36º Festival de Gramado

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36º Festival de Gramado

Sábado, 16 de agosto de 2008, 13h59

Público recebe bem estréia de Nachtergaele

Orlando Margarido
Direto de Gramado

Para um filme exigente, barroco, com temas ligados a um misticismo tão fora da realidade dos centros urbanos e, principalmente, um assunto polêmico como o incesto, A Festa da Menina Morta pode considerar sua passagem por Gramado um sucesso.

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Além de aplausos, a sala cheia assim permaneceu até os créditos finais, diferentemente do que aconteceu na exibição no Festival de Cannes, em maio passado, onde muitos espectadores deixaram a sessão. Antes do filme começar, Matheus Nachtergaele, ator que faz sua estréia na direção, lembrou dessa importante primeira prova do filme em território nacional.

"Estou muito ansioso", disse. "É a primeira exibição para o público brasileiro e ainda mais para uma platéia tão exigente como Gramado".

Ao seu lado, o ator gaúcho Paulo José, que quinta-feira foi aplaudido de pé por sua interpretação em Juventude, de Domingos Oliveira, fez questão de contar como se incorporou à produção.

"Eu fui ao alto Rio Negro, onde estava o set para conhecer e ver amigos como Cássia Kiss", lembrou.

"Aí o Matheus perguntou se, já que eu estava ali, não queria fazer um papel no filme, que ele rearranjaria o roteiro; eu, então, disse que na minha vida tinha me especializado em três papéis, de padre, bêbado e louco; então faça um padre bêbado e louco, ele falou".

Trata-se de uma aparição breve, assim como a de Cássia Kiss, a mãe de santinho (Daniel de Oliveira). Ele é um jovem milagreiro que comanda a devoção a uma relíquia em forma de trapo de vestido numa comunidade ribeirinha. Ali, no passado, uma menina desapareceu e só encontrou-se um pedaço de suas vestes.

Cássia ressaltou a honra e satisfação de trabalhar com um grande ator como Nachtergaele. "Foi uma experiência muito enriquecedora, ele é muito sensível".

Oliveira não compareceu mas é responsável em grande parte pela força do filme, com sua personalidade irascível, um tipo mimado com estranha relação com o pai. Houve quem comentasse ao final da sessão que ele parecia atuar possuído pela impressionante figura do místico. O outro longa-metragem da noite, a última antes da revelação dos Kikitos neste sábado, a partir das 21h, foi O Mistério da Estrada de Sintra.

A co-produção entre Portugal e Brasil levou o diretor português Jorge Paixão da Costa a questionar a seleção da fita para o time estrangeiro. "Ele é um filme muito brasileiro, mais do que alguns que estão aqui como nacionais", disse.

A produção conta com o ator brasileiro Flávio Galvão e a atriz Gisele Itié, nascida no México e filha de uma brasileira, com carreira em novelas e séries de TV. A fita investe num gênero raro nas telas por aqui, o policial, o que em parte garante o charme e a curiosidade mas também revela um roteiro truncado e um tanto confuso.

Inspirado em dois contos de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, o filme dá vida aos dois escritores (Ivo Canelas e António Cerdeira) e sua empreitada de escrever um folhetim de mistério, publicado em capítulos num jornal de Lisboa.

A trama, claro, se estrutura aos olhos do espectador e aos poucos se mostra muito similar à realidade de uma condessa (Bruna di Tullio), seu marido, que passa a ameaçar um dos autores, seu primo e um militar inglês apaixonado por ela.

É o tipo de filme bem-comportado, de produção elegante e cara, mas talvez fora de esquadro para um festival em busca do surpreendente. E nesse sentido, o filme de Matheus Nachtergaele reinou mais uma vez na noite.

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