Festival de Sundance festeja Bertolucci e Muccino

O Festival de Sundance anuncia neste sabado à noite os vencedores de sua 20ª edição. Garden State, de Zach Braff, continua como o favorito. Também está no páreo The Woodsman, de Nicole Kassell, estrelado por Kevin Bacon e Napoleon Dynamite, uma das comédias mais engraçadas já exibidas no festival. As apostas para documentários estão indefinidas, principalmente dada a boa qualidade dos filmes. No entanto, o público tem colocado suas fichas em I Like Killing Flies, de Matt Mahurin, e A Place of Our Own, de Stanley Nelson.

Enquanto isso, o festival, cujo foco costuma ser as mostras competitivas dos jovens cineastas, deu destaque para dois diretores italianos, o veterano Bernardo Bertolucci e Gabriele Muccino. Seus filmes, exibidos em mostras paralelas, fazem parte de uma estratégia que o festival vem adotando, conforme definiu Geoffrey Gilmore, diretor do Sundance."Queremos mostrar que grandes mestres do cinema tambem têm espaço no mundo independente", afirmou.

O consagrado Bertolucci apresentou Os Sonhadores (I Sognatori). Embora mais acostumado a ver filmes de jovens em início de carreira, o público lotou a sessão première do filme. Mas não apenas aqui. Os Sonhadores tem lotado também os cinemas parisienses, onde está em cartaz em várias salas da capital francesa.

Baseado no romance Os Inocentes Sagrados (The Holy Innocents), de Gilbert Adair, e tendo como pano de fundo as revoltas estudantis de maio de 1968 nas ruas de Paris, o filme segue Matthew (Michael Pitt), um jovem americano que, no meio do tumulto, começa uma amizade com o casal de irmãos franceses Isabelle e Theo. Impressionado pela beleza de Isabelle, Matthew rapidamente se vê preso num triângulo de sedução que vai levá-lo a uma aventura amorosa altamente transgressora. Entre brincadeiras aparentemente inocentes, os jovens irmãos criam jogos eróticos baseados em seus filmes prediletos.

Os Sonhadores remete a aspectos de O Último Tango em Paris, no qual o desejo e os conflitos pessoais e de classe dividem o núcleo da história. Ao lado do triângulo amoroso, a trama inclui debates sobre questões ligadas à cultura, à arte e ao cinema. O incesto ressurge como um pesadelo recorrente na obra de Bertolucci.

Gabriele Muccino, por sua vez, apresentou Remember Me, que teve a mesma acolhida calorosa de O Último Beijo, que recebeu em 2002 do público indie o prêmio de audiência, um dos mais importantes do evento. Remember Me narra pausadamente a desintegração da família Ristuccia, que até então vive uma vida rotineira e confortável, típica de uma classe média padrão, composta de pai, mãe e um casal de filhos.

O casamento de Carlo (Fabrizio Bentivoglio) e Giulia (Laura Morante) caminha para um impasse quando eles começam a despertar para sonhos esquecidos e não concretizados. Ele, escritor frustrado, e agora um editor pouco reconhecido, retoma um caso de amor do passado com Alessia (Monica Belluci). Giulia tenta reiniciar a carreira de atriz. Os dois têm uma enorme dificuldade para se comunicar, não só entre si, mas também com os filhos, a egoísta Valentina (Nicoletta Romanoff) e Paolo, um jovem sonhador e confuso, vivido por Silvio Muccino, irmão do diretor.

Num estilo narrativo realizado sempre com um pulo à frente, Muccino encontra o timing certo para revelar a complexidade, as contradições e a deliciosa ironia das pessoas.