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"Fiquei impressionada com a história real", diz diretora de 'Disparos'

23 nov 2012 - 07h54
(atualizado às 08h38)
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Gisele Alquas

Estreia nesta sexta-feira (23) o filme Disparos, da diretora Juliana Reis. O longa conta a história do fotógrafo Henrique (Gustavo Machado) que sai de uma sessão de fotos para um guia gay do Rio de Janeiro e é vítima de assalto por dois motoqueiros armados. No momento exato em que é rendido, os ladrões são atropelados. Henrique recupera sua câmera e vai embora, mas ao retornar para buscar o cartão de memória com as fotos que fez, passa a ser acusado do crime de omissão de socorro, do qual seu agressor é a vitima. Henrique é levado para a DP e vive se confrontando com o inspetor Freire (Caco Ciocler). O filme é baseado em uma história real, vivida por um amigo da diretora.

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"O fato que deu origem ao processo (do roteiro) ocorreu na virada de 2008. Um amigo fotógrafo telefonou em casa e contou o que ele passou na noite anterior, saindo de uma sessão de fotos. Fiquei tão impressionada que, durante um bom tempo, relatava o episódio a cada conversa e em cada roda de amigos...E daí surgiu o roteiro de Disparos que, mais do que baseado em um único fato real, é, na verdade, o mosaico de vários fatos reais ocorridos naquela época", explicou Juliana, em entrevista exclusiva ao Terra.

Disparos também relata o instinto do ser humano, de como ele é capaz de se comportar em determinada situação. Na ocasião, uma pessoa que não se conforma em presenciar um assalto, decidiu salvar a vítima matando o bandido, sem pensar nas consequências. O filme é ambientando na Lapa, onde o fato real aconteceu. "A violência urbana já ultrapassou há muito tempo o espaço da rua e do crime, e já penetrou nas nossas relações sociais e privadas. Isso é muito inquietante, ao meu ver", ressaltou a diretora.

O filme participou do Festival de Cinema do Rio 2012, na Mostra Competitiva da Première Brasil, e venceu três prêmios nas categorias: Melhor Fotografia (Gustavo Hadba), Melhor Montagem (Pedro Bronz e Marília Moraes) e Melhor Ator Coadjuvante (Caco Ciocler). Para Juliana, o filme conquistou esses prêmios porque realmente mereceu. "O Caco, por exemplo, dá um verdadeiro show...Acho que Disparos arrebata por deixar de lado tantos conceitos meio ultrapassados do cinema brasileiro e ambiciona uma relação bastante nova com o seu público. E o júri do festival quis premiar essa audácia", justificou.

Terra - Como surgiu a ideia do roteiro de Disparos? Teve algum fato específico que você se inspirou?

Juliana Reis - O fato real que deu origem ao meu processo ocorreu na virada de 2008. Um amigo fotógrafo telefonou em casa e contou o que ele passou na noite anterior, saindo de uma sessão de fotos. Fiquei tão impressionada que, durante um bom tempo, relatava o episódio a cada conversa e em cada roda de amigos. E fiquei estupefata ao constatar que todo mundo tinha um caso semelhante pra contar. E daí surgiu o roteiro de Disparos que, mais do que baseado em um único fato real, é, na verdade, o mosaico de vários fatos reais ocorridos naquela época.

Terra - O filme é ambientado na Lapa, no Rio de Janeiro. Como foi a escolha do lugar e por que você optou por cenas somente noturnas?

Juliana - A Lapa noturna foi onde ocorreu o fato central da história. E nem pensei em modificar isso.

Terra - Quanto tempo demorou entre produção e estreia?

Juliana - Menos de 3 anos, o que pode ser considerado recorde para um filme de baixo orçamento e feito de forma independente como o Disparos.

Terra - Como chegou na escolha do elenco?

Juliana - Reconheci meu protagonista em Gustavo Machado pela voz na nossa primeira conversa. Ouvi o Henrique nele. Com o Caco (Ciocler) falamos pela primeira vez por skype e foi aquela 'sem-graceza' do som que picotava as nossas palavras e ligação caindo (risos). Lembrando hoje do primeiro momento, parece um presente abençoado pelo acaso.

