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Cinema

 
 

Sundance ovaciona filme de Walter Salles

19 de janeiro de 2004 11h22 atualizado às 11h45

Cena de  Os diários da Motocicleta. Foto: FilmFour/Divulgação

Cena de Os diários da Motocicleta
Foto: FilmFour/Divulgação

Diários de Motocicleta, de Walter Salles, teve sua première mundial na noite de sábado no Festival de Sundance. Antes de terminado o filme e de seus créditos serem colocados na tela, os 1200 espectadores que lotavam o Eccles - maior sala de cinema de Park City - já estavam aplaudindo delirantemente, em pé, a história do jovem Ernesto Guevara, o Che (Gael Garcia Bernal), e seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de La Serna) em sua viagem antológica de Buenos Aires a Caracas, em boa parte a bordo da velha moto Norton 500, "La poderosa".

No palco, acompanhado do elenco e após agradecer a ovação de mais de três minutos, Salles afirmou: "Depois de tantas dificuldades para realizar o filme, é muito bom chegar neste momento e dividir com tantos olhos as imagens que procuramos criar."

O diretor lamentou a ausência de Alberto Granado, que hoje vive em Cuba. "Granado tem 83 anos, é um jovem. Eu dedico o filme a ele, que deveria estar aqui, mas não conseguiu o visto de entrada", disse Walter Salles.

Na saída, já fora do cinema e no meio da neve, Salles, Bernal e La Serna abraçavam-se emocionados. Na platéia estavam também o diretor Hector Babenco, o ator Rodrigo Santoro e o médico Dráuzio Varella, que foram prestigiar a exibição de Carandiru no dia anterior, além do cineasta Andrucha Waddington.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, logo após a sessão, Walter Salles afirmou que não esperava "recepção tão calorosa".

JB - Você esperava essa reação aqui em Sundance?
Jamais poderia imaginar uma recepção tão calorosa, depois de tanto tempo envolvido nesse filme. Foram mais de três anos de trabalho intenso, mergulhado totalmente no projeto. A gente até perde um pouco a noção das coisas.

JB - E o que representa para você a volta ao festival, depois de seis anos?
Walter Salles - O prêmio de roteiro ganho por Central do Brasil em 1996 foi fundamental para que o filme tivesse acontecido. Hoje estou muito feliz de estar aqui novamente. É como voltar para casa.

JB - Como foi trabalhar tendo Robert Redford como produtor?
WS - Foi um privilégio. Além de ter me ajudado muito nesses três anos, Redford me proporcionou tudo que um diretor quer: liberdade total e apoio integral. Liberdade principalmente para escolher os atores e para fazer o filme falado em espanhol, o que eu queria desde o início. Esta liberdade também foi muito importante para o rumo que o filme foi adquirindo, com improvisações e tomando a forma quase de um documentário.

JB - Quando isso começou a acontecer ?
WS - Embora na pré-produção tivéssemos percorrido por duas vezes a rota trilhada por Che Guevara e Granado, durante as filmagens, descobrimos inúmeras coisas que não havíamos visto antes. Então, a partir de um certo momento, tentamos fazer com que a câmera simplesmente acompanhasse os personagens, alguns surgidos durante o percurso, como o menino índio em Cuzco. Essa é a parte fascinante e a que melhor expressa o espírito da viagem original.

JB - Qual foi o grande ganho dessa experiência e o que ela mudou em você?
WS - De alguma forma, tudo o que eu fiz até hoje foi em busca da identidade e, pela primeira vez, senti que estava sendo o sujeito do processo. A realidade latino-americana foi me mudando. Da mesma forma que aconteceu com Guevara e Granado, eu - e, acredito, as outras pessoas que participaram do filme - não era o mesmo quando a viagem chegou ao fim.

JB - Sendo brasileiro, como você se sente ao contar esta história?
WS - No fim das fimagens senti cada vez mais orgulho de ser latino-americano.

JB - Você acredita que Diários de Motocicleta vai ter a mesma trajetória de Central do Brasil: Sundance e depois Berlim?
WS - São festivais diferentes. Nós estamos no meio de um processo de decisão. Eu não posso confirmar nada por enquanto.

Redação Terra