Ashton Kutcher mostra lado sério em Sundance

Para Kutcher, o papel do estudante universitário Evan Treborn é uma escolha arriscada, em vista de sua temática: a pedofilia.

Mas isso pode ajudar em muito a modificar a imagem cômica --de sujeito simpático mas pouco inteligente-- que ele ganhou no seriado de TV That '70's Show e filmes como Cara, Cadê Meu Carro?.

Sundance é o principal ponto de encontro do cinema independente nos Estados Unidos, e milhares de pessoas vão a Park City todos os anos para assistir a filmes feitos fora dos grandes estúdios de Hollywood.

O festival começou na quinta-feira e chegará ao auge na cerimônia de premiação que terá lugar no sábado, 24 de janeiro. O encerramento oficial será no domingo.

The Butterfly Effect, que estréia em cinemas dos EUA na sexta-feira, foi feito por dois cineastas de primeira viagem, Eric Bress e J. Mackye Gruber, e traz Kutcher como estudante universitário cuja infância foi traumatizada pelo abuso sexual.

É um dos poucos filmes exibidos em Sundance este ano a contar com o apoio de uma distribuidora, a New Line Cinema, antes mesmo de ser exibido no festival.

Isso aconteceu porque a enorme base de fãs que Kutcher possui é garantia quase certa de atrair público para os cinemas.

A pré-estréia do filme, no sábado à noite, foi repleta de fãs que gritavam, tentando ver Kutcher entrando no recinto com Demi Moore. Foi uma cena comparável à da chegada a Sundance de Jennifer Aniston e Brad Pitt, em 2002, ou de Ben Affleck e Jennifer Lopez no ano passado.

INTELIGENTE OU ESTRANHO?
Kutcher, que estudou engenharia, disse que nos cinco anos passados fazendo 70's Show sempre lhe perguntaram se ele conseguiria escapar da forma cômica. Mas a possibilidade de Hollywood o enxergar como ator de um tipo só nunca o preocupou.

"Ninguém define a gente. Você mesmo se define pelo que você faz, as escolhas que faz e sua capacidade de fazer coisas diferentes", disse o ator.

Kutcher disse que não estava à procura de um filme que fosse sério e dramático ou pudesse mudar o rumo de sua carreira. Ele simplesmente gostou de Butterfly Effect e achou que a história pode fazer as pessoas tomarem consciência das escolhas que fazem na vida.

"Minha grande pergunta era sobre a visão dos diretores", explicou. "Se estavam tentando fazer um thriller estranho, apenas, ou algo mais inteligente do que isso."

A idéia básica por trás de Butterfly Effect é que as decisões que as pessoas tomam criam uma onda de consequências por toda sua vida. No caso de Treborn (Kutcher), o público fica sabendo que ele e seus melhores amigos foram vítimas de um pedófilo quando eram crianças.

Quando Treborn chega à faculdade e está estudando o cérebro humano, descobre sua capacidade de viajar para trás no tempo através de suas memórias e procura retornar ao passado, enfrentar o pedófilo e mudar os acontecimentos de sua vida.

O filme é ao mesmo tempo romance e ficção científica. Com certeza não é nenhum Cara, Cadê Meu Carro?.

Bress e Gruber passaram sete anos tentando conseguir financiamento para o filme, até Kutcher entrar na jogada. O ator contou que a idéia de trabalhar com diretores novatos o preocupou um pouco, então ele se tornou o produtor executivo, além de ator, para poder exercer algum controle sobre o trabalho.

Ele sabe que está se arriscando ao trabalhar num filme que seus fãs vão estranhar, mas diz, com o sorriso típico de uma pessoa confiante: "Quanto maior o risco, maior pode ser a recompensa."