Terra - O personagem Henrique (Gustavo Machado) - que sofre um assalto, mas o bandido é atropelado no exato momento - apesar de vítima, às vezes sente-se culpado pelo que aconteceu. Ele é acusado de omissão de socorro. Tem momentos em que até o espectador acredita nisso. Como você trabalhou este personagem?

Juliana - Se eu tivesse escrito este personagem bonzinho e gentil, seria fácil demais achá-lo um coitadinho. Minha intenção não era essa e optei por criá-lo um pouco arrogante para que a identificação com ele não acontecesse gratuitamente. Isso ajudou a construir uma narrativa sem 'julgamentos' muito 'maniqueistas', em torno de bons e maus.

Terra - O inspetor Freire, vivido por Caco Ciocler, é um autoritário sarcástico. Percebe-se que às vezes ele acredita na inocência de Henrique, mas parece que quer "aterrorizá-lo". O que você pode falar desse personagem, que é irônico o tempo todo?

Juliana - Acho que nós, brasileiros, somos muito irônicos, e talvez esse seja o jeito que arrumamos de não nos sentirmos tão agredidos pelas violências cotidianas do nosso dia a dia (a da corrupção por exemplo). E acredito que precisamos muito de antagonistas desse peso para podermos nos enxergar de frente e trabalhar nossos próprios demônios.

Terra - Você conseguiu fazer com que várias histórias se entrelaçassem no mesmo contexto. Violência urbana, agressão a homem e mulher; roubo graças ao "boa noite cinderela". Qual a mensagem exata que você gostaria de transmitir ao espectador?

Juliana - Que a violência urbana já ultrapassou há muito tempo o espaço da rua e do crime, e já penetrou nas nossas relações sociais e privadas. Isso é muito inquietante, ao meu ver.

Terra - O filme participou do Festival do Rio deste ano, na Mostra Competitiva da Première Brasil, e venceu 3 prêmios, incluindo de melhor ator coadjuvante para Caco Ciocler. O que significa esses prêmios para você? Por que acha que conquistou esses prêmios com o filme?

Juliana - Acredito que o filme conquistou todos esses prêmios por merecimento (o Caco, por exemplo, dá um verdadeiro show). É isso, apesar de ter sido muito surpreendido por todo esse reconhecimento. Afinal, tantos outros filmes, maiores com gente 'mais importante' estavam presentes na competição. Acho que Disparos arrebata por deixar de lado tantos conceitos meio ultrapassados do cinema brasileiro e ambiciona uma relação bastante nova com o seu público. E o júri do festival quis premiar essa audácia. A ele (júri), meu muito obrigada!

Terra - Você chegou a ser comparada com a vencedora do Oscar Kathryn Biggelow, diretora de Guerra ao Terror. Almeja futuramente chegar à Hollywood?

Juliana - O cinema que eu gostaria de fazer não quer ter nacionalidade e sim interlocução. Mas o que eu quero sim, para o próximo, é poder realizá-lo em condições um pouco menos artesanais. E espero realmente ter alcançado este direito. E é claro que se eu tiver a oportunidade de contar as histórias que me cativam no esquema globalizado das co-produções internacionais não direi não a tal chance.

Terra - Qual seu próximo projeto?

Juliana - Meu próximo filme tem o título provisório de Princesinhas e trata, através de uma história de fantasmas no duplo sentido, de uma mulher assombrada pelo espírito de uma garota de programa da extinta discoteca Help. Obviamente, a história se passa em Copacabana e terá uma grande estrela internacional no papel de um turista sexual.

Terra - Mudando um pouco de assunto, acredita que O Palhaço pode ter chances de vencer o Oscar?

Juliana - Não sei se acredito, pois não entendo muito dessas competições. Mas desejo muita sorte para o filme, para o Selton (Mello, protagonista) e pra nossa querida montadora Marília Moraes.

Em entrevista ao Terra, a diretora Juliana Reis falou sobre a produção de 'Disparos', longa que estreia nesta sexta (23)
Em entrevista ao Terra, a diretora Juliana Reis falou sobre a produção de 'Disparos', longa que estreia nesta sexta (23)
Foto: Juliana Prado / Terra
Fonte: Terra
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