Ao ser perguntado como a Berlinale se posiciona em relação aos festivais de Cannes e de Veneza, Kosslick estabeleceu uma diferença.
"Cannes é o festival mais famoso, Veneza o mais antigo, o nosso é o mais vanguardista. Cannes e Veneza se parecem, nossa diferença é que milhares de espectadores assistem aos filmes. Nós somos um festival para o público", respondeu.
"No entanto, para esta edição demos azar. Três filmes que havíamos selecionado preferiram ir para Cannes, um deles (Diários da motocicleta, do brasileiro Walter Salles) no último momento, o que nos obrigou a refazer a seleção. Foi um pouco desagradável. Porém, isto demonstra que a seleção da Berlinale tem um nível tão bom que os filmes também podem ser exibidos em Cannes", acrescentou.
Em seguida passou a falar sobre a edição que começa essa semana. "Nos concentramos na África e na América Latina. Celebraremos especialmente os 10 anos do fim do apartheid na África do Sul e teremos uma programação especial de filmes nigerianos", afirmou ao comentar os principais elementos da Berlinale este ano.
"Na América Latina, 44% da população vive na pobreza. É hora de ver o que acontece na região. Assistindo aos corajosos filmes dos diretores latino-americanos, não olharemos esses países da mesma maneira", declarou Kosslick.
O diretor do festival reconheceu que, apesar da atualidade da ampliação da União Européia, existem poucos filmes do leste europeu na competição oficial. "Não encontramos as opções que esperávamos, nem a qualidade. Não podemos escolher filmes apenas por motivos geopolíticas", acrescentou.
Ao ser perguntado se a Berlinale é um festival político, Kosslick foi categórico: "Evidentemente. Escolher a América Latina e a África como momentos principais é claramente uma tomada de posição política. Os filmes selecionados nos fazem pensar sobre as mudanças do mundo. Se trata de política sem dúvida, mas num sentido amplo, vista a partir do enfoque nas relações pessoais, nas conseqüências que as mudanças da sociedade têm sobre a vida das pessoas".
"Enquanto eu estiver aqui, a Berlinale continuará sendo política. Essa sempre foi a tradição, antes do Muro, durante o Muro e depois", ressaltou.
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