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 Django Livre

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  Foto: Divulgação
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RENATO BEOLCHI

Quando os envelopes contendo os nomes dos vencedores do Oscar forem abertos na noite de 24 de fevereiro, é muito improvável que Quentin Tarantino e seu faroeste Django Livre seja escolhido para o prêmio de Melhor Filme. Lincoln, de Spielberg, e Argo, dirigido por Ben Affleck, são considerados favoritos nas bolsas de apostas. Mesmo assim, Django Livre marca uma mudança no estilo de seu diretor: Django (Jamie Foxx) é o primeiro protagonista de um filme dirigido por Tarantino motivado por amor.

É provavelmente o primeiro (anti-)herói criado por Tarantino que age sob essa prerrogativa desde Clarence Worley (Christian Slater) em Amor À Queima Roupa. No filme dirigido por Tony Scott em 1993, o personagem conhece e se apaixona pela call-girl Alabama Whitman (Patricia Arquette). Por ela, Worley, um atendente de uma locadora de filmes, enfrenta cafetões traficantes e gângsters. Em Django Livre, o personagem de Jamie Foxx encara fazendeiros escravocratas do sul dos EUA alguns anos antes do presidente Abraham Lincoln garantir a liberdade a todos os escravos do país.

No roteiro de Tarantino, Django é encontrado e libertado por Dr. King Schultz (Christoph Waltz), um caçador de recompensas que vê em Django sua principal oportunidade de identificar três irmãos procurados pela justiça e que anos antes haviam caçado, açoitado e separado o então escravo de sua mulher, a escrava Broomhilda (Kerry Washington). Durante a caçada ao trio, Schultz e Django tornam-se amigos e decidem resgatar Broomhilda da fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). Schultz age por princípio e lealdade, Django por amor.

Em sua essência, Django Livre não é um faroeste, mas um filme de Tarantino que se passa no velho-oeste. Está tudo lá: a violência, o humor negro, os diálogos envolventes, as referências e tributos, as participações especiais, a trilha-sonora, e o sangue (falso e de verdade). Tudo o que compõe sua identidade como cineasta.

Sangue falso, sangue real
Em Django Livre, Tarantino encontrou uma nova forma de abordar e representar o sangue nas cenas mais violentas: os disparos atingem os corpos e fazem explodir poças pesadas de sangue; um disparo certeiro à distância pinta de vermelho a plantação de algodão. Não chega a ser inovador, mas é um elemento que Tarantino dá ênfase no filme.

Entretanto, em pelo menos uma cena o sangue é real. Durante a gravação de uma cena, DiCaprio cortou a mão em um caco de vidro ao socar a mesa. A cena ganhou peso especialmente quando o ator esfregou o próprio sangue no rosto de Kerry Washington em uma tortura psicológica contra ela, Django e Schultz.

Tributos e participações
Na história do cinema, Django é o lendário pistoleiro vivido por Franco Nero, que carrega um caixão repleto de armas no filme homônimo de 1966. Pelo menos dois elementos marcantes do filme de Sergio Corbucci foram lembrados por Tarantino: a música-tema do personagem composta por Luis Enríquez Bacalov, e Franco Nero em pessoa, que atua como o italiano Amerigo Vessepi que perde uma aposta sangrenta para DiCaprio em sua primeira cena.

O filme tem ainda participações de Tom Wopat, o Luke Duke da série Os Gatões, e Bruce Dern, de Amargo regresso. Mas dois dos papéis mais marcantes são o de Don Johnson (o Sonny Crockett da série Miami Vice) e Jonah Hill (Moneyball ¿ o Homem que Mudou o Jogo). Os dois fazem parte de um grupo de fazendeiros racistas que se encontram à noite para tentar assassinar Django e Schutz. Ainda que não cite nominalmente, é uma referência direta à criação da Ku Klux Klan, retratados como patetas desorganizados ainda que violentos.

The 'N' word
Na versão americana, a repetição exaustiva da palavra "nigger" - uma forma pejorativa de se referir a afro-decendentes - causou polêmica, reacendeu o debate sobre o politicamente correto e passou a ser tratada como "the 'N' word", ou "aquela palavra que começa com N". Nas legendas em português o termo foi traduzido para a igualmente pejorativa crioulo.

Rap e tiroteio
Além do tema original de Bacalov, a trilha traz mais homenagens. Ennio Morricone, autor de temas musicais para faroestes inesquecíveis como Três Homens em Conflito, Era Uma Vez No Oeste, contribui com quatro canções: duas delas retiradas de Os Abutres Têm Fome, filme de 1970 estrelado por Clint Eastwood e Shirley MacLaine. Mas uma das mais belas canções originais do filme é uma composição de Morricone para o filme.

Ancora Qui serve como tema para uma cena da personagem de Kerry Washington caminhando pela penumbra da mansão da fazenda Candyland. Igualmente inspirada é a música I Got A Name, de Jim Croce, escolhida por Tarantino para uma cena em que Django e Schultz cavalgam pela neve carregando os corpos de homens procurados pela Justiça que serão trocados pela recompensa de sua morte ou captura.

Mas a trilha foge demais do convencional em alguns aspectos quando insere alguns raps em cenas áridas de faroeste e tiroteios. É o caso Unchained (The Payback/Untouchable), um remix entre James Brown e 2Pac e especialmente de 100 Black Coffins de Rick Ross.

Amor x vingança
Django Livre não é um faroeste para puristas. Em um paralelo recente, os irmãos Cohen refilmaram Bravura Indômita, com Jeff Bridges no papel original de John Wayne e deram a Rooster Cogburn um ar muito mais sombrio, como se adicionassem uma dose cavalar de realismo de caráter em um xerife implacável e alcoólatra do século retrasado.

Em seu novo filme, Tarantino não pretende recontar a história do Django de Franco Nero. Ele apenas apropria-se do nome do personagem e da temática sócio-cultural que envolve o faroeste. No mais, trata-se de um filme que leva assinatura única e a grife cinematográfica de seu idealizador. Inovação em Django Livre é ver um personagem de Tarantino motivado por amor, e não por vingança.

<a href="http://www.terra.com.br/cinema/infograficos/oscar/vencedores/iframe.htm">veja o infográfico</a>

 
Ficha Técnica
Titulo original Django Unchained
Gênero Ação
Ano 2012
País de origem Estados Unidos
Distribuidora Sony
Duração 165 min.
Diretor Quentin Tarantino
Elenco Jamie Foxx, Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt
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