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Força de história real garante interesse ao islandês "Sobrevivente"

16 jul 2014 - 17h35
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Raridade nas telas brasileiras, a produção cinematográfica da Islândia ganha um representante de peso no drama “Sobrevivente”, de Baltasar Kormákur, indicado por esse país para concorrer a uma vaga do Oscar de filme estrangeiro no ano passado.

O título convida a pensar num filme-catástrofe e há realmente um naufrágio por trás da incrível história real do pescador Gulli (Ólafur Darri Ólafsson), que nadou por seis horas nas águas geladíssimas do Atlântico Norte, sendo o único sobrevivente do desastre que mata seus amigos, em 1984.

A maneira sutil e eficaz como o diretor e corroteirista Kormákur (que dirigiu a ação “Dose Dupla”, com Denzel Washington e Mark Wahlberg) constrói essa narrativa começa por um retrato humanista de uma comunidade pesqueira islandesa.

Vizinhos de um vulcão, os moradores convivem com o perigo até sem sair de casa. As memórias de infância de Gulli registram pelo menos uma evacuação total da cidadezinha no meio da noite, por conta de uma erupção iminente.

Gulli é um solitário. Vive com os pais e passa as noites no bar com os amigos, com quem trabalha num barco de pesca. A rotina de todos não passa muito de trabalhar, beber, eventualmente brigar ou separar uma briga, como faz o pacífico e robusto pescador de vez em quando. À moça de seus sonhos ele só tem coragem de dirigir um tímido olhar de longe.

No barco, como sempre, cada um sabe o que fazer. Alguns dormem, ou assistem a vídeos (estamos nos anos 1980), enquanto os outros cuidam do leme e das máquinas. Até a hora em que um cabo fica preso numa rocha sob o mar e eles não conseguem resolver o problema por conta de uma polia enferrujada. O barco vira, lançando os seis tripulantes ao mar gelado.

Com uma precisão quase documental, o filme retrata esta situação angustiante dos homens, tentando resistir sob o fundo do barco virado, irremediavelmente molhados, sem comunicação, sob um vento de 3 graus negativos. A água, a 5 graus, não é muito melhor. A ausência de barcos de socorro por perto sinaliza a urgência de se lançar ao mar, torcendo para escolher a direção certa da terra firme.

A duração das cenas e o foco em Gulli, o sobrevivente, são conduzidos de modo preciso a conseguir a adesão do espectador a este homem simples, gorducho, pacífico, que tenta ajudar todo mundo, mas não consegue. Sua impiedosa solidão em alto-mar, numa água assustadoramente gelada, só é quebrada pela presença ocasional de uma gaivota – que parece curiosa com aquele homem perdido, fora de seu ambiente.

A conversa com a gaivota cria uma distração, que parece impelir Gulli a não se entregar. Ele segue em frente, boia, lembra trechos de sua vida, vividos ao lado daqueles amigos que deixou para trás. Sua sobrevivência parece improvável. Até que enxerga as escarpas de uma ilha.

Resgatado, com vários ferimentos nos pés e nas pernas, o pescador torna-se o centro das atenções da mídia e também dos médicos. É um mistério como ele pode ter sobrevivido tantas horas numa água gelada, condição adversa que em princípio o teria liquidado, por hipotermia, em menos de meia hora.

A situação que se produz a partir desta estranheza, que leva pessoas diferentes a considerar Gulli mentiroso, ou então milagroso, um quase super-homem, cria outra linha de interesse na trama, além da mera história de sobrevivência.

Um dos mais prestigiados atores da Islândia, Ólaffson encarna o personagem com uma autenticidade totalmente convincente, levando o espectador a compartilhar de sua incrível história – e também admirar sua firmeza na recusa a se tornar cobaia para cientistas. Nos créditos finais, imagens do verdadeiro personagem mostram-se um bom recurso para reforçar essa identificação.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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