inclusão de arquivo javascript

Cinema

 
 

'Tropa de Elite' impressiona quem vive o dia-a-dia nas favelas

20 de setembro de 2007 08h27 atualizado às 08h29

Baile funk, pancadão e o Bope subindo a favela para desfazer a confusão armada num tiroteio entre PMs e traficantes. Ao som do Rap das Armas, as cenas iniciais de Tropa de Elite esquentaram ontem a primeira sessão carioca oficial do filme, que o diretor José Padilha trouxe mixado de Los Angeles para abrir hoje o Festival do Rio 2007.

» Veja fotos do filme
» Diretor de 'Tropa de Elite' diz que recebeu conselhos de traficantes
» Atriz de 'Tropa de Elite' protesta contra versão pirata
» Leia mais notícias de O Dia

O longa mostra a truculência e dificuldades da polícia, a responsabilidade da classe média na guerra que se trava nas favelas e a relação promíscua de algumas ONGs com traficantes. Convidados por O DIA, dois integrantes de ONGs no Vidigal e Rocinha assistiram à sessão, em que os atores André Ramiro e Caio Junqueira, os aspirantes Matias e Neto, também se viram no telão.

"O filme constata o que a gente já sabe: a solução não está na polícia. Está em cultura, saúde e educação", diz Ramiro, que não acredita que a pirataria prejudique o filme - mais de 5 mil DVDs foram apreendidos pela polícia.

"Tropa está fazendo história, porque tem gerado discussões importantes¿, disse ele. "O Bope não é a solução para os problemas, apesar de cumprir seu papel na guerrilha urbana do Rio", complementa Caio Junqueira, que faz um paralelo com a prisão real de mais de 50 PMs de Caxias, acusados de receber propina de traficantes. "É o filme", diz.

Evânio Pereira de Paula, da ONG Horizonte, no Vidigal, gostou do longa, mas viu contradições. "Não existe isso de pedir licença ao tráfico para criar ONG na comunidade, pelo menos quando a iniciativa parte da gente lá de dentro. No Vidigal, as instituições que fazem trabalho social se reúnem para debater as ações na comunidade", conta.

Carlos Costa, da ONG Rocinha XXI, tenta aliviar a classe média. "Ficou pesado mostrar os jovens de classe média que vão à favela fazer trabalho social como pessoas que vão lá para usar droga". E ressalta: "O tráfico não entende que a ONG disputa jovens com ele. Eles acham que se perdem 10 meninos para a gente, têm outros 10 que vão para o lado deles".

As dificuldades com os traficantes são relatadas pelo próprio diretor. Filmar em favela controlada por traficantes foi experiência difícil. "Havia interação com os moradores. Às vezes, os traficantes apareciam e davam conselhos, como "Não é assim que se queima um cadáver", disse Padilha à Reuters.

Numa das cenas mais pesadas, um personagem é queimado em pneus no "microondas". Ele fica incomodado quando encaram o filme como defesa do estilo do Bope no combate a criminosos. "Minha esperança é que as pessoas assistam como se fosse no espelho e digam: 'Temos de mudar essas regras'."

Para Ramiro, que é da Vila Kennedy, a realidade violenta que o longa mostra não é novidade. "Quem sofre mais com a guerra do tráfico é quem está lá na favela. Já perdi amigo em tiroteio, vítima de bala perdida", afirma.

Entre as cenas, impressionou a crise de pânico do capitão Nascimento (Wagner Moura), dividido entre o medo de morrer e querer ver o filho nascer. "O conflito do capitão é importante, porque quando policial mata inocente na favela, os moradores se perguntam se ele não tem filho. O filme mostra que ele tem e que tem dúvidas", diz Evânio. "O filme vai mexer com os jovens. Bandido deixou de ser herói há muito tempo", finaliza Carlos.

O Dia
O Dia - © Copyright Editora O Dia S.A. - Para reprodução deste conteúdo, contate a Agência O Dia.