Festival de Gramado termina com premiação de documentário e polêmicas
Chegou ao fim a 37ª edição do Festival de Cinema de Gramado, que este ano premiou o excelente documentário Corumbiara, de Vincent Carelli, um nobre trabalho de jornalismo investigativo, como o melhor filme.
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Carelli levou também o Kikito de melhor diretor, dividindo a menção com Paulo Nascimento, de Em Teu Nome. Ainda que criticada por forçar o sotaque gaúcho, Vivianne Pasmanter, que vive diversas personagens em Quase um Tango..., de Sérgio Silva, foi nomeada melhor atriz. O desconhecido Leonardo Machado (de Em Teu Nome) surpreendeu e tirou o lugar de Dalton Vigh, de Corpos Celestes, e Marcos Palmeira, de Quase um Tango..., como melhor ator.
A premiação começou pontualmente, às 21h. Jornalistas e convidados tiveram que se aglomerar no Palácio dos Festivais para pegar um lugar vago. Com a lotação, muita gente teve que se sentar no chão.
Este ano, Gramado resolveu não entediar os presentes fazendo uma rápida cerimônia. Seguindo a tendência de outras premiações pelo Brasil, os humoristas Rogério Beretta e Oscar Simch - que já trabalharam com o apresentador José Victor Castiel na peça gaúcha Homens de Perto - fizeram esquetes para agradar o público. Não deu muito certo, exceto pela parte em que tiraram sarro do discurso de Xuxa Meneghel, uma das homenageadas no festival. "Eu sou povo. Eu sou povinho. Sou suburbano. Sou careca, mas sou vencedor", brincou ele, recebendo aplausos. Xuxa, na ocasião, disse que "era do povo, loira e vencedora". A declaração virou motivo de piada entre os jornalistas de Gramado e causou muita polêmica nacionalmente.
A dura tarefa de se manter
"Agora os tempos são outros", disse o diretor do festival, Alemir Coletto, no domingo (9), dia da abertura. Ele estava certo. Gramado, que já foi o pioneiro na questão do cinema nacional, vê sua luz ser apagada, aos poucos, por outros eventos, como a Mostra de São Paulo, Festival do Rio e até o Festival de Paulínia, que nos últimos dois anos se ocupou em tomar o seu lugar.
Por conta disso, a seleção de filmes foi mais rigorosa, mas mesmo assim demorou a agradar. Corumbiara e Em Teu Nome acabaram sendo os mais bem falados no boca a boca de Gramado. E não foi uma surpresa quando levaram os prêmios principais.
Devido ao intenso número de turistas que sobem a serra gaúcha por conta do evento - este ano foram 150 mil, segundo dados da organização -, o tapete vermelho é ainda a maior atração do evento, já que os ingressos são caros e limitados.
Mas, para azar dos "caça-celebridades", pouca gente famosa passou por aqui. Márcio Kieling, Vivianne Pasmanter, Rodrigo Phavanello, Fafá de Belem, Simone Spoladore e um punhado de ex-BBBs estiveram no Palácio. Pouco para as luzes e glamour que a cidade tanto deseja.
Xuxa Meneghel
Como não poderia deixar de ser, a homenagem para Xuxa Meneghel, pelo conjunto de sua "carreira" cinematográfica, foi o que mais rendeu críticas. Enquanto uma parte de gaúchos e turistas se acotovelava para ver os cabelos, o ombro, a pele da "rainha dos baixinhos", nos bastidores, esse "bafafá" foi ofuscado por uma série de exigências um tanto desnecessárias. Ninguém poderia chegar perto, muito menos entrevistá-la.
Enquanto os críticos se esforçavam em boicotar a homenagem, os organizadores do festival justificaram a presença da apresentadora por aqui, porque, mesmo com o evento enfraquecido, é preciso "dividir o Cult do comercial". E Xuxa já levou mais de 38 milhões de pessoas ao cinema. Uma pena que seu melhor filme, Amor Estranho Amor, ao lado de longas como Fuscão Preto e Gaúcho Negro, foram deixados de fora de sua filmografia oficial publicada nos guias distribuídos na cidade.
Os organizadores não quiseram responder porque esses longas foram excluídos da filmografia, como se não existissem. Mas a gente já sabe a resposta: Amor Estranho Amor, por exemplo, foi proibido de circular no mercado nacional pela própria apresentadora, que adquiriu os direitos da obra. Talvez pelo seu conteúdo erótico, talvez porque a rainha dos baixinhos aparecia nua para um "baixinho".
Além da homenagem de Xuxa, os diretores Walter Lima Jr. e Ruy Guerra também receberam menções honrosas - um pouco menos destacadas - no festival.
Organização e baixas
Este ano, o Festival de Gramado hospedou seu Centro de Eventos na Expogramado, um pouco longe do aconchegante centro, que se podia circular a pé sem se preocupar com as distâncias.
A organização pecou em alguns pontos. Convidados e jornalistas dividiam lugares nas sessões com aqueles que pagavam. Apesar de alegar o contrário, muitos ingressos de um mesmo setor foram vendidos. Se a sala tivesse um lugar vazio, era muito difícil chegar até lá com os seguranças impedindo o acesso.
No mais, o Palácio dos Festivais era o mesmo. Muita gente, as mesmas pessoas, os rostos conhecidos. No ano que vem, isso deve se repetir. Assim podemos esperar.
