua existência além-filme.
É como se Luiza (Tainá Medina) e sua turma fossem criadas apenas para existir enquanto personagens de ficção durante pouco mais de uma hora e meia. São como pessoas recortadas de uma placa de papelão. Como acreditar em personagens que parecem criados sem passado e sem futuro além da delimitação do começo e final de "A Alegria"?
O esforço dos diretores em criar uma obra cinematográfica com identidade própria e de grande poder visual está impresso em cada cena. E isso, no fim, é um ponto contra, porque não deixa o filme respirar. É meditado demais, calculado demais em todos os seus detalhes, em todo o seu esforço visual e narrativo.
O grupo de jovens do elenco - que inclui, além de Tainá, Flora Dias, Rikle Miranda e Cesar Cardadeiro (que em 2008 esteve excelente como Bentinho, na série "Capitu") - é visivelmente talentoso, mas falta uma direção de atores segura para guiá-los (a maioria é estreante), para ajudá-los a achar seus personagens.
O trânsito a que "A Alegria" se propõe entre o drama realista e a fantasia juvenil nem sempre acontece numa estrada bem asfaltada. Os solavancos dos buracos poderiam fazer parte da viagem, se a paisagem pela janela fosse um tanto mais inspiradora. No entanto, o longa cobra um certo esforço que não é recompensado à altura.