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"Guardo a imagem do riso dele", diz último cineasta a dirigir Walmor Chagas

18 ago 2013 - 02h00
(atualizado às 02h06)
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O ator Walmor Chagas na pele de Samir, colecionador de arte que interpretou em A Coleção Invisível
O ator Walmor Chagas na pele de Samir, colecionador de arte que interpretou em A Coleção Invisível
Foto: Divulgação

"A imagem que guardo do Walmor Chagas é o riso dele. E isso é ainda muito forte", recordou no debate de sábado (17) do longa A Coleção Invisível um dos concorrentes do Festival de Cinema de Gramado, o francês Bernard Attal, último cineasta a dirigir o ator, morto em janeiro, aos 82 anos, homenageado na noite de premiação do evento com o Kikito de Melhor Ator Coadjuvante. "E queria dizer que em nenhum momento ele estava deprimido", enfatizou.

"Eu era muito fã do Walmor, mas foi o último papel que eu escalei. Eu nem sabia se ele ainda trabalhava, porque fazia tempo que não saía nada dele no cinema", continuou o diretor, que rodou o longa na Bahia, em 2011. "Mandei o roteiro para ele, ele gostou, então fui buscá-lo no sítio (onde Walmor morava, no interior de São Paulo), algo bem comparável à viagem de Beto."

O longa mostra um ponto de virada na vida de Beto (Vladimir Brichta), jovem festeiro que vê sua vida sofrer uma reviravolta ao perder cinco amigos em um acidente de carro, um ano após a morte de seu pai. A partir daí, o protagonista resolve deixar a seu negócio de equipamentos de áudio para festas, que tanto o lembra da morte dos amigos, e, se voltando à mãe, descobre o nome de um sujeito com uma coleção de gravuras que pode finalmente fazê-lo enriquecer. E aí começa a viagem.

"Itajuipe (no interior baiano) é uma das poucas cidades que ainda guardam as lembranças do auge das plantações de cacau. Infelizmente, nada do que aparece no filme foi construído por nós", explicou Attal sobre a escolha da miserável cidade, cujos resquícios de um passado abastado, com casarões e grandes propriedades, dão a ela um poder incrível para a composição de todo o pano de fundo da história. 

"O lugar é tão imponente. É quase inimaginável ver aquelas ruínas e pensar como foi próspero, vendo a decadência que ocorreu", enfatizou a atriz Ludmila Rosa, que interpreta a filha de Samir, o velho colecionador vivido por Chagas, e também uma dos personagens locais que se viu indo da riqueza à pobreza em poucos anos, nos quais também perdeu a visão que lhe permitia admirar suas gravuras.

"Quem toma conta daquela região são as mulheres, porque lá os homens muitas vezes não têm mais qualquer vigor. Por terem perdido tudo, ficaram deprimidos, caíram na cachaça, se mataram", disse o diretor, citando a personagem de Rosa, uma jovem linha dura que trabalha nas ainda existentes fazendas de cacau da região e tenta, junto com a mãe (vivida por Clarisse Abujamra), impedir Beto de se aproximar de seu pai devido ao mistério que explica o título, revelado apenas nas cenas finais do longa. E é justamente nestas que o protagonista esquece a busca material, chegando à conclusão que, no fim, ela acabou se tornando pessoal.

"Queria que o filme fosse o começo de uma transformação", explicou Attal. "É uma transformação sutil", corroborou Brichta. "E esse ponto de transformação ocorre no momento das gravuras, a partir do qual personagens nunca mais serão os mesmos. O gesto de Beto mostra um pouco dessa maturidade em sua trajetória", concluiu.

Fonte: Terra
